Não tenham medo nem se cansem de estar em casa. É para bem de todos!

Irmãs Clarissas do Mosteiro de Monte Real

Mosteiro das Irmãs Clarissas de Monte Real

Ouvimos os passos de Deus

De repente tudo se transforma. Acreditamos que a vida da Humanidade após a passagem desta tempestade epidémica nunca mais será igual. Como é possível que um ser invisível esmague e deixe numa total impotência o “super-Homem”, o Homem da ciência, da técnica, da era digital, do: Eu sei, eu quero, eu posso, eu faço…?  E, agora totalmente indefeso, impotente para debelar com rapidez e eficácia este vírus, que vai ceifando sem dó nem piedade milhares de vida humanas…

A nível mundial declarou-se guerra aberta ao covid-19, de geração espontânea ou de laboratório (nada sabemos, o tempo o dirá). Enquanto isto lamentamos que, tantos Senhores e Senhoras deputados e deputadas, em diversos países da Europa e não só, estivessem tão preocupados em legislar leis contra a vida humana: aborto, eutanásia… Aí está. Têm a resposta… Quem se sente amado, jamais pede para morrer.

Um simples ser microscópico faz parar o mundo, tremer o planeta terra. Tanta preocupação para proporcionar uma morte supostamente “digna” aos nossos idosos e agora vive-se numa luta titânica pela sua sobrevivência. É grande, muito grande o pecado, um pecado colectivo, um pecado da nação. E, ainda grave é que a factura é paga também pelo inocente. Diz o velho ditado: Deus perdoa sempre, o homem às vezes, a natureza nunca. Não será este o grito de uma natureza em agonia, triste e revoltada contra o ser humano, a exigir respeito?!

Surgem muitas interrogações, muitos porquês mas sem respostas. Para nós que acreditamos em Deus, num Deus Criador que continua a suster nas suas mãos o destino da História da Humanidade, não devemos colocar a questão: Porquê? Mas sim: para quê? Qual o motivo porque isto aconteceu? Uma resposta que apenas se obtém de joelhos, em silêncio, serenamente diante do Sacrário com os olhos fixos em Deus. Sim, só de joelhos compreenderemos este grande mistério que hoje nos envolve e nos faz reflectir sobre a pequenez e a fragilidade do ser humano. Sem Deus somos nada…

Se olharmos este mistério com os olhos do coração e da fé somos confrontados com uma luminosa realidade que nos faz repensar a vida de amanhã que jamais será igual ao dia de ontem. Há que repensar sobre os comportamentos dos políticos, dos empresários, da sociedade de consumo e do descarte, do rumo da economia, da violação e desreito dos verdadeiros valores humanos e cristãos.

Será que Deus quis ou quer o sofrimento ou a morte dos seus filhos, assim humanamente tão absurda?! Claro que não. Mas permite porque respeita a liberdade de cada ser humano. Muito se tem falado, muito se tem escrito sobre esta terrível realidade mundial. Há situações em que a linguagem mais eficaz é o silêncio, sim a linguagem do silêncio, da oração e da acção discreta e humilde.

Toda esta situação de calamidade não será os passos de Deus que desce até ao jardim da vida dos homens? Se sim, Ele não surge sob a caricia de uma brisa como no jardim do Éden, mas sim sob o estandarte da cruz e das lágrimas, a Cruz que redime e salva.

 

O abraço e a Solidariedade

Com a propagação do corona vírus tão acelerada e a atingir tantos países, de repente quebram-se as barreiras das ideologias, as nações abraçam-se num esforço incomum para combater e vencer o inimigo “invisível”, fecham-se fronteiras físicas para se escancarar o coração á inter-ajuda, abatem-se muros e constroem-se pontes de solidariedade e amor. Tantas maravilhosas realidades novas e renovadoras que nasceram e vão nascendo a cada minuto que passa. Hoje é possível ouvir o canto dos pássaros nas cidades buliçosas e stressantes de cada dia, nos rios das cidades deslizam águas cristalinas, diminuiu a poluição, pais e filhos partilham as refeições, as ruas dão lugar à silenciosa ausência de transeuntes…. Hoje já é possível ouvir o canto solitário do pássaro em Wuhan, promissor de vida nova, assim o esperamos!

Tantas coisas que já mudaram e que estão a mudar mesmo a nível das relações internacionais. Temos a certeza que iremos dar valor ao que realmente tem valor. Há muitas coisas importantes na vida mas que não são essenciais.

