«Muitas celebrações estão à margem da vida»

Nos dias 10 e 11 de Junho, a diocese de Aveiro vive o seu congresso eucarístico. O Pe. Victor Marques, vigário para a Pastoral Geral e membro da comissão executiva do Congresso, diz-nos em entrevista como está a decorrer a preparação e que frutos se podem Porquê a realização de um congresso diocesano eucarístico? Há muito tempo que fazia parte do nosso plano pastoral trienal a possibilidade de um congresso eucarístico. O segundo ano do plano foi dedicado à valorização do Domingo e este terceiro à Eucaristia. Por outro lado, o recenseamento de Março de 2003 [à prática dominical] revelou uma descida na participação na Eucaristia, principalmente nas camadas mais juvenis. Quando anunciámos o congresso, ou melhor, quando foi feita uma primeira abordagem ao clero, ainda o Papa não tinha decretado que 2005 seria o Ano da Eucaristia. Foi uma feliz coincidência. O Sr. Bispo fez publicar a sua carta pastoral [Eucaristia, Fonte de vida e de fraternidade] antes de o Santo Padre publicar “Fica connosco, Senhor”. O que se pode esperar do congresso? O congresso vale pelos dois dias em que vai ser feito. Esperamos que seja um acordar para a riqueza da Eucaristia. Mas os grandes valores do congresso surgirão depois da realização. A preparação será um acordar para o valor da Eucaristia nas comunidades, um acordar para o modo como se celebra, como se exprime a comunhão, como se gera fraternidade, como brota o sentido missionário, a caridade activa, o empenhamento apostólico, dentro e fora da comunidade cristã. Celebra-se bem nas nossas comunidades? Ainda agora [manhã de sexta-feira], estava a ver a celebração do funeral do Papa e fiquei abismado. Perante uma praça de S. Pedro a abarrotar de gente, o mundo inteiro ligado, tantas raças, tantas línguas… e a língua utilizada foi o Latim. Como é que o Latim pode ser perceptível pelo Povo de Deus? A celebração devia ir ao encontro da pessoa humana. Estava a pensar no Inglês? Sim, foi a minha intuição no momento, é a língua universal. Retomando o modo como é celebrada a Eucaristia nos nossos ambientes… Muitas vezes temos celebrações despersonalizadas. Não vão ao encontro da vida da Mulher e do Homem. Estão à margem da vida. Os jovens queixam-se que os cânticos não lhes dizem nada. Se há cânticos que podem ajudar os jovens a celebrar, porque é que havemos de estar a fazer um braço-de-ferro com determinados cânticos? O que interessa é que se encontrem e rezem. O mesmo se pode dizer em relação às homilias. Se não descem à realidade humana, do hoje, mesmo que estejam bem preparadas do ponto de vista teológico ou bíblico, quem vai à missa sai de lá como en-trou: sem nada. Quando entram na igreja, as pessoas despem a sua vida, deixam-na no cabide do guarda-vento e vestem o traje litúrgico. Ao saírem retomam a mesma vida que tinham deixado no guarda-vento. Ora, não pode ser assim. É preciso entrar com a vida na Eucaristia. Na sua perspectiva, o congresso alcançará os objectivos se… Primeiro, dou por cumprido o Congresso se houver movimentação dentro das comunidades cristãs, para fazerem uma reflexão séria sobre a Eucaristia. Segundo, se esta reflexão espelhar uma mudança prática na forma como se celebra por cada comunidade e cada cristão. Terceiro, se realmente deste congresso surgirem directrizes que, a nível diocesano, dêem aos presbíteros e às comunidades parâmetros comuns que ajudem a viver a Eucaristia, directrizes que possibilitem uma mudança. Já se ouviram algumas críticas de preparação ineficaz do congresso… A preparação atravessou duas fazes complexas, o Advento/Natal e a Quaresma/Páscoa. Estes tempos litúrgicos, este ano, foram muito próximos um do outro. E isso dificultou o início da reflexão em grupos. No entanto, algumas comunidades já começaram. Para já, todas as comunidades têm um guião de leitura da carta do Papa sobre a Eucaristia, para quatro encontros. A seguir, surgirá outro guião, para três encontros, sobre a carta de D. António. Há paróquias que já reflectiram a carta papal na totalidade. Pelo pedido que têm feito do encontro, penso que agora há muitas a começar em força. Contudo, para dinamizar, estamos a preparar cartazes, a Oração do Congresso e um folheto com celebrações que o vão anteceder. Há que dizer, no entanto, que o congresso em si não depende dos grupos ou da caminhada das comunidades. Não é a mesma coisa que um sínodo. Se os grupos não existirem, o que fica afectado é a oportunidade que essas comunidades têm para melhorar a vivência da Eucaristia. Só nesse sentido é que o congresso depende da atenção que lhe é dada pelos que presidem às comunidades cristãs e pelos conselhos pastorais de cada paróquia. Quantas pessoas vão participar nos dois dias do congresso? Não mais de 250. Mas mesmo este número ainda vai ter de ser confirmado. Entre estes 250 estão os padres, os diáconos, os seminaristas maiores, os representantes de grupos e movimentos apostólicos, e outras pessoas que o Sr. Bispo entender. Se uma pessoa quiser reflectir sobre a Eucaristia, mas não tiver grupo na sua paróquia, como pode fazer? O trabalho está pensado para reflexões em grupo, e não pessoalmente. No entanto, se numa paróquia não houver grupos, uma pessoa pode sempre reflectir de forma individual; basta pedir os guiões ao Secretariado de Pastoral [contactos: Rua José Estêvão, 50; telefone 234 377 430, e-mail vjdm@sapo.pt]. Reflectir individualmente pode ser bom para essa própria pessoa, mas pode ser inconsequente por não haver o grupo dinamizador da mu-dança. Melhor será, talvez, integrar-se num grupo de uma paróquia vizinha. Temas e intervenientes do Congresso O Congresso Eucarístico Diocesano já começou. Os grupos que pelas paróquias ou outros organismos eclesiais reflectem sobre a Eucaristia são já Congresso. Mas o ponto alto será, porém, o encontro que decorrerá no Seminário de Aveiro, nos dias 10 e 11 de Junho (sexta e sábado). No domingo seguinte, será o grande encerramento, para toda a diocese. No Seminário, haverá quatro temas de fundo e seis comunicações em sessões parciais. Os temas de fundo e seus comunicadores são: “Eucaristia, beleza de Deus”, por D. António Marto, Bispo de Viseu; “Reconheceram-no no partir do pão”, por António Couto, Professor de Sagrada Escritura, da Universidade Católica, Porto; “Eucaristia e compromisso social”, por José Dias da Silva, presidente do Conselho de Leigos da Diocese de Coimbra; e “Eucaristia num mundo secularizado”, por Isabel Varanda, professora da Universidade Católica, Braga. As comunicações em sessões parciais (os participantes escolhem o tema que preferirem) são: “Eucaristia e família”, por Ana Margarida e Jorge, casal das Equipas de Nossa Senhora; “Eucaristia e casais recasados”, por Pe. Manuel Joaquim Rocha; “Eucaristia para além da celebração eucarística”, por Lucília Amador; “Eucaristia e partilha fraterna de bens”, por Diác. José Alves; “Eucaristia e jovens”, por Pe. Rui Barnabé, SDPJ e Jovens de Esgueira; e “Eucaristia e celebração com crianças”, por Pe Joaquim Martins e Catequistas de Esgueira.

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