D. Matthew Man-Oso Ndagoso denunciou que «sete padres foram raptados, dois mortos e um está em cativeiro», nos últimos três anos
Lisboa, 14 jun 2022 (Ecclesia) – O arcebispo de Kaduna, no centro da Nigéria, disse que os cristãos podem sentir-se inseguros por todo o país, “a perseguição religiosa no norte é sistémica”, e o governo tem responsabilidade nessa situação que vivem a nível nacional.
“Para se praticar a religião livremente, deve ser possível pregar em qualquer lugar. E isso não é possível no norte. Não posso construir uma igreja mesmo comprando terrenos, não se pode obter uma autorização de ocupação e, portanto, não se pode construir”, explicou D. Matthew Ndagoso, numa conferência online promovida pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) Internacional.
Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, pelo secretariado português da AIS, o arcebispo de Kaduna afirma que o governo nigeriano “falhou completamente” e alerta que é a “ausência de um bom governo” o motivo para a situação atual.
Segundo o arcebispo de Kaduna, em muitos Estados as autoridades “não permitem o ensino do cristianismo”, mas o Governo “emprega e paga aos imãs para lecionarem nas escolas”, e “todos os anos o orçamento conta com dinheiro para construir mesquitas”.
“Queremos que o nosso governo seja responsabilizado, que as pessoas sejam tratadas de forma igual”, referiu.
No país mais populoso de África, D. Matthew Ndagoso alerta para os “sintomas de injustiça, da corrupção que está no sistema”, e denuncia o banditismo, os ataques do grupo jihadista Boko Haram, os raptos para exigir resgates, a violência dos pastores nómadas Fulani
Para a fundação pontifícia, as palavras de D. Matthew Ndagoso ganharam um “sentido especial” depois do ataque de homens armados à igreja de São Francisco de Xavier, em Owo, onde morreram “pelo menos 40 pessoas”, no dia 5 de junho, Domingo de Pentecostes no calendário católico; O Papa condenou o ataque “horrendo” e a violência “indescritível”.
“Ninguém está seguro em casa, na estrada, nem mesmo no ar! Há dois meses, bandidos atacaram um avião na pista de Kaduna, e durante quase dois meses não tivemos voos”, indicou ainda ao prelado.
D. Matthew Ndagoso explicou que não pode fazer “visitas pastorais”, os padres não podem ir às aldeias e celebrar Missas, e as pessoas “não podem ir às suas quintas, e por isso não podem alimentar-se”, e também “estão a ficar também carentes dos sacramentos”.
“Nos últimos três anos, sete dos meus padres foram raptados, dois foram mortos e um está em cativeiro há três anos e dois meses. Quatro foram, entretanto, libertados. Em 50 das minhas paróquias, os padres não podem ficar nas suas reitorias, porque são um alvo, são vistos como uma fonte fácil de dinheiro pelo resgate”, desenvolveu.
A Fundação pontifícia AIS explica que “está profundamente empenhada no apoio aos cristãos na Nigéria”, e todos os anos são desenvolvidos projetos desde a construção ou reconstrução de infraestruturas da Igreja como ao apoio material para sacerdotes, seminaristas e comunidades religiosas e outros agentes pastorais.
CB