Moçambique: Ciclone Freddy, «estacionado» em Quelimane, deixou destruição e chuva «ainda persiste» – D. Claudio Dalla Zuanna

Arcebispo da Beira alerta para subida das águas nos rios e teme que próximos dias mostrem maiores estragos

Foto: Lusa/EPA

Beira, Moçambique, 13 mar 2023 (Ecclesia) – D. Claudio Dalla Zuanna, arcebispo da Beira, disse hoje que depois de dois dias do ciclone Freddy “estacionado” em Quelimane, os bairros periféricos estão inundados e as pessoas, “que não quiseram deixar as suas casas”, estão com dificuldades.

“O governo, depois do Idai (ciclone de 2019 que atingiu Moçambique e deixou muitos estragos), coloca alertas e tenta organizar centros de acolhimento nas escolas, mas as pessoas não abandonam as suas casas. Querem levar o pouco que tem, porque é a sua casa. Em tantos lugares há pessoas que se aproveitam do que fica para trás e muitas pessoas não querem sair das suas casas e procurar abrigo”, referiu à Agência ECCLESIA.

O ciclone Freddy persiste há mais de 20 dias na região, tendo contabilizado, a 24 de fevereiro, 10 vítimas mortais; depois de se ter deslocado, regressou a Quelimane onde permaneceu dois dias “estacionado” provocando, segundo informações preliminares do presidente do município, Manuel Araújo, cinco vítimas mortais.

A cidade de Quelimane está ao nível do mar, o que com fortes chuvas faz subir o nível das águas, inundando os bairros e deixando “tudo mais difícil”.

“A sensibilidade das pessoas já despertou depois da trágica experiencia do Idai, em 2019, na cidade da Beira. Quando percebem que um ciclone está a chegar tentam prevenir-se, com sacos de areia em cima dos telhados e chapas. Mas nos bairros da periferia, onde vivem as pessoas mais simples, as casas são de tão baixa qualidade que as paredes de matope desfazem-se com a água”, dá conta o arcebispo.

Foto: Lusa/EPA

O responsável pela diocese da Beira dá conta de árvores tombadas, postes de energia, telhados que voaram” e explica que as consequências não estão a ser “tão catastróficas como anteriormente” mas como a chuva persiste os rios vão subir o que poderão deixar maiores estragos.

O Município de Quelimane dá conta de 100 mil pessoas com necessidades de apoio, das quais mais de cinco mil se encontram em Centros de Acomodação Temporária.

“Devido a continuação de chuvas, ventos e marés altas o número poderá duplicar nas próximas horas”, explica um comunicado do município, datado de domingo, a que a Agência ECCLESIA teve acesso.

“Várias instituições públicas e privadas ficaram sem teto (chapas) incluindo do Hospital Provincial de Quelimane, com várias enfermarias inundadas e com infiltrações de água nas paredes e no teto, tendo atingido os serviços de Pediatria, Cuidados Intensivos, Sala de Operações/Cirurgia”, pode ler-se.

O comunicado dá conta de vários edifícios evacuados, “muitas casas destruídas, alagadas e sem teto e ou paredes”, escolas, instituições religiosas, equipamentos desportivos, “muitas estradas e pontes intransitáveis, árvores, postes de energia elétrica, telecomunicações e de fibra ótica, candeeiros de iluminação pública, e de semáforos caídos, barcos desaparecidos e transportados pela força das ondas para cima da ponte cais, tetos de mercados danificados, lojas sem teto e várias mercadorias molhadas”.

O município diz terem sido criados “vários centros de acomodação temporária em várias escolas e igrejas”.

Foto: Lusa/EPA

A cidade de Quelimane está “isolada por mar e ar” com as redes de telemóveis “desligadas por mais de 24 horas”.

Apesar das muitas dificuldades D. Claudio Zuanna fala de um povo “com esperança e resiliente” e de uma “vitalidade” entre pessoas jovens que “aguentam e seguem em frente”.

“São tantas as dificuldades na vida diária: em qualquer momento do ano há falta de trabalho, agricultura que depende da chuva e ela não vem. É um a vida muito esticada. Ou a pessoa desiste ou aprende a ser resiliente. Há uma vitalidade nas pessoas: é um povo jovem que não tem medo do futuro. Há uma energia que leva as pessoas a aguentar e seguir em frente, mas faltam os meios”, aponta.

O responsável fala numa “evidência” que as alterações climáticas mostram e afirma que sendo um problema “complexo”, gostaria de ver decisões tomadas em benefício de populações que sofrem.

“O problema é complexo e não tem uma solução imediata mas às vezes quem tem poder de decisão segue outros interesses. Quando há situações de tragédia há respostas emotivas e imediatas mas que ao longo do tempo diminui. Na Beira, muitos edifícios públicos estão como o ciclone Idai deixou. As situações multiplicam-se tanto que também a nível internacional que as pessoas têm outras preocupações – são tantas as situações de crise que estas podem ser esquecidas”, lamenta.

LS

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