Tocou o alarme. Há que ter a coragem de repensar a vida e despertar para o que realmente a vida tem de mais belo. E, não são os muitos milhões que dão felicidade, nem tão pouco o carro de topo de gama, agora arrumado na garagem, nem as roupas de marca, nem uma boa casa que muitas vezes apenas serve ou servia de dormitório, nem tantos objectos e coisas inúteis a encher os móveis da sala ou do quarto …

Agora há que dar valor às coisas simples e belas que nos fazem verdadeiramente felizes como um sorriso verdadeiro e sincero, uma palavra amiga, um gesto de ternura, perder tempo para escutar… E, tantos outros pequenos gestos que valem mais do que o euro milhões. Temos a certeza que nunca se rezou tanto. É urgente redescobrir o valor da oração.

Acreditamos que a Humanidade, toda a Humanidade precisava deste “terramoto”, deste “Estado de Emergência”. Também as famílias precisavam deste “Estado de Emergência para se reencontrar. Para uma sociedade saudável é essencial que os casais redescubram o valor do seu primeiro amor, tenham tempo para a refeição em comum e, todos, pais e filhos possam usufruir da beleza do amor familiar. O que ontem parecia impensável, hoje é possível.

 

Mosteiro das Irmãs Clarissas de Monte Real

Mensagem de esperança

Para todos os que são “obrigados” a permanecerem em casa enviamos uma mensagem de esperança.

Quem não se queixava de falta de tempo? Falta de tempo para estar com os filhos, falta de tempo para estar em casa, falta de tempo para organizar os trabalhos, falta de tempo para bricolages, falta de tempo para descansar, falta de tempo para reflectir, falta de tempo para ler, para escrever, sem tempo para rezar… Por favor, agora, matem o tempo e não permitam que o tempo mate a vossa alegria e esperança.

Agora é tempo de desenvolver os talentos e a criatividade. É um momento de graça que não pode ser desperdiçado. É o momento de redescobrir a beleza do amor familiar, da importância das relações, dos gestos de ternura, do escutar, do dialogar… É o momento de rever a cor dos olhos de quem vive a nosso lado.

Quantos maridos esqueceram a cor dos olhos da esposa e quantas esposas esqueceram a cor dos olhos do marido! Quantos pais esqueceram a cor dos olhos dos seus filhos e quantos filhos esqueceram a cor dos olhos dos seus pais! E, quantos filhos privados de um beijo ou gestos de ternura de seus pais antes de adormecerem porque quando eles saem para o trabalho ainda é noite e quando regressam já é noite.

Chegou a hora de se olharem olhos nos olhos. É o momento de partilhar tarefas, brincarem com os filhos, ordenar actividades, reorganizar estruturas, fazer o balanço, fazer o diagnóstico às relações, rezar em família e perceber que o ter tudo não é o mais importante na vida.

Basta tão pouco para se ser feliz…

Não tenham medo nem se cansem de estar em casa. É para bem de todos.

Sim, por favor, para bem de todos permaneçam em casa!

É tão fácil passar 24 horas em casa com aqueles que amamos, com aqueles que nos fazem felizes e nós fazemos felizes. E, depois sintam que não estão sós que têm um Pai, um Deus, um Amigo que vos ama com amor infinito, que cada dia segura a vossa mão que está sempre connosco.

Os cristão que em cada sábado ou domingo ou diariamente se deslocavam à igreja para rezar ou participar na Eucaristia era Jesus que os acolhia. Agora têm a honra e a graça de puderem acolher Jesus em suas casas. Redescubram a beleza do acolhimento. E, graças aos meios digitais há tantas formas de participar nas celebrações online. É certo que não é a mesma coisa. Precisamos do Pão do Céu que nos dá força. Mas se Deus quiser será apenas uma situação temporária. É urgente que, neste tempo de “ficar em casa para bem de todos” haja um tempo de oração. Demos espaço a Deus. O nosso dia tem 1440 minutos. Quantos reservamos para estar com Deus?

Agora sentimos ao vivo como de repente as estruturas políticas, sociais, económicas, de seguro, caem por terra. Tudo é tão frágil. Só Deus é a nossa segurança e força em todos os mementos da nossa vida e, especialmente, nos momentos de sofrimento.

 

A beleza da nossa entrega

Somos as Irmãs Clarissas, Irmãs de clausura. Por opção livre consciente vivemos sempre em “estado de Emergência” ou seja emergência de AMOR. A nossa permanência no Mosteiro é contínua. Apesar de vivermos e estarmos na clausura 24 sobre 24 horas, dia após dia, ano após ano, sem sairmos, excepto em situações pontuais e urgentes, nunca sentimos o cansaço, a monotonia, a rotina da vida. Cada dia que nasce traz-nos uma novidade, a novidade de Deus que é Pai e que nos ama com infinito amor. Um sentimento de felicidade que só se experimenta à luz do amor, amor que não se explica mas se vive.

