Missões: Japão, a evangelização do silêncio onde «os valores são postos à prova»

