«Os que morreram e os que foram feridos são cidadãos deste país», afirmou presidente da Conferência Episcopal birmanesa
Lisboa, 28 mai 2021 (Ecclesia) – O presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Myanmar condenou o ataque à bomba do exército contra uma igreja católica, que provocou quatro mortes e vários feridos, afirmando que “o sangue derramado não é o sangue de inimigos”.
“Os que morreram e os que foram feridos são cidadãos deste país, não estavam armados, estavam dentro da igreja para proteger as suas famílias”, referiu o cardeal Charles Bo, arcebispo de Rangum.
Os militares birmaneses dispararam bombas em áreas habitadas, visando três aldeias (Kayantharyar do Sul, Kayantharyar do Norte e Tabyekone), no Município de Loikaw, a cerca de 450 quilómetros a norte da capital Rangum, na noite de 23 de maio.
A igreja do Coração de Jesus, em Kayantharyar do Sul, foi atingida e parcialmente destruída.
“Os atos violentos, entre os quais os contínuos bombardeios com armas pesadas contra um amedrontado grupo de mulheres e crianças, levaram à morte trágica de quatro pessoas e feriram mais de oito”, refere o cardeal em nota divulgada pela agência UCAN (Union of Catholic Asian News – União de Notícias Católicas da Ásia).
O cardeal Charles Bo alerta para a “tragédia humana” no seu país, explicando que muitas pessoas fugiram para a selva, após o ataque dos militares, e podem “morrer à fome”.
“Alimentos, medicamentos e produtos de higiene são necessidades urgentes, mas não há como chegar a eles. Há muitas crianças e idosos, forçados a morrer de fome e sem qualquer assistência médica. Esta é uma grande tragédia humanitária”, desenvolveu.
Neste contexto, apelou por ajuda e que as partes envolvidas não aumentem o conflito, num território marcado por fortes confrontos entre o exército birmanês e a PDF (Força de Defesa do Povo), desde sexta-feira.
“O nosso povo é pobre. A Covid-19 roubou-lhes o sustento, a fome espreita milhões, a ameaça de outra vaga de Covid-19 é real, o conflito é uma anomalia cruel neste momento”, acrescentou o cardeal Charles Bo.
O também presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Myanmar adiantou que a igreja no Estado de Kayah sofreu muitos danos, e recordou que os locais de culto são propriedade cultural de uma comunidade.
“Igrejas, hospitais e escolas são protegidos durante o conflito pelas Convenções de Haia”, assinalou.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) refere que a intervenção dos militares em Kayanthayar, perto da cidade de Loikaw, nas imediações da fronteira com a Tailândia, terá provocado a fuga a mais de 20 mil pessoas.
“Isto tem de parar”, afirma o cardeal Charles Bo, numa mensagem transmitida à fundação pontifícia.
O presidente executivo internacional da AIS, Thomas Heine-Geldern, afirmou que a Igreja tudo fará “para promover a paz e o desenvolvimento da nação, bem como para apoiar as pessoas na sua miséria, situação que se agravou pela pandemia”, em Myanmar.
A União de Notícias Católicas da Ásia indica que os cristãos estão a fugir de Mianmar para a Índia e o Estado de Mizoram, de maioria cristã, acolhe 15 438 pessoas, adiantando também que os ataques contra igrejas são frequentes.
Um golpe militar derrubou o Governo de Aung San Suu Kyi na antiga Birmânia, a 1 de fevereiro, acusando a comissão eleitoral do país de não ter posto cobro às “enormes irregularidades” que dizem ter existido nas legislativas de novembro; As forças de segurança têm intensificado o uso de força para dispersar os manifestantes.
CB/OC