Natal: Oficina Leitão & Irmão criou «Grande Presépio Popular», com mais de 60 peças do nascimento de Jesus

Jorge Leitão explica que presépio, construído entre 2017 e 2023, nasce nos «modeladores tradicionais» em Barcelos e chega a «um rapaz atual, com um carrapito na ponta do cabelo»

Lisboa, 19 dez 2023 (Ecclesia) – A portuguesa ‘Leitão & Irmão – Joalheiros’ criou um Grande Presépio Popular, tem 10 conjuntos e mais de 60 peças, começa no nascimento de Jesus, tem cenários do dia-a-dia, das profissões e vivências, e termina com um jovem de mochila e telemóvel.

“São as 60 e poucas peças do presépio, depois foi feita uma última que não é vendida, é oferecida a quem tem o presépio todo. É um rapaz atual, com um carrapito na ponta do cabelo,  uma mochila às costas, porque anda sempre a passear de um lado para o outro, com umas calças largas com uns bolsos, a olhar para um telemóvel”, indicou Jorge Leitão, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O proprietário da bicentenária ‘Leitão & Irmão – Joalheiros’, em Lisboa, explicou que esta peça surgiu no Grande Presépio Popular, que é inspirado nas representações tradicionais do presépio em barro de Barcelos, porque “a criança nasceu para todos”.

O ‘Grande Presépio Popular’, da oficina joalharia bicentenária, tem 10 conjuntos com várias peças, começa por explicar Jorge Leitão, salientando que o primeiro “é naturalmente o nascimento”, que inclui a cabana e a estrela, o Menino Jesus, Nossa Senhora, São José, o burro e a vaca, segue-se a adoração, com “os três reis magos” e os pastores com os seus animais.

O terceiro conjunto é o rio, tem uma ponte, um pescador com a cana e um peixe, “uma menina a lavar no rio”, com a irmã que leva a água para beber, o quarto cenário é “a povoação”, que se desenvolve “à roda do poço”, com um “vendedor de água, que representa o aldrabão, porque está a vender uma coisa de fácil acesso”, e três meninas, que vendem “ovos, ovos, leite e fruta, e um cãozinho”.

No quinto conjunto está representado “o pão, o pão nosso de cada dia”, – com o moinho, “a ceifeira com o trigo na cabeça”, um rapaz que limpa o campo para que “uma menina o possa lavrar, já igualitário”, e a filha do moleiro -, e depois apresentam o cenário da pesca, que “é de grande importância porque tudo isto se desenvolveu à roda do Mediterrâneo”, com um barco, “copiado de uma chata dos pescadores de Cascais”, a menina que arranja as redes, um pescador e “um burro com albardas cheias de peixe”.

Jorge Leitão indica que os cenários seguintes são dedicados a profissões, com o marceneiro, que “está a fazer um cavalinho de baloiço para o menino Jesus”, o ferreiro, o tosquiador, o lenhador e o condutor de camelos; segue-se a taberna, “onde se alugava quartos para dormir, onde se almoçava”, com o taberneiro, e, no nono cenário, um “acampamento, fora da cidade, onde ficou o camelo”, e como “tem sempre uma certa alegria”, com músicos e uma fogueira.

“O presépio acaba com uma certa poesia, num tema que nós chamamos ‘terra’, começou num outro tema que é do céu: É uma oliveira, que dá os frutos da terra, um galo e duas galinhas, uma sopeira com a panela, e dois cestos cheios de legumes, de frutas, de azeitonas, mostrando a riqueza que a terra dá”, realçou o entrevistado.

Jorge Leitão explica que o ‘Grande Presépio Popular’ nasceu no contexto do Centenário das Aparições de Nossa Senhora aos Pastorinhos na Cova da Iria (1917-2017), a partir do convite do Papa Bento XVI na Missa que presidiu na Praça do Comércio, em 2010, quando “exortou os portugueses a pensar no centenário”.

“Foi uma altura generosa para a casa e entendi que tinha que o retribuir, de alguma forma pensámos no presépio, e encontramos a história linda do presépio, que faz agora 800 anos, ter sido retirado da exclusividade do templo, por São Francisco de Assis, e ter sido feito como obra popular para todos, na rua, acessível ao povo, por isso presépio popular. E fomos à procura dessa história, que também tem um histórico nosso, português, do presépio que se comprava nas drogarias, e que eram umas figuras muito coloridas, feitas em Barcelos”, desenvolveu.

A bicentenária ‘Leitão & Irmão’ foi a Barcelos e encontraram “um grande modelador” que propôs fazer 50 figuras, “uma de dois em dois meses”, e o projeto iniciado em 2017, “seis anos depois, finalmente está pronto”.

Segundo Jorge Leitão, até ao produto final, cada peça faz um “percurso da modelação tradicional”, nos modeladores de Barcelos, “para a última tecnologia”, porque a peça original é em barro, “tem grande detalhe e grande qualidade escultórica”, depois fazem um “scan” (digitalizar) para terem em “ficheiro informático”, e é enviado para a Alemanha, para impressão a três dimensões.

“Depois é feita cá uma primeira fundição, é retocada a cinzel, e a faz-se um molde que permite replicar a peça do artista. É um processo longo, moroso, e é bom que seja moroso, traz mão-de-obra, traz emprego, traz riqueza”, conclui Jorge Leitão.

No catálogo do Grande Presépio Popular, a ‘Leitão & Irmão – Joalheiros’ também cita a carta apostólica ‘Admirabile Signum’ (sinal admirável) do Papa Francisco, dedicada ao significado e valor do presépio, e Jorge Leitão destacou, “um pequeno excerto”, que consideram que se enquadra na obra que fizeram.

“O presépio é um exercício de fantasia criativa que emprega os mais diversos materiais para dar vida a pequenas obras-primas. Aprende-se desde criança quando pai e mãe, junto com os avós, transmitem este jubiloso hábito, que encerra em si uma rica espiritualidade popular”, leu o entrevistado da carta do Papa, assinada a 1 de dezembro de 2019, em Greccio.

Jorge Leitão que já entregou ao Papa figuras deste Grande Presépio Popular também esteve na Diocese italiana de Rieti, à qual pertence Greccio, onde São Francisco de Assis criou o presépio há 800 anos, em 1223.

HM/CB/OC

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Foto: Agência ECCLESIA/HM

Sobre a história da Casa Leitão & Irmão, o entrevistado recorda que foi fundada em 1822, quando em março o fundador “passou o exame para mestre ourives”, no Porto; em 1872, foram nomeados ‘Ourives da Casa Imperial do Brasil’, por D. Pedro II, imperador do Brasil, e recebem o título de ‘Joalheiros da Coroa’, por D. Luís, no dia 1 de dezembro de 1887.

“Em 1888, fizemos o cálice com o Papa Leão XIII celebrou a Missa do jubileu, no Vaticano. O nosso rei Dom Luís ficou muito contente”, realçou Jorge Leitão, destacando que, em 1900, fizeram, “em termos de arte profana, a obra mais importante portuguesa”, a Baixela Barahona desenhada pelo Columbano Bordalo Pinheiro.

“Em 1942, fizemos uma obra marcante para a casa, a Coroa de Nossa Senhora de Fátima, onde está a bala que atingiu João Paulo II, a 13 de maio 1981, no Vaticano. Em 81, ano em que eu cheguei à Casa Leitão, fizemos um presépio da escultora Graça Costa Cabral, que está atualmente, neste momento, exposto na Fundação Gulbenkian”, assinalou.

O entrevistado realça ainda que pelo centenário das aparições, em 2017, também fizeram a uma coroa para a ‘imagem nacional da Virgem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima’ de Inglaterra, coroada no dia 18 de fevereiro, na catedral católica de Westminster; esta imagem foi oferecida à Igreja Católica na Inglaterra e País de Gales em 1968, pelo bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio, após ter sido abençoada por Paulo VI um ano antes.

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Agência ECCLESIA

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