Moçambique: Bispo de Pemba denuncia crise humana agravada por falta de ajuda e estação das chuvas

D. Luiz Fernando Lisboa pede vacinas contra a Covid-19 para África e critica governos negacionistas

Foto: Lusa

 

Lisboa, 31 jan 2021 (Ecclesia) – O bispo de Pemba, em Moçambique, denunciou em entrevista à Renascença e Agência ECCLESIA, a crise humana que atinge a província de Cabo Delgado, agravada pela falta de ajuda e a estação das chuvas, que afeta os deslocados.

“As pessoas que estão nos acampamentos, sobretudo na região de Metuje, a 40 e poucos quilómetros de Pemba, estão debaixo de lonas, de barracas muito precárias e agora enfrentam – além da falta de alimentação, de um lugar digno, etc. – também o problema da chuva”, referiu D. Luiz Fernando Lisboa.

O responsável falava depois de mais de 30 organizações da sociedade civil portuguesa terem pedido ao Governo português e à União Europeia que se envolvessem na solução da crise humanitária que a atinge a região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

Desde 2017, esta província tem sido atingida por conflitos armados provocados por grupos rebeldes, que já causaram 2 mil vítimas mortais e 600 mil deslocados.

O bispo de Pemba considera que as autoridades locais demoraram a reagir à crise e destaca que “a guerra, infelizmente, continua”.

“Nestes últimos dias, tivemos alguns ataques em várias cidades – Palma, Macomia, Nangade. As poucas pessoas que ficaram, com estes ataques a tendência é sair”, adverte o missionário brasileiro.

Com mais de 600 mil deslocados internos na região, o bispo de Pemba admite que “é muito difícil ter ajuda suficiente para todos”.

D. Luiz Fernando Lisboa elogia o papel do Papa neste processo, evocando a audiência que teve com Francisco a 18 de dezembro, no Vaticano, um gesto “para mostrar que está preocupado com a guerra, com esta crise humanitária, e quer ver soluções, por parte das autoridades”.

O bispo de Pemba assume a intenção de continuar a ser uma voz ativa na defesa das populações.

Nós trabalhamos com as pessoas concretas, que têm dificuldades que passam por violências, por limitações que têm necessidades. Então, a Igreja em qualquer lugar, ela vai levantar a sua voz e, nalgum momento, ela vai ser a voz daqueles que não têm voz”.

A situação de crise obrigou a Igreja Católica a “reinventar-se”, apontando a um progressivo regresso à normalidade, após o final do conflito.

“Talvez seja possível com a ajuda externa que agora começamos a ter, sobretudo da União Europeia e da região, é possível que este conflito termine em alguns meses, embora eu não consiga quantificar o tempo”, aponta D. Luiz Fernando Lisboa.

Foto: Lusa

O missionário fala numa “nova esperança”, mas sublinha que a situação dos deslocados não se resolve “num passe de mágica”.

“São pessoas, são vidas, são histórias; e eu tenho dito que nós levaremos muitos anos para reconstruir”, aponta.

O entrevista aborda ainda a crise sanitária provocada pelos surtos de cólera e a Covid-19, uma preocupação crescente.

“Nós costumávamos dizer que a Covid para nós estava em segundo plano, só que agora Moçambique está a aumentar os casos de uma maneira assustadora. Nós temos em Pemba já vários casos”, adverte.

Neste contexto, o bispo de Pemba defende uma “distribuição mais equitativa das vacinas”.

Eu penso que os países têm direito a olhar para os seus cidadãos, mas nenhum país pode ficar a olhar só para si, só para dentro. Não é justo que os países corram para vacinar toda a sua população e que a Africa fique esperando para só quando terminarem”.

Atualmente no Brasil, por motivos de saúde, o bispo de Pemba lamenta a situação “calamitosa” no seu país natal.

“O que houve foi um negacionismo, quase que uma brincadeira com a pandemia, e o resultado está aí”, atira.

Octávio Carmo (Ecclesia) e Henrique Cunha (Renascença)

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Agência ECCLESIA

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