Padre Nuno Branco mostrou o nascimento de Jesus onde todas as pessoas são chamadas a «ser figurantes» e que transforma a «hostilidade em hospitalidade»
Lisboa, 25 dez 2020 (Ecclesia) – O padre Nuno Branco, arquiteto e sacerdote jesuíta, aceitou o desafio da Agência ECCLESIA e desenhou e descreveu um presépio onde todas as pessoas são chamadas a “ser figurantes”, ninguém se sente “a destoar” e transforma a “hostilidade em hospitalidade”.
“O facto de Deus ser humilde, se fazer pobre, faz com que ninguém se sinta a destoar no presépio. Ninguém se sente a mais no presépio”, afirmou.
O padre Nuno Branco é arquiteto de formação e afirma que sente “a necessidade de ver, tocar, dar forma, dar corpo” ao que é transcendente e as “aguarelas e as tintas são uma procura para ver até onde a Graça se deixa apanhar”.
O carta apostólica “Sinal Admirável”, escrita pelo Papa Francisco em 2019 sobre o presépio, foi o ponto de partida para uma representação do nascimento de Jesus que desafia a transformar a “hostilidade em hospitalidade”.
“Como me coloco diante do outro, o inesperado? O presépio ajuda-nos a converter a hostilidade em hospitalidade. Ver o que é hostil e torná-lo hóspede”, disse o padre Nuno Branco, quando criava a representação do nascimento de Jesus, hoje, com cores e traços.
“O desenho vai-nos obrigar a lutar por ele. Isso acontece muito e isso é também uma boa notícia”, considerou.
O desenho do sinal admirável do presépio começou com “umas manchas”, uma luta entre tintas, entre humanidade e divindade, o azul e o vermelho, para concluir que, com o nascimento de Jesus, se “esbate essa fronteira”, surgindo uma terceira cor que “não sabe onde termina o vermelho e começa o azul”.
“O sinal admirável é isto: é deixar-nos sem saber onde começa a parte humana e a parte divina de Deus. Não há uma divisão. Não há fronteira, o profano e o religioso encontraram-se no presépio”, sublinhou.
No desenho do presépio, o padre Nuno Branco acentuou os “hábitos e costumes da vida quotidiana”, prolongando o “lado de cá das coisas”, numa humanidade que “não é exemplar”, tem uma “dimensão muito tortuosa”, uma “cartografia” com rugosidade, o lado “áspero da vida”.
“Este Natal em particular esta rugosidade acentuou-se. Como se víssemos com maior nitidez os vincos da nossa vida, a costuras, as arestas. E isso não compromete em nada o Natal”, sustentou o sacerdote jesuíta.
Para o padre Nuno Branco, “o presépio devia-se desmascarar” e “ser mais cru”, convoca todos a “ser figurantes” e inclui todos os elementos da terra e da vida quotidiana “para dizer que nada escapa ao amor de Deus”.
A representação do presépio, da autoria do padre Nuno Branco, é apresentada este Dia de Natal no programa Ecclesia, na RTP2, pelas 15h15.
PR