No coração do Islão, em Pemba, missionário espanhol sonha com Igreja que seja sinal de diálogo
Paulo Aido, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, em serviço especial para a Agência ECCLESIA
Pemba, Moçambique, 16 nov 2021 (Ecclesia) – O padre Eduardo Roca de Oliveira, missionário espanhol em Pemba, no norte de Moçambique, permaneceu ao lado da população durante os ataques terrorista no território e sonha agora com um gesto de reconciliação entre cristãos e muçulmanos.
“Sou uma presença de Deus, uma presença pobre, mas uma presença da sua misericórdia e do seu acolhimento”, refere o sacerdote à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
O missionário vive em Mahate, no meio do bairro que é o coração do Islão na cidade de Pemba e que, “de algum modo se preparou e surgiu a insurgência dos grupos terroristas do norte”.
Há quatro anos está a nascer, nessa localidade moçambicana, uma nova igreja católica; quando o padre Eduardo Roca de Oliveira chegou, a missão não tinha qualquer sacerdote junto da população.
“E Pemba era, toda ela, uma cidade muçulmana há mais de mil anos”, assinala o missionário dos padres Monfortinos.
No auge dos ataques terroristas, no final do ano 2020, a situação de insegurança tornou-se de tal forma preocupante que a embaixada de Espanha pediu que o padre Eduardo deixasse o local.
“Os ataques terroristas eram cada vez mais próximos e, sobretudo depois do ataque a Palma, que foi especialmente trágico, a embaixada de Espanha pediu-me a mim e a todos os espanhóis para abandonarmos a região indo para zonas mais seguras, para Nampula ou até mais para o sul”, indica o missionário, em Mahate desde 2012.
“Se fosse embora, seria até uma traição ao povo, à minha missão, uma traição a Jesus”, acrescenta.
O padre Eduardo Roca de Oliveira diz que, nesta década em Moçambique, criou “laços” e vê a comunidade local como a sua “família”.
Ao lado da antiga capela dos padres Monfortinos está a nascer agora, com o apoio da Fundação AIS, um novo espaço para a comunidade cristã local, que vive na periferia do bairro, predominantemente muçulmano.
“O bispo disse-me que estava a desafiar o Espírito Santo, pois tinha começado a construir sem ter como terminar a obra. Ele faz essa piada comigo e de facto tem sido assim”, indica o missionário espanhol.
O religioso tem sido um promotor do diálogo inter-religioso e espera que a nova igreja seja um lugar de acolhimento.
“Estamos a construir uma igreja católica no meio de sete mesquitas, onde a presença cristã está mais na periferia”, precisa o sacerdote, de 53 anos de idade, para quem “é preciso dar testemunho da presença de Cristo no meio de todos”.
AIS/OC