Na missão de fronteira

Em 1927 Pio XI proclamou Santa Teresinha do Menino Jesus, “padroeira principal das missões de todo o mundo, juntamente com S. Francisco Xavier”. Estes modelos condensam as duas grandes vertentes da actividade missionária: a contemplação e a acção. Teresa de Jesus, com o seu carisma de contemplativa situa-se no mais profundo do mistério da missão. Foi o Vaticano II que devolveu a missão a sua vertente contemplativa: a missão nasce no coração de Deus, no seio da Trindade. O amor é a fonte da missão. É pelo contacto com esta fonte que a missão se comunica. Teresa de Jesus, vivendo mergulhada no amor infinito de Deus, bebia a missão na sua nascente, com a pureza das águas vivas. “Vivi, escreveu ela, a minha vida no Carmelo como uma aventura de amor a Jesus. E no coração de Jesus eu encontrei duas grande paixões: a seu Pai e a toda a humanidade, sobretudo os pobres, os pequeninos, os pecadores… Eu queria anunciar o Evangelho nas cinco partidas do mundo. Queria ser sacerdote, apóstolo, doutor da Igreja , mártir… A minha vocação é o Amor. Compreendi que o Amor encerra todas as vocações, que o Amor abarca todos os tempos e lugares””. Durante toda a sua vida, Teresa de Jesus quis ser missionária, esperando ser enviada para o Vietnam, onde havia dois conventos, historicamente ligados ao Carmelo de Lisieux: o de Saigão, fundado por Lisieux em 1861 e o de Hanoi, fundado pelo de Saigão em 1895. Era como carmelita que ela queria ir para as terras de missão. As suas superioras reconheceram a sua vocação missionária, mas a sua saúde não permitiu que ela fosse enviada para essas terras. Mas na sua autobiografia, nas suas poesias, nas suas conversas, nas suas cartas, as missões de fronteira não lhe saíam do coração. Vale a pena recordar um dos mais belos textos que algum dia se escreva sobre esta missão de fronteira: “ Entrei no convento porque me fascinavam os grandes espaços, as imensas paisagens, os horizontes sem fronteiras… No Carmelo, os grandes espaços são interiores… são a imensidade dos votos. No Carmelo… o Amor é maior que o mar e maior que o céu. As paredes do Carmelo são transparentes aos olhos do coração. O Caramelo permitia-me viver quer na África quer na Índia. Ao entrar no Carmelo eu entrei em todas as partes. Entrei nas casas dos pobres e na casa dos ricos, na casa dos que estavam afastados e na casa dos que estavam próximos. No Carmelo eliminam-se as fronteiras, elas são ilimitadas… Ao fazer-me carmelita fiz-me chinesa, indiana, japonesa. Sou de todo o mundo. O meu coração é livre de ir por onde quiser. O Amor tornou possível ao meu coração dar a volta ao mundo. Tudo o que acontece no mundo acontece no coração de quem ama. O mais pequeno hálito de amor escondido pode ser útil a quem viver aplicado na acção. Ao entrar no Carmelo eu passei a anunciar o Amor nas cinco partidas do mundo, nas cidades mais remotas… eu passei a ser missionária… e sê-lo-ei ate ao fim do mundo. Só o Amor é caminho que leva ao fim do mundo. Quando o coração se torna pobre já não vive agarrado à sua casa, ao seu quarto, à sua rua, aos seus negócios: é livre… pode partir! Pode ir e pode vir. È um navio que solta as marras. Pode fazer-se mar adentro, pode navegar pelo mar alto!.” Esta paixão pela missão levou-a a corresponder-se com dois missionários: o P. Maurice Bellière e o P. Adolphe Roulland, cuja vocação partilhou, a pedido da prioresa do Carmelo. Quando a prioresa lhe pediu pela primeira vez para ser a irmã do primeiro futuro missionário, Teresa exclamou: “ Senti que nesse momento a minha alma estava a estrear-se. Era como se alguém tivesse tocado, pela primeira vez, umas notas musicais até então desconhecidas” Retenhamos como conclusão uma outra passagem dos seus escritos: “ Quereria percorrer a Terra para pregar o teu nome e implantar a tua gloriosa Cruz sobre o solo infiel. Todavia, ó meu Amado, uma só missão não seria suficiente: quereria anunciar o Evangelho em cada uma das cinco partes do mundo e até mesmo nas ilhas mais remotas. Gostaria de ser missionária não só por alguns anos mas desde o princípio da criação até à consumação dos tempos. Mas sobretudo, ó meu Amado Salvador, queria derramar até à última gota o meu sangue por Ti”. Adélio Torres Neiva

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