Natal: Degraus da Lapinha da Madeira são para descer e para subir (c/vídeo)

Presépio tradicional madeirense traduz a humanização de Deus e é um convite à transcendência

Funchal, Madeira, 21 dez 2019 (Ecclesia) – O diretor do Gabinete de Informação da Diocese do Funchal disse que o presépio tradicional madeirense, a Lapinha feita em degraus e com elementos do quotidiano, significa a humanização de Deus e é um convite à transcendência.

“Os degraus que servem para descer servem também para subir: Deus desce para fazer subir com Ele, nos elevar até à vida nova que Ele nos quer oferecer”, afirmou o padre Marcos Gonçalves.

Na Igreja de São Martinho, no Funchal, está uma Lapinha de uma artista local, onde se incluem de “forma moderna” os vários elementos do presépio tradicional da madeira, que constitui uma “grande catequese”.

No cimo dos degraus da Lapinha é colocado um arco de flores, que rodeia o Menino Jesus de pé.

“Muitas famílias, muitos casais, como prenda de casamento, recebiam o Menino Jesus de pé”, disse o padre Marcos Gonçalves, para colocar no cimo da Lapinha, “lá em cima, onde habita Deus”

“No Natal acontece a encarnação: Deus que vive lá em cima, no alto do céu, começa a descer, degrau a degrau, para se avizinhar de nós, para nasceu no meio de nós”, acrescentou.

O também pároco de São Martinho, no Funchal, lembrou que os degraus da Lapinha são uma expressão da “cultura madeirense”, expondo os elementos do quotidiano, desde a “riqueza dos vinhos”, os “vários tipos de pães”, o “cuscuz, as broas, as uvas, o bolo de mel, o anis, o chá de erva doce, o pau de canela”.

“Simboliza o quotidiano de muitas profissões, da vida onde Deus desce. Deus encarna e quer entrar nesta nossa vida, no nosso quotidiano”, sublinhou.

O padre Marcos Gonçalves referiu-se depois ao convite à transcendência que a Lapinha constitui, subindo os degraus até ao lugar onde “Deus habita”.

“Não podemos ficar a comer, a beber e a bailar, distraídos com a eternidade, mas ele próprio vem abrir-nos um novo horizonte, um novo caminho, degrau a degrau”, disse o diretor do Gabinete de Informação da Diocese do Funchal.

O sacerdote explicou depois a lamparina que está no centro da Lapinha, referindo que é “a luz que vai brilhar na noite escura de Belém é Jesus que vai nascer para todos”.

De acordo com o pároco de São Martinho, o presépio tradicional madeirense é “uma tradição dos portugueses que vieram do Algarve” e era construído em “com caixas, alqueires, as medidas, coisas que as pessoas tinham em casa e faziam parte do dia a dia”.

Para o padre Marcos Gonçalves, a Lapinha é a expressão da “beleza de Deus que se aproxima de todos”.

A região da Provença (sul de França) foi o grande centro de irradiação do presépio com raízes medievais, dando relevo ao Menino Jesus glorioso, triunfante, o Salvador, o Senhor e Rei do mundo.

A construção do presépio em forma de trono acaba por chegar à Madeira, Açores e Brasil, persistindo também em regiões do Baixo Alentejo e no Algarve.

O Menino Jesus apresenta-se com coroa, cetro real, manto, mundo na mão, para assinalar a realeza e a senhoria de Cristo, de acordo com o espírito medieval.

O presépio tradicional madeirense é um património doméstico, que ao longo do tempo pouco mudou, registando-se apenas acrescentos de algumas plantas locais, como o “alegra-campo” e as “cabrinhas”.

Para além das “lapinhas” nasceram também as “rochinhas”, seguindo a imagem mais tradicional do presépio, com papel pintado sobre uma estrutura que suporta a representação do nascimento de Jesus, a partir da ideia dos montes e vales, com os típicos socalcos da Madeira.

PR/OC

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