Paulo Rocha, Agência Ecclesia
A Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril desafia à memória de proibições que persistiram em Portugal durante quase meio século, durante a ditadura. O projeto #NãoPodias convida a ter presente, nos dias de hoje, os momentos da nossa história em que não era possível votar, expressar-se livremente, discordar, optar por um curso superior, descansar, ter direito à dignidade de vida, aos cuidados de saúde, a um teto para habitar ou uma terra para cuidar, à igualdade entre homens e mulheres, ao respeito por cada cidadã e cada cidadão…
#NãoPodias tem o propósito pedagógico de não dar a liberdade por adquirida e a ele se junta o diagnóstico frequentemente apontado como causa da fragilidade da democracia e do exercício de uma cidadania livre: a decrescente participação cívica.
A história da democracia que construímos em cada dia não se terá distanciado de reminiscências do exercício de poder absoluto, respeitando e incluindo quem não o exerce, quem não venceu nas urnas, mas tem o dever de participar, quem está na oposição ou representa os diferentes grupos da sociedade que todos constituímos. Ficar refém de estratégias de conquista do poder ou da vitória eleitoral é querer a derrota de toda a sociedade, colocar o bem de uns acima do bem de todos. Porque não é possível cuidar do quintal próprio sem tratar a casa comum.
Tudo isto ainda a propósito do #NãoPodias… Mas desafio maior será não ter de esperar por outros tantos anos para, diante de resultados adversos, voltarmos a conjugar o #NãoPodias. Hoje, temos informação e conhecimento para rejeitar todas as formas de opressão e os diferentes extremismos, respeitar cada pessoa, admitir a expressão pública de maiorias e minorias, de manifestações de fé, afirmar a exigência da dignidade de vida, da justiça para todos independentemente do grupo a que cada pessoa pertença, da paz pessoal e coletiva. E sempre no exercício da liberdade pessoal que não belisca a liberdade dos outros, procurando o melhor para si sem nunca comprometer o querer, o trabalho e a luta que a todos é devida pelo bem comum.
Duas notas, ainda: uma que decorre da experiência de liberdade vivida pelos jovens que preparam a Jornada Mundial da Juventude, onde gerações que não viveram os acontecimento de abril não ficam indiferentes à esperança que decorre da conquista da liberdade, sobretudo quando confrontados com a história de outros jovens que com eles vivem estes dias, como os que chegam do Bangladesh, do Brasil, da Colômbia, do Gana, do México ou da Polónia, e as suas histórias de liberdade distante nos seus países e da sua conquista, partilhadas no programa Ecclesia emitido na RTP2, neste 25 de abril.
A segunda nota é mais pessoal, mas por certo significativa para um bom número de pessoas, sobretudo as que acompanham a história da Agência Ecclesia há mais tempo: estes dias foram também ocasião de convívio por algumas horas com o padre Rego, que regressou a Lisboa por uns dias para celebrar o aniversário de uma irmã; e foi uma ocasião para, entre a memória de sons que ecoaram na madrugada da liberdade, há meio século, deixar pistas para quem tem por missão comunicar, em liberdade, nomeadamente no ambiente da Igreja Católica. Estímulos que decorrem da sua experiência, de um percurso feito de relevantes contributos para uma comunicação livre. A zelar…!