Moçambique: Esperança no futuro com sentimentos de tristeza e frustração (c/vídeo)

Simão Cardoso Leitão e padre Carlos Jacob falam em povo lutador

Foto: Lusa

Lisboa, 02 abr 2019 (Ecclesia) – Um sacerdote, dos Missionários de São João Baptista (MSJB), que esteve 13 anos em Moçambique e um ex-coordenador de projetos de cooperação destacam a força da população quando é preciso reconstruir, apesar do sentimento de “tristeza” pela devastação do ciclone Idai.

“É um povo capaz de olhar, de se reerguer. Dá um sentimento de esperança em relação ao futuro”, disse Simão Cardoso Leitão, antigo coordenador da Fundação Fé e Cooperação (FEC) em Moçambique.

Em declarações à Agência ECCLESIA, destaca que este é “um povo muito combativo”, com “grande resiliência”.

“O sentimento é misto, primeiro lugar grande frustração. Não só pelos projetos que desenvolvemos mas, também, pelo trabalho que muitos outros fazem. Recebemos mensagens a dizer está tudo perdido”, acrescenta.

Já o padre Carlos Jacob revela “uma tristeza profunda, uma dor de coração” ao ver as imagens de destruição do Ciclone Idai em Moçambique.

“Esta dor de tudo perder que vivi junto deste povo, que sofre e continua a sofrer. Os relatos são terríveis e sentimo-los de outra forma porque os vivemos em tantas ocasiões”, acrescentou o sacerdote que viveu 13 anos no país lusófono, 10 anos em Murrucola, “no interior profundo de Moçambique”, e três anos no Marrere, na periferia de Nampula.

Segundo o missionário da Congregação de São João Baptista, “recomeçar é sempre tarefa titânica”, que traz imensas dificuldades, “face à falta de apoios existentes”, e essa “vulnerabilidade é bem visível” quando ficou “tudo destruído”, mesmo os sítios onde as pessoas “procuravam um refúgio seguro, onde procuravam a sustentabilidade”.

Neste contexto, o religioso explica que a presença e ação do missionário como “veículo da novidade evangélica” já está ultrapassada, estão “inseridos no povo”, sentem “as preocupações que eles têm” e de terem “melhor saúde e educação”, onde se destaca também o próprio Governo que tem feito desses dois assuntos campanhas para que “as pessoas tenham maior escolaridade, tenham acesso à saúde básica, aos cuidados mínimos”.

“O missionário é professor, construtor, médico, não podemos reduzir a atividade apenas a uma faceta. Com a colaboração do próprio povo ultrapassamos muitas vezes dificuldades que à primeira vista eram impossíveis”, desenvolveu o padre Carlos Jacob.

Depois do rasto de destruição deixado pelo ciclone Idai, a 14 de março, o antigo coordenador da FEC em Moçambique contextualiza que, num primeiro momento, “vai ser complicado” para as organizações não-governamentais, que estão “a fazer um esforço enorme” para encontrarem “mais recursos”, fazer o seu trabalho, “agora, concentrados no apoio às populações”.

“Vêm anos de esforço para voltar a reerguer instalações, comprar maquinaria, formar pessoas, há muito trabalho pela frente”, acrescentou.

Uma semana depois da passagem do ciclone, o arcebispo da Beira, D. Cláudio Dalla Zuanna, afirmou que “não há espaço para o desespero” e destacou a “força” de uma população jovem para superar a catástrofe, em declarações à Agência ECCLESIA.

Simão Cardoso Leitão concordou assinalando que “mais de 50% das pessoas” são consideradas jovens ou crianças, e a juventude que “traz renovação tem muito mais capacidade de olhar para a frente”.

A passagem do ciclone Idai afetou mais dois países, o Zimbabué e o Maláui, e as autoridades moçambicanas anunciaram hoje que o número de mortos subiu para 598.

HM/CB

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