Moçambique: Vítimas do terrorismo em Cabo Delgado têm falta de alimentos

A população “vai sofrer”, alerta o diretor da Cáritas de Pemba

Lisboa, 02 mar 2023 (Ecclesia) – O diretor da Cáritas de Pemba (Moçambique) alerta que a população daquela província moçambicana “vai sofrer” com a falta de alimentos.

“Agora, só temos três projetos e isso não é suficiente para o número de deslocados que Cabo Delgado tem”, lamenta Manuel Nota em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS) enviadas à Agência ECCLESIA.

Na missão de Ocua, uma missionária portuguesa fala em famílias, com bebés, que “comem folhas para enganar a fome”.

“É uma consequência indireta da guerra na Ucrânia, com o mundo de olhos postos no apoio aos ucranianos, outros conflitos passaram para plano secundário e isso está a refletir-se na ajuda humanitária para milhares de pessoas. A situação em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é um exemplo trágico desta realidade”, lê-se no comunicado.

Manuel Nota, diretor da Caritas Diocesana de Pemba, alerta que vai ser difícil alimentar todos os deslocados, cerca de um milhão, vítimas do terrorismo que assola a região desde 2017.

Com a falta de recursos, que está a afetar profundamente também o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, a tendência na Cáritas de Pemba é para reduzir o número de projetos e, como consequência, o número de pessoas beneficiadas.

“A Cáritas reduziu consideravelmente o número de projetos que está a implementar, sobretudo os de emergência, de dois, três meses. Já não temos financiamento. Estamos a implementar projetos de emergência, sim, mas para a construção de abrigos e não de assistência alimentar”, explica Manuel Nota.

Também está a ser privilegiado o apoio para a compra de equipamentos agrícolas para que os deslocados, que tenham alguma porção de terreno à sua disposição, possam dedicar-se à agricultura.

“Dar sementes e instrumentos agrícolas no lugar de dar alimentos, porque o alimento come-se e desaparece.”

A somar-se à falta de recursos, há ainda o problema da insegurança.

Apesar das autoridades procurarem transmitir “uma mensagem de que as coisas estão a mudar e que os terroristas representam cada vez uma menor ameaça, a verdade é que os ataques prosseguem”, acentua.

O terrorismo, a fome e a pobreza extrema são uma triste realidade nesta região norte de Moçambique.

Fátima Castro, a jovem missionária portuguesa em Ocua, diz que “as causas” para esta realidade são imensas.

“A guerra, os ciclones, as inundações ou secas extremas e a cultura de (in)subsistência.”

LFS

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