Mulher: Inclusão, capacidade de diálogo e reflexão sobre ministério sacerdotal vão ditar novas lideranças «para o futuro da Igreja»

«Mulheres líderes: Rumo a um futuro mais risonho» junta experiências de inclusão, dificuldade e complementariedade no governo de instituições e na Igreja 

Roma, 06 mar 2024 (Ecclesia) – A inclusividade “não é um valor moderno”, mas condição essencial para “comunidades cristãs vibrantes e abertas” afirmou a Diretora-adjunta do gabinete de Imprensa da Santa Sé, apontando a dimensão “colaborativa das mulheres” como fator de construção de sucesso.

“Num tempo de mudanças sociais e progresso, as mulheres mostram uma extraordinária resiliência e versatilidade e trazem ao Vaticano e uma perspetiva fresca e inovadora. As mulheres de hoje distinguem-se pela capacidade de navegar agilmente entre a tradição e a modernidade. A sua sensibilidade, compaixão, prospetiva inclusiva são essenciais para enfrentar os desafios contemporâneos. A presença feminina, numa combinação de intuição, empatia e determinação são um contributo inestimável para a orientação da Igreja na complexidade do mundo de hoje”, afirmou a responsável numa conferência que junta a Cáritas Internationallis e as embaixadas da Austrália e do Reino Unido junto da Santa Sé.

“A distinção das mulheres num ambiente de trabalho, maioritariamente masculino, não pode residir apenas nas competências laborais, mas com a riqueza com que se contribui com o pensamento e capacidade relacional. Abraçar esta realidade não é um ato de igualdade mas uma forma estratégica mas construir organizações”, acrescentou ainda Cristiane Murray.

«Mulheres líderes: Rumo a um futuro mais risonho» é o tema que hoje, em Roma, na Cúria dos Jesuítas, está em análise a partir dos desafios sentidos pelas mulheres, procurando desta forma assinalar o Dia Internacional da Mulher.

Cristiane Murray assinalou a capacidade feminina de “construir pontes entre a Igreja e a sociedade” e afirmou serem as capacidades de “determinada pessoa” que devem orientar a escolha para uma função e pediu “discernimento” nas lideranças para que esta realidade possa acontecer.

“Com acesso limitado a papéis de liderança, as mulheres sempre conseguiram ultrapassar obstáculos significativos, ao mesmo tempo que mantinham uma fé e capacidade de influenciar a comunidade católica. Hoje na Educação, assistência espiritual, caridade, nas atividades pastorais as mulheres plasmam a Igreja de modo significativo”, valorizou.

Maeve Heaney, diretora do Centro de Teologia na Universidade Católica na Austrália, questionou o facto de o papel das mulheres na Igreja ser “uma questão teológica” e afirmou que esse facto se deve à relação que se faz entre “autoridade e governo na Igreja, e o sacerdócio”.

Como é que imaginamos o papel do sacerdote? Esquecemo-nos que na doutrina só há um Cristo, um mediador entre o mundo e Deus. Este é o centro da nossa fé”.

A responsável pediu uma “reflexão robusta, histórica e teológica sobre o batismo e sobre o ministério do padre para desatar o nó entre governo, poder e ministério sacerdotal, e permitir que leigos e outros ajudem as estruturas da Igreja a tornarem-se mais eficazes e mais próximas de como Jesus imagina o seu corpo”.

Maeve Heaney reconheceu que esta reflexão “já começou” mas lamentou que esteja sustentada de forma “ineficaz” e com um “mau enquadramento teológico”.

“Falam de complementaridade mas falam no contributo feminino assente no amor, espiritualidade e maternidade, contra autoridade, intelecto e liderança. Há diferenças, claro, mas não podemos radicalizar as diferenças”, afirmou.

A diretora do Centro de Teologia na Universidade Católica na Austrália afirmou a necessidade de “educar teologicamente as mulheres líderes” e que isso requer “recursos financeiros”, mas sustentou estar em causa não só o futuro da “liderança da Igreja” mas “a fé das futuras gerações”.

A Irmã Nathalie Becquart, sub-secretaria da Secretaria-geral do Sino dos Bispos, participou no painel, dando conta que o sínodo tem sido um processo para dar mais voz às mulheres.

“O sínodo deu conta de dificuldades e mesmo do sofrimento das mulheres, quando não são entendidas e reconhecidas. Elas gostariam de participar nos processos de decisão, mas há uma grande variedade de experiências. Algumas deram conta de ser a primeira vez que são questionadas sobre a sua opinião. As mulheres não querem apenas uma voz, mas querem a Igreja ao seu lado para combater a descriminação, a violência. O sínodo está a mostrar que elas podem e devem ser protagonistas”, sustentou.

A religiosa reconheceu o “longo caminho” a realizar mas afirmou a participação feminina em todas as “comissões do Sínodo” e essa presença está a “abrir novos caminhos” em “palestras, escolas de sinodalidade” e “experiências com muita criatividade”.

“Um dos melhores frutos que vejo é de abrir novas formas de experimentação: as coisas não se ajudam apenas por documentos, mas por experimentação. Quando se percebem os frutos dessa experimentação, as pessoas deixa-se convencer”, destacou.

LS

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Agência ECCLESIA

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