D. Luiz Lisboa foi recebido no Vaticano esta sexta-feira e disse à Agência ECCLESIA que o encontro foi «muito importante» para vencer «todo o tipo de indiferença» em relação aos conflitos em curso
Cidade do Vatiano, 19 dez 2020 (Ecclesia) – O bispo de Pemba disse hoje à Agência ECCLESIA que o encontro com o Papa, esta sexta-feira, foi uma “oportunidade muito especial” e uma ocasião para confirmar o apoio de Francisco ao povo de Cabo Delgado.
“Ele quis receber-me e reforçou o seu apoio a Cabo Delgado e ao povo que está a sofrer e tem todo interesse em continuar a apoiar-nos e ajudar-nos até vencermos o momento tão difícil pelo qual o povo está a passar”, disse D. Luiz Lisboa.
O Papa Francisco recebeu esta sexta-feira ao bispo de Pemba, diocese situada no norte de Moçambique onde perduram conflitos armados há três anos que já provocaram 2 mil mortos e 600 mil deslocados.
“O Papa está a colocar a periferia no centro”, disse D. Luiz Lisboa à Agência ECCLESIA, após o encontro que teve no Vaticano, acrescentando que “a proximidade, o apoio do Santo Padre ao povo de Cabo Delgado, no seu sofrimento, tem sido muto importante”
“Penso que essa proximidade dele, o apoio, tem sido importante para que outros apoios venham, para que a comunidade internacional olhe para Cabo Delgado e vença todo o tipo de indiferença e possa ajudar neste momento crucial na história de Cabo Delgado”, acrescentou.
O bispo de Pemba descreveu os momentos em que esteve com o Papa como “um encontro muito fraterno”, com diálogo sobre “muitas coisas” para reafirmar o apoio de Francisco ao povo de Cabo Delgado
D. Luiz Lisboa sublinhou que a oração, a informação sobre o que está a acontecer na província de Cado Delgado e a solidariedade são três formas de ajudar o povo que está a ser vítima de conflitos armados.
“Todos nós devemos ter o empenho que vai num triplo trabalho: rezar pela situação de Cabo Delgado, falar para que mais pessoas saibam e possamos vencer a indiferença que ainda existe por parte alguns grupos ou países e ser solidário”, afirmou.
“Casa um tentar fazer um gesto, o que puder, sobretudo agora no tempo de Natal, que é um convite a sermos mais irmãos, a deixarmos Deus entrar e tomar conta da nossa vida, que possamos ter gestos concretos de solidariedade para com esse povo”, acrescentou.
Desde 2017, a província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, tem sido atingida por conflitos armados provocados por grupos rebeldes, que já causaram 2 mil vítimas mortais e 600 mil deslocados.
Para o bispo de Pemba, as “motivações económicas estão em primeiríssimo lugar” na origem dos conflitos, considerando também o extremismo religioso “um elemento importante, mas não é o principal”, uma vez que “as guerras têm acontecido onde há muitos recursos naturais”.
D. Luiz Lisboa falou sobre a situação de conflito em Cabo Delgado num encontro promovido por organizações católicas de Portugal, na última quarta-feira, onde referiu o esquecimento a que a região foi votada pelo Governo moçambicano, que não tem possibilidade de “travar o conflito”, e apelou à ajuda da comunidade internacional, nomeadamente a União Europeia, presidida por Portugal a partir do dia 1 de janeiro de 2021.
“Portugal faria um grandíssimo favor se levasse a debate na União Europeia o uso dos recursos, pelo mundo fora: como estamos a enfrentar a situação? Que tipo de submissão, de novo colonialismo estamos a praticar em relação aos recursos que há em África e outros lugares mais pobres do mundo”, afirmou D. Luiz Lisboa na ocasião.
Na última quarta-feira, o responsável pela diplomacia europeia, Josep Borrell, pediu ao ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, que visite Moçambique como seu enviado para se inteirar sobre a situação em Cabo Delgado com as autoridades moçambicanas.
PR