D. António Juliasse assinala que nos campos de reassentamento cada pessoa tem uma «história difícil de sofrimento» para partilhar
Cabo Delgado, Moçambique, 17 set 2021 (Ecclesia) – O administrador apostólico da Diocese de Pemba, no norte de Moçambique, disse que “a alimentação e a saúde continuam a ser uma urgência” para o grande número de deslocados que a Igreja tenta ajudar com o apoio de outras organizações.
“Quando caminhamos pelos campos de reassentamento, vemos crianças, adolescentes, adultos, idosos, cada uma tem uma história para contar e uma história difícil porque é uma história de sofrimento. Cada um quer também ser escutado e essas preocupações começam pelas necessidades básicas”, explicou D. António Juliasse ao secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, pela AIS, o administrador apostólico da Diocese de Pemba adianta que são “800 mil [pessoas] a precisar de ajuda” e a Igreja trabalha “estrategicamente apoiando e dialogando” com todas as organizações de apoio humanitário, das Nações Unidas, que têm mais meios, para verificarem as condições nos campos de reassentamento.
D. António Juliasse explica que há “falta de medicamentos em todo o lado” e têm muitas pessoas com “problemas de saúde” que procuram ajuda mas os postos de saúde não têm medicamentos, como num campo de reassentamento que visitou no distrito de Palama.
“Havia muitas famílias deitadas na sombra das suas casas e eu ia lá visitá-las e estavam doentes; Esta parte da assistência também é uma urgência”, acrescentou, alertando para o surgimento de surtos.
No âmbito da alimentação, o administrador apostólico de Pemba há sete meses, observa que as pessoas precisam comer todos os dias, “não é algo que se oferece uma só vez”, e há a necessidade de garantir que as famílias tenham meios para a sua produção agrícola – “enxada, machados, tudo o que for necessário para trabalhar o campo” – e “se têm terra para produzir”.
Os conflitos armados na região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, provocaram mais de 800 mil deslocados e de três mil mortes, segundo dados das autoridades moçambicanas, e estão na origem da crise humana que se agrava desde 2017.
Para além das “muitas necessidades de alimentação”, de água potável, e de saúde, existem “outras dimensões que podem melhorar a qualidade de vida” dos deslocados, como a assistência espiritual, para terem uma “vida cristã e religiosa”, e a assistência psicossocial que estão a realizar, com equipas treinadas que vão ao encontro dos deslocados.
D. António Juliasse adianta que as recentes vitórias dos militares não permitem pensar no regresso dos padres, das religiosas e da população, por exemplo em Mocímboa da Praia e em Palma a “segurança ainda é precária”.
A Igreja quer também contribuir para “a boa convivência” entre os deslocados e as populações locais, “a partir das lideranças cristãs influenciando as lideranças locais”.
O responsável diocesano adianta também que “não há casos reportados de tráfico de menores ou até abusos” e destaca a proteção das famílias, uma rede que “tem funcionado como um suporte muito grande” para que não aconteçam situações mais graves “no sentido da violação destes direitos tanto da criança como da mulher”.
D. António Juliasse destaca que a fundação pontifícia AIS tem “muita importância” no contexto desta Igreja lusófona, “tem sido uma companheira amiga”, muito próxima.
A Ajuda à Igreja que Sofre disponibilizou uma ajuda de emergência de “160 mil euros para o apoio às populações deslocadas, em março deste ano.
CB