Moçambique: «O que se está a assistir neste momento é trágico» – D. Diamantino Antunes

Novo bispo de Tete é português e tem uma vasta experiência pastoral no país, como missionário da Consolata

Foto Instituto Missionário da Consolata

Inhambane, 22 mar 2019 (Ecclesia) – O padre português Diamantino Antunes, que foi hoje nomeado pelo Papa Francisco como novo bispo da Diocese de Tete, em Moçambique, abordou na sua primeira mensagem “a ferida aberta” no país pelo ciclone Idai.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o novo bispo lamenta “a calamidade natural que atingiu também parte da zona sul da Diocese de Tete” e mostra-se empenhado em colaborar no trabalho da Igreja Católica, de ajudar a abrir “caminhos de esperança” para as populações.

D. Diamantino Antunes, de 53 anos, integra o Instituto Missionário da Consolata e o seu percurso pastoral tem estado desde sempre ligado a Moçambique, com passagens por regiões como Mauá e Cuamba, na Província de Niassa, e mais recentemente em Inhambane, na Província com o mesmo nome.

“Parece incrível, mas em Inhambane onde estou há seca, não chove, e isto a menos de 800 quilómetros da Beira, onde os efeitos do ciclone mais se fizeram sentir. Este é um ano terrível, há zonas como a zona centro onde tem chovido imenso, inundações, rios que transbordam, ciclones, e outras zonas como a zona sul onde não chove e o ano agrícola está comprometido”, descreve aquele responsável.

Sobre a situação na região da Beira, onde “tudo ficou destruído” devido à passagem do ciclone Idai, o novo bispo de Tete chama a atenção para o contexto “muito difícil” das populações, devido à “água que invadiu tudo”, mas também “ao isolamento” de certas regiões, fatores que “dificultam o acesso e a chegada da ajuda”.

“O país na sua história já ultrapassou momentos muito difíceis, mas o que se está a assistir neste momento é trágico”, salienta D. Diamantino Antunes, que enaltece no entanto a mobilização que esta catástrofe tem gerado em Portugal e no plano internacional.

“Sem dúvida que o apelo à solidariedade também chegou bem longe e tem havido uma resposta muito positiva, uma onda de solidariedade que poderá vir a dar esperança a estas pessoas que perderam tudo”, acrescenta.

A Diocese de Tete foi atingida por várias inundações antes da chegada do ciclone Idai, mas neste momento “a situação está controlada” neste território, ressalva o novo bispo.

Recorde-se que os efeitos da catástrofe natural  já provocaram pelo menos 259 mortos em Moçambique, mas há ainda a registar cerca de uma centena de vítimas no Zimbabué e também outras 56 no Malawi, para além de um número elevado de feridos e desaparecidos, incluindo pelo menos 30 portugueses.

Foto Lusa

Olhando para o trabalho que poderá desenvolver na Diocese de Tete, este responsável, que desempenhava atualmente a função de superior regional do Instituto Missionário da Consolata em Moçambique, destaca a oportunidade de “trabalhar no anúncio do Evangelho numa das “primeiras” províncias a serem criadas naquele país, e “onde chegaram os primeiros missionários”.

“Vou com uma grande humildade, com uma grande disponibilidade para servir aquela Igreja, que tem raízes antigas mas que também tem grandes carências”, frisa D. Diamantino Antunes.

Que lembra sobretudo as marcas deixadas “pela guerra, primeiro colonial e depois civil” e o facto de se tratar “de uma zona muito periférica”, situada “na parte mais ocidental de Moçambique”, com “muitas zonas de difícil acesso” e “missões que ainda não têm presença de missionários”.

“É fundamental contribuir para o crescimento do número de missionários, de irmãos e irmãs, e também do clero local, para a implantação e consolidação da Igreja”, sustentou.

Os Missionários da Consolata estão presentes em Moçambique desde 1925, por conseguinte estão quase a assinalar 100 anos de trabalho neste país lusófono.

O sacerdote português, natural de Albergaria dos Doze, em Leiria, é o primeiro missionário português do Instituto Missionário da Consolata (IMC) a ser eleito bispo.

Para o novo responsável pela Diocese de Tete, a nomeação do Papa acontece devido à sua experiência e ligação pessoal com o povo moçambicano, mas também muito devido à experiência da congregação neste país lusófono.

“Penso que é também um dizer obrigado a uma congregação que ao longo destes anos tem prestado um serviço relevante em Moçambique e que se tem regido por uma amor muito grande à Igreja local”, completa D. Diamantino Antunes.

A ordenação episcopal de D. Diamantino Antunes, e a tomada de posse como bispo, está para já marcada para dia 12 de maio.

A celebração, que acontecerá no Domingo do Bom Pastor em Tete, será presidida por D. Inácio Saúre, arcebispo de Nampula e também membro dos Missionários da Consolata, que dirigiu os destinos da Diocese de Tete entre 2011 e 2017.

JCP   

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