«Católicos e a Igreja esperamos que a paz passe do papel para a vida» – Padre Rui Ferreira
Maputo, 04 set 2019 (Ecclesia) – O padre Rui Ferreira, missionário português em Moçambique, afirmou hoje que as pessoas na capital Maputo estão “mobilizadas para receber o Papa da melhor maneira possível”, preparadas para “cantar, dançar e escutá-lo”, entre hoje e esta sexta-feira.
“O ambiente é festivo, de expetativa, para receber da melhor forma o Santo Padre. Como vem apenas à cidade de Maputo, à capital, deslocaram-se peregrinos de todas as províncias e de todas as dioceses, há províncias que têm mais do que uma diocese”, disse o sacerdote da Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN).
Em declarações à Agência ECCLESIA, o padre Rui Ferreira deu como exemplo que da Diocese de Pemba, “uma das provinciais mais a norte – Cabo Delgado -, viajaram 118 pessoas que “estão a ficar alojados nas paróquias, em casas de famílias” e também os padres e religiosos estão em casas de congregações, no seminário da SMBN receberam dois padres de Nampula.
O sacerdote observa que há mais pessoas na capital moçambicana e que das dioceses vizinhas do sul, de Xai-Xai e Inhambane, “com certeza vem mais gente”, Pemba fica a 2500 quilómetros e a maior parte das pessoas viajaram “por terra, por autocarro, de forma que é um bocadinho custoso”.
Na quarta viagem de Francisco ao continente africano, o Papa vai visitar Moçambique, Madagáscar e a ilha Maurícia, com passagens pelas cidades de Maputo, Antananarivo e Port Louis, até 10 de setembro.
“Tem havido uma vasta preparação a começar pela base nas paróquias, mas nos seminários, e outras partes da sociedade civil. Toda a gente espera, não só os católicos, os cristãos, mas da sociedade civil em geral, uma expetativa grande e curiosidade em receber o Papa”, desenvolveu.
Numa mensagem ao povo de Moçambique, antecipando a viagem, o Papa Francisco destacou a importância da “reconciliação”; no dia 1 de agosto, o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, assinaram um acordo de cessação das hostilidades.
Neste contexto, o sacerdote português destaca que “há uma nova esperança” e comenta que um dos “objetivos principais” da visita apostólica aos três países “é que seja consolidada a paz”.
“Uma paz efetiva não só em Moçambique, mas em todo o continente africano, que só pode vir por meio do perdão, da reconciliação e da justiça. O que católicos e a Igreja esperamos é que a paz passe do papel para a vida”, realçou, e acredita que “também é isso que o Papa deseja e a vários níveis vai fazer”.
Em Moçambique, divulgou o sítio ‘Vatican News, 50% dos habitantes seguem cultos tradicionais, 28% são católicos e 20% muçulmanos; para o padre Rui Ferreira, o diálogo inter-religioso “terá que ter, cada vez mais, uma importância crescente”, até pelos problemas que estão a acontecer no norte do país lusófono, em Cabo Delgado “e em várias partes em que as pessoas têm que se encontrar dos vários credos para se conhecer e dialogar”.
“Existe um risco, e começaram nestes dias a circular nas redes sociais mensagens preocupantes de grupos islâmicos a condenar e avisar os muçulmanos que é um erro e o Papa é o chefe dos infiéis. É um desafio o diálogo inter-religioso. Aqui em Maputo e mais no sul também o ecumenismo”, exemplificou, manifestando preocupação com a “proliferação de seitas, indivíduos que criam uma Igreja e começam a aproveitar-se corrompendo a religião”.
Para o missionário português, reitor e formador no Seminário da Matola, instituição educativa da SMBN com 10 seminaristas, na capital moçambicana, a visita do Papa “ainda dará mais força” às vocações mas salienta que “é preciso discernir bem as vocações” e destaca que têm um padre da Arquidiocese de Nampula que é “o primeiro moçambicano da história da Igreja no Japão”.
“É preciso da parte da Igreja discernir bem e formar bem estes candidatos ao sacerdócio sejam diocesanos, sejam religiosos, ou de outras congregações, sociedades de vida apostólica”, frisou.
| Moçambique tem 23 bispos (31 de julho de 2019), 297 sacerdotes diocesanos, 362 sacerdotes religiosos, 2 diáconos permanentes, 1207 religiosas professas. Há no país 17 membros de Institutos Seculares, 97 missionários leigos e 56 871 catequistas, há 587 seminaristas menores e 599 seminaristas maiores. |
Na opinião do padre Rui Ferreira o tema ambiental é fundamental no país lusófono que tem, por exemplo, em Pemba um “sítio paradisíaco, a terceira maior baia do mundo”; na Província de Cabo Delgado estão “grande parte das riquezas naturais” de Moçambique, “nomeadamente gás natural”.
“A criação é altamente desprezada, vilipendiada, ainda agora com os ataques no norte, não havendo meios suficientes do Exército, estão a saquear as florestas, as madeiras preciosas e animais”, exemplifica, relatando o que ouviu nas notícias.
“Como o Papa diz: Aqui observa-se o clamor da natureza. É o mesmo clamor dos pobres, onde há mais pobreza, também a criação é mais agredida, é preciso criar maior consciência de que a criação também sofre, é um dom e não é ilimitada”, acrescentou, esperando os alertas do Papa, com “saudações para Portugal”.
As línguas oficiais em Moçambique são o português e o bantu; a capital Maputo tem 1, 1 milhões de habitantes; a população do país é de 27,1 milhões de habitantes.
CB/OC
