Moçambique: País «à beira do colapso» com «escalada de violência» e «Estado autocrático»

Consórcio Mais Integridade, que procura a transparência e integridade do ciclo eleitoral denuncia «lógica de amedrontamento» da sociedade e questiona resultados das eleições do «pior governo da história da democracia de Moçambique»

Foto EPA/Lusa

Maputo, 23 out 2024 (Ecclesia) – O presidente do ‘Consórcio Mais Integridade’, que procura a transparência e integridade do ciclo eleitoral, disse à Agência ECCLESIA que Moçambique está “à beira de um colapso” mas que as Igrejas e as organizações da sociedade podem ajudar.

“Eu acho que, internamente, há instituições que podem ter um papel importante. A sociedade civil, as Igrejas, podem ser um elemento para ajudar o processo de diálogo, para além dos parceiros internacionais que apoiam Moçambique há muito tempo e que, uma escalada de violência pode afetar os vários projetos que têm no país”, clarifica Edson Cortez, presidente do Consórcio.

“O importante é mostrar, principalmente as elites da Frelimo, que um conflito de tensões de nível urbano tem um condão destrutivo muito forte: a maior parte dos apoiantes são jovens que não têm nada na vida, que procuram sair da pobreza, lutam dia a dia para poder sobreviver. Têm muito pouco a perder”, adverte ainda.

O responsável pede “uma plataforma de negociação” mas receia que “com este radicalismo e esta forma de pensar” do partido no poder, “não haja espaço de manobra para negociar”.

Edson Cortez condena o assassinato no dia 19, de Elvino Dias, advogado do candidato presidencial, e Paulo Guambe, mandatário do ‘Podemos’, partido da oposição que conta com o candidato presidencial Venâncio Mondlane, e que anunciou mais dois dias de greve, coincidentes com os dias de apresentação dos resultados oficiais, das eleições, esperados no dia 24, já depois dos protestos e de uma greve esta segunda-feira.

“Como é que mandam matar um mandatário de partido e o assessor jurídico que está a ter, honestamente, a melhor performance eleitoral do ‘Podemos’, num contexto de morte espetacular, com mais de 25 tiros, um cenário ‘hollyodesco’. Num contexto de eleições em que estamos, num processo de divulgação dos resultados, mandar matar as pessoas daquela forma é só para ser alguém que está preparado para iniciar um conflito de desestabilização no país. Não são essas pessoas que estarão disponíveis para abrir uma plataforma de diálogo”, lamenta.

O Consórcio Eleitoral “Mais Integridade” foi constituído em 2022 com o objetivo de contribuir para a transparência e integridade do ciclo eleitoral 2023-2024, e é composto pela Comissão Episcopal de Justiça e Paz (CEJP) da Igreja Católica, Centro de Integridade Pública (CIP), Núcleo das Associações Femininas da Zambézia (NAFEZA), Solidariedade Moçambique (SoldMoz), Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), Capítulo Moçambicano do Instituto para Comunicação Social da África Austral (MISA Moçambique) e Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência (FAMOD).

“Aquilo não é só para calar as pessoas que foram assassinadas, como também para mandar recado a todas as outras pessoas como nós, que temos estado a denunciar irregularidades no processo eleitoral. Estamos todos de sobreaviso, que aquilo que aconteceu com eles (Elvino Dias e Paulo Guambe) pode acontecer connosco a qualquer momento. É uma lógica de amedrontamento da sociedade em geral”, explica.

O responsável critica o presidente do Governo não se ter manifestado sobre o assassinato no dia 19, ignorando a morte de “figuras importantes do partido da oposição” e questiona como é que “o pior governo da história da democracia de Moçambique, com a pior performance governativa, consegue o melhor resultado eleitoral”.

Edson Cortez critica a atuação da polícia que indica ser uma “polícia partidária”: “A polícia é essa que nós, ao longo destes últimos anos, temos vindo a reclamar e da sua inoperacionalidade, que invoca não ter meios, mas que aparece com helicópteros, armas, com aparato e um equipamento fora de série, mas não consegue lutar contra o crime, não consegue controlar a onda de raptos e isso deixa-nos cada vez com mais certeza que há falta de vontade política para lidar com os assuntos da criminalidade”, denuncia.

“Isso mostra um Estado que já não precisa fingir para ninguém que é um Estado autocrático, onde não há liberdade de expressão”, sublinha.

As eleições em Moçambique, no passado dia 9 de outubro, incluíram votações para as presidenciais, legislativas e para assembleias e governadores provinciais; a Comissão Nacional de Eleições tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, e a expetativa é que os resultados venham a ser apresentado este dia 24.

LS

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