D. Luiz Lisboa diz que o Papa ajuda a trazer «periferia para o centro»
Roma, 21 dez 2020 (Ecclesia) – O bispo da diocese moçambicana de Pemba presidiu a uma Missa em Roma, este domingo, denunciando que guerra em Cabo Delgado “tem desrespeitado todos os direitos humanos”.
“É uma guerra insana, uma guerra violenta, uma guerra que tem absolutamente desrespeitado todos os direitos humanos. Uma guerra que tem tantas vítimas mortais, tantos mártires, e que tirou dos seus lugares cerca de 600 mil pessoas”, afirmou D. Luiz Lisboa, na homilia enviada à Agência ECCLESIA.
Na Missa que presidiu este domingo na igreja de Santa Maria al Monti, em Roma, dois dias depois de se encontrar com o Papa, o bispo de Pemba explicou que a guerra na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, tem “deixado a todos desconcertados” e “até há pouco tempo era um pouco escondida, abafada”, mas, agora, “não tem mais como esconder”.
“Muitas pessoas estão agora a interessar-se e a querer ajudar. Muita gente querendo ajudar para que os nossos irmãos não passem fome”, assinalou o missionário brasileiro.
Desde 2017, a província de Cabo Delgado tem sido atingida por conflitos armados provocados por grupos rebeldes, que já causaram 2 mil vítimas mortais e 600 mil deslocados.
O bispo de Pemba explicou que a sua presença em tinha “um grande significado para a Igreja de Moçambique e de maneira de muito particular para a Igreja de Cabo Delgado”, onde se encontra há quase 20 anos.
O responsável católico falou da sua audiência com o Papa, que durou mais de 40 minutos, destacando “o empenho, o interesse, a proximidade” que Francisco tem “mostrado em relação ao povo” e à Igreja em Cabo Delgado, em Moçambique.
Ele, que é o Papa da periferia, está a trazer a periferia para o centro e isso tem tudo a ver com encarnação. Deus escolheu Maria, essa jovem simples de Nazaré, José, e Jesus nasce entre os pobres, entre os pastores, no meio de gente simples: Esse Natal vai ser impossível celebrá-lo sem olhar para Jesus e deixar de pensar naqueles meninos, naquelas meninas, que estão nas tendas, nas pequenas barracas, onde estão os deslocados”.
D. Luiz Fernando Lisboa salientou que a Igreja Católica em Cabo Delgado tem feito um “trabalho muito forte de apoio psicossocial” para ouvir as histórias, os dramas das pessoas, “a dor do povo, tudo o que passaram, para que possam refazer-se, levantar a cabeça e enfrentar a situação” e, nesse trabalho, “também falam de Deus, da esperança, de um novo horizonte”.
“Peço a cada um que procurem rezar bastante por Cabo Delgado para que termine essa guerra. Falem dessa situação para que possamos vencer a indiferença, quanto mais gente souber, vai sentir que temos de nos preocupar, e ser solidário, sempre podemos fazer alguma coisa”, referiu na sua homilia.
Este sábado, um dia depois da audiência com o Papa, o bispo de Pemba disse à Agência ECCLESIA que o encontro com Francisco foi uma “oportunidade muito especial” e uma ocasião para confirmar o seu apoio ao povo de Cabo Delgado.
No dia 15 de dezembro, participou numa conversa online, promovida por sete organizações católicas portuguesas com cerca de 250 pessoas, onde pediu à presidência Portuguesa da União Europeia que atue nas causas da guerra em Cabo Delgado.
CB/OC