Natureza e Ética: desafios constantes aos homem

Natureza e ética. O que determina o quê no comportamento humano. O cérebro, o meio, a genética, a psicologia? Todas. Poderá ser uma conclusão, apesar de muito simplista. Sobre esta questão se debruçaram especialistas numa Conferência Nacional que juntou, na Universidade Católica, em Lisboa, demais interessados em querer aprofundar até que ponto controlam de facto a sua linguagem, as suas opções. Alexandre Castro Caldas, numa palestra sobre “Como conceber, hoje, a palavra e a fala” defendeu que a linguagem é um dos métodos de comunicação mais divulgados entre as pessoas. Há no entanto “outras formas de comunicação, igualmente importantes” e por isso advertiu para a necessidade de se “começar a compreender melhor”. Mas tudo o que o ser humano tem são formas de comunicação. Mímica, entoação melódica, o próprio significado que se relaciona com a linguagem, “pois comunicamos com tudo, muitas vezes com sentidos ocultos, com metáforas que não são exactamente as palavras”, e esta actividade regista-se em zonas do cérebro, actualmente compreensíveis, e possíveis de identificar. É ainda difícil encontrar explicação para se saber se “o cérebro funciona porque há qualquer coisa que o faz funcionar, ou se é ele próprio que está a produzir o comportamento”. Alfredo Dinis aponta que deverá haver sempre condições de possibilidade para que o ser humano possa optar. Nesse sentido “o cérebro não irá matar a liberdade”, admite. A ética da neuro ciencia permite discutir se é ético e legítimo fazer determinada intervenção neuronal para curar determinada doença ou para melhorar uma competência da pessoa, a inteligência ou a memória por exemplo. “Se dissermos que todas as ciências são automáticas e dependem do automatismo neuronal, então matamos a liberdade”. Mas a liberdade “não é algo abstracto mas algo que se vive nas relações inter pessoais e na sociedade”, Alfredo Dinis, entende as escolhas como algo que torne o homem mais humano. “O melhorar a sua inteligência não o torna mais humano”, aponta. E indica que se é a liberdade a tornar o homem mais humano, “as escolhas éticas da neuro ciência terão que ir nesta linha”, no sentido de melhorar as suas relações com os outros seres humanos, de se descentrar de si e não querer auto afirmar-se numa relação de domínio perante os outros, “porque isto não é liberdade”. A maioria das reacções do nosso corpo “é inconsciente”, indica. Alfredo Dinis. Não há consciência da circulação sanguínea, mas ter essa inconsciência permite haver espaço para ser livre, pois “não teríamos tempo nem energia para ter consciência de tudo o que acontece em cada milímetro do nosso corpo”. Nesse sentido, o ser humano precisa das condições de possibilidade, “algumas conscientes outras inconscientes, para poder tomar as decisões conscientes, livres e que tomam o sentido que escolhemos”. Helena Borba que se centrou na palestra sobre a articulação da estrutura genética e o comportamento humano, defende que as pessoas não se resumem à genética ou a qualquer órgão. “As pessoas são constituídas por genes, mas a pessoa é um diálogo permanente entre os seus genes e as suas circunstâncias”, sublinha. A genética, nesse sentido, é apenas um contributo concreto na análise do comportamento humano. José Manuel Curado denuncia o perigo do ser humano perder a sua autonomia, posi há técnicas que “estão a mexer com a natureza humana, coisa que há uns tempos considerávamos impossível”, afirma, dando o exemplo da biometria. Os bilhetes de identidade têm um indicador de biometria, que é a impressão digital. “No futuro, em passaportes, em gares, em aeroportos, em portos marítimos vamos ter indicadores biométricos que nos podem roubar a nossa individualidade, a nossa subjectividade”, aponta. José Manuel Curado retoma a caracterização humana como um todo. “Somos uma pessoa, que deve ser responsabilizada pelos seus actos inteiros”, indica. Nesse sentido, é redutor atribuir uma responsabilidade aos genes, ou ao meio social, quando ele é fruto do todo que é o ser humano. “Seria pouco ético se procurássemos apenas uma razão”. Daniel Serrão, presente na Conferência afirma que não haverá conclusões definitivas sobre a responsabilidade da pessoa humana nos seus comportamentos. “Estamos sim, a construir um diálogo entre a Genética e as Neuro ciencias”. O problema que se põe é da auto consciência. “Adquirindo essa auto conciência, tenho responsabilidade para decidir eticamente”. E finaliza dizendo que “na fase actual de reflexão sobre esta matéria, espírito é o nome que sempre se deu ao que hoje designamos por auto consciência ou consciência de mim próprio. Descubro, o meu espírito quando sou capaz de me pronunciar na primeira pessoa”.

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