Fisicamente vivemos num espaço limitado – estado de emergência. Somos uma família numerosa. Ao longo dos anos abrigamo-nos sempre sob o mesmo tecto, são as mesmas pessoas, os mesmos rostos, as mesmas rotinas, o mesmo horário. Tudo igual e tudo tão diferente. Uma experiência muito bela. Não temos necessidade de sair à rua, de dar um passeio. Na nossa vida de clausura sentimo-nos as pessoas mais livres e felizes do mundo. Sentimo-nos no coração do Mundo porque o mundo está no Coração de deus. Jesus enche e preenche o nosso coração. Ele afirma no seu Evangelho: Onde está o teu tesouro aí estará o teu coração. Jesus é o nosso maior e único tesouro que está connosco, que vive sempre connosco.

Vivendo no silêncio da clausura como estamos a enfrentar esta situação que atingiu, assim, tão implacável o nosso planeta terra?

Pela nossa opção de vida não somos mães biológicas mas sim mães espiritais. Temos milhões de filhos. Por isso vivemos este momento como verdadeiras mães que assistem à morte física de muitos milhares de filhos e, humanamente, sem pudermos fazer muita coisa.

Para nós e também  um momento de muita dor e sofrimento. Por isso cresce em nós o desejo ainda mais profundo de, sem medo ou angústia, serenamente e com confiança, continuarmos na linha da frente do combate, de “mãos postas” em contínua oração. Esta é a nossa arma mais poderosa e eficaz. Choramos com os que choram e lutamos com os que lutam. Na clausura o nosso amor e a nossa oração não têm fronteiras, abraçamos o mundo inteiro, tocamos todos os corações, penetramos todas as vidas. Temos a certeza que a nossa oração e vida de sacrifício vai ao longe e ao perto enxugar muitas lágrimas, semear flores de esperança…

Na igreja do nosso Mosteiro, diante de Jesus Eucaristia, o Santíssimo Sacramento, está sempre uma Irmã em Oração. Desde há alguns dias que rezamos o Rosário sem interrupção. Assim, através da nossa oração, não física mas espiritualmente, deslocamo-nos até aos hospitais e permanecemos junto da cama dos doentes, visitamos os infectados que estão em suas casas em recuperação, lutamos sem cessar ao lado dos Profissionais de saúde, avançamos para as estradas e ruas de aldeias e cidades na companhia de Agentes de Segurança, acompanhamos até aos postos de trabalho tantos Irmãos que com risco de vida asseguram os serviços mínimos, vamos até aos laboratórios de análises e pesquisas cientificas…. São muitos os pedidos de oração que recebemos através das redes sociais, entre eles de alguns Profissionais de Saúde e Agentes da PSP e GNR. Um vasto campo de acção.

Pela nossa oração e vida oferecida, humanamente a troco de nada, apenas por amor e na gratuidade, ajudamos a carregamos assim o peso da cruz de todos estes milhares de Irmãos a abraços com este terrível inimigo invisível. Todos estão no coração desta Comunidade e na nossa Oração.

Queremos ajudar a salvar a Humanidade. O silêncio da nossa clausura é hoje, mais do que ontem, o receptáculo que acolhe todo o sofrimento deste mundo tão ferido e que nós, a cada momento do dia, colocamos no Coração de Deus. Temos consciência de que a cura desta chaga viva também depende de nós. Por isso também tentamos dar o melhor de nós nesta luta contra o tempo, como uma verdadeira mãe que a troco de nada dá a própria vida, dá o máximo para salvar a vida de seus filhos.

Neste momento o silêncio do nosso claustro é o grito de dor duma humanidade terrivelmente ferida e devastada por um ser tão ínfimo. Um grito que se eleva até ao Coração misericordioso do nosso Deus.

Ao longo dos anos formou-se uma sociedade sem Deus, uma sociedade que parece não precisar de Deus para nada e, agora, todos clamamos e exigimos a sua presença, que resolva os nossos problemas. Então escutemos os seus passos no jardim ou na casa da nossa vida. Abramos a porta ao nosso Deus e que jamais se retire da nossa companhia, do nosso viver.

Não é a morte que tem a última palavra mas sim Aquele que a venceu e por nós ofereceu a sua vida na Cruz. Esta situação de fragilidade, impotência e gravidade que estamos a viver, coloca-nos no nosso verdadeiro lugar: Neste mundo somos apenas e simples peregrinos. Nada mais. A nossa pátria é o céu.

Fica a certeza da nossa constante oração por toda a humanidade, especialmente pelas vítimas deste flagelo. Não tenhamos medo. Não estamos sozinhos na luta. Jesus e Nossa Senhora estão sempre connosco.

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Agência ECCLESIA

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