Natal: Comunidade de Santo Egídio promove encontros «surpreendentes» que ativam a construção do «nós»

Rita Gomes leva à sua mesa de Natal os refugiados que conheceu em Lesbos, as crianças da Escola da Paz e os idosos que não abraçou em 2020

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 20 dez 2021 (Ecclesia) – Rita Gomes, da Comunidade de Santo Egídio em Portugal, apresenta a instituição que conheceu quando tinha 18 anos como uma fazedora de pontes, seja com crianças, com idosos ou com os refugiados que conheceu em Lesbos.

“Há encontros que são surpreendentes. O mais importante é ir de coração aberto, sem julgamentos, ir com um sorriso e uma palavra amiga, tentar naquele momento colocarmo-nos no lugar do outro. É sempre difícil, mas talvez o mais importante, e tentar percebê-lo, e desta forma, o mundo. Estar de coração aberto ao outro é o que nos leva a fazer pontes e a mudar o mundo”, conta à Agência ECCLESIA.

“Quando o Papa Francisco nos pede que saiamos de nós, está a pedir uma transformação, uma passagem do «eu» para o «nós». Quando penso no «eu», fico pelos meus problemas, no que posso fazer na minha vida, o que mudar, numa perspetiva pessoal; quando passamos para o «nós» – e é isso que a Comunidade de Santo Egídio pede – transformamo-nos num «nós». O seu problema deixa de ser apenas dele, mas passa a ser nosso”, acrescenta.

A Comunidade de Santo Egídio pede aos voluntários e às pessoas que se aproximam desta organização internacional “um pouco do sue tempo”, também neste tempo de Natal.

Se em 2020, “a Comunidade teve de se reinventar” para levar uma ceia de Natal às famílias mais carenciadas que acompanham, este ano decidiram organizar algumas atividades e reencontrar aqueles que não puderam abraçar antes.

“Este ano não nos vamos voltar todos à mesa – esse é sempre o nosso propósito – mas fomos às Irmãzinhas dos Pobres cantar músicas de Natal junto das pessoas mais idosas. Temos programado para o dia 24 fazer uma festa no espaço da Escola da Paz, junto das crianças. No dia 26 vamos fazer um lanche alargado com várias horas, porque são várias famílias, e gostaríamos de estar junto de todos da Plataforma de ajuda”, conta.

Rita Gomes valoriza este “Natal” passado com outras famílias, que lhe permitem confirmar o trabalho realizado e junto de quem mais necessita.

“Ao Natal passado com a comunidade é dado um propósito, sentimos que estamos a fazer algo. Nesse dia, com cada família, nós renascemos, sentimos o coração mais cheio e com muitos momentos que nos dizem que é para isto que cá estamos, e para isto que devemos continuar”, sublinha.

Nas atividades que organizam ao longe do ano a responsável valoriza a Escola da Paz, realizado com crianças e jovens em bairros desfavorecidos, onde procuram, através do seu tempo, “devolver sonhos” e quebrar barreiras num local isolado.

“Uma das crianças disse-nos que a Escola da Paz fez com que ele não se tivesse ligado ao tráfico de droga. Ouvir estas palavras vindas de uma criança, faz-nos pensar no impacto que o nosso trabalho, que passava por estar com eles e ajudá-los a estudar, teve. Mas não é só isso que vamos fazer. Tentamos devolver esses sonhos e tentar tirá-los do bairro”, indica.

Os refugiados são também “uma realidade muito querida” da Comunidade de Santo Egídio que, em tempo de pandemia, criou uma plataforma de ajuda e acolheu 200 pessoas no seu período mais terrível.

“A rede multiplicou-se. Entre doações e voluntários apareceu muita coisa e nestes dois anos conseguimos mais de mil e quinhentos cabazes, onde ajudamos com fraldas, medicamentos. Foi uma revolução”, reconhece.

A Rita Gomes, a Comunidade de Santo Egidio possibilitou muitos encontros, a partir dos quais sente responsabilidade, uma vez que os problemas que consigo foram partilhados começam a ser os seus também.

“Estas pessoas percorreram meio mundo, fugindo da guerra, de tráficos, de coisas horríveis, e chegam à Europa muito fechada, é-lhes dada uma tenda onde não cabe a família toda, e não têm espaço para comerem juntos. Oferecer um momento digno e eles sentirem que são os nossos convidados, é algo muito importante”, explica.

No verão, em Lesbos, Rita Gomes conheceu refugiados que falavam português e que acredita seriam “bem integrados em Portugal”.

“Há muitos miúdos com muita vontade de estudar, tudo o que gostariam e ter era uma oportunidade. Queremos, no futuro, ser uma ponte para estas crianças, trazê-las diretamente para Portugal. Precisamos de pessoas, se já falam português, o que impede?”, questiona.

Os encontros que Rita Gomes leva consigo para a noite de Natal estão também em destaque esta semana no programa Ecclesia, na antena 1, diariamente às 22h45.

LS

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