Nicarágua: Vaticano deixa de ter representação diplomática e fecha embaixada

Governo de Daniel Ortega pediu saída de representante do Papa, após declarações de Francisco, que criticou «desequilíbrio» do governante e «ditadura grosseira» no país

Foto: Str/EPA

Lisboa, 22 mar 2023 (Ecclesia) – A embaixada da Santa Sé na Nicarágua foi encerrada com a saída do representante diplomático, na sequência de o Papa Francisco ter afirmado o “desequilíbrio” de Daniel Ortega que há um ano pediu a saída do núncio apostólico.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) dá conta que “monsenhor Marcel Diouf, encarregado de negócios da Nunciatura em Manágua, deixou a Nicarágua na passada sexta-feira, dia 17 de Março, e mudou-se para a Costa Rica”, segundo comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA.

“O encerramento da sede diplomática do Vaticano foi pedida pelo governo nicaraguense sete dias antes, a 10 de Março, na sequência de declarações do Papa Francisco a um ‘site’ argentino, que numa entrevista fala do «desequilíbrio da pessoa que lidera» a Nicarágua, referindo-se a Daniel Ortega, e descreve o país como sendo uma «ditadura grosseira», comparando-a à tirania soviética de 1917 e à de Hitler, em 1935”, acrescenta.

Com a saída do representante do Vaticano na Nicarágua, ”o edifício da Nunciatura Apostólica e os seus bens e arquivos” são confiados “à representação italiana, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”.

“O fecho da embaixada é o culminar do afastamento nas relações entre os dois Estados, depois de há um ano, a 12 de Março de 2022, o núncio apostólico, D. Waldemar Stanisław Sommertag, ter sido expulso do país”, recorda a AIS.

Um relatório das Nações Unidas, apresentado no início de março, indica a degradação “dos direitos humanos na Nicarágua”, e recorda a situação de D. Rolando Álvarez, condenado entretanto a 26 anos e quatro meses de prisão, “acusado de traição à pátria, destituído da sua nacionalidade nicaraguense e privado de direitos políticos para toda a vida”.

A responsável das Nações Unidas, Ilze Brands Kehris, Brands Kehris, disse que a sentença contra o Bispo foi proferida “sem julgamento prévio”, e aborda outras situações como a deportação “a 9 de fevereiro de 222 pessoas”, “a condenação, a 15 de Fevereiro, de mais 94 pessoas por «traição à pátria» e “muitos outros casos, um que inclui também um padre nicaraguense proibido de regressar ao seu país”.

Recentemente, o governo de Daniel Ortega impediu a realização de procissões durante a Quaresma e Semana Santa, e forçou o encerramento de duas universidades católicas, “a de São João Paulo II e a Autónoma Cristã da Nicarágua”, assim como a Fundação Mariana de combate ao Cancro e dois escritórios da Caritas, confirma a AIS.

Perante esta situação, D. Silvio José Báez, bispo auxiliar de Manágua que vive exilado nos Estados Unidos desde 2019, reagiu afirmando que, apesar das proibições, a luta pela “verdade e pela justiça” vão continuar.

“Não poderão impedir que o Crucificado revele a Sua vitória em cada ato de solidariedade, em cada luta pela verdade e pela justiça e em cada esforço para defender a dignidade das pessoas”, escreveu nas redes sociais.

As religiosas da Congregação das Irmãs Trapistas da Nicarágua deixaram “voluntariamente” o país, de acordo com informação prestada pelas irmãs na sua página oficial do Facebook, assegurando que a partir do panamá, “estarão unidas em oração”.

A Fundação AIS dá conta que a irmãs Trapistas são apenas mais uma congregação “vítima das medidas repressivas tomadas pelo governo de Daniel Ortega contra a Igreja Católica” e recorda que também as Missionárias da Caridade, assim como de outros religiosos e sacerdotes deixaram o país, situação que levou ao encerramento do canal de televisão da Conferência Episcopal e de outras seis estações de rádio católicas.

LS

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Agência ECCLESIA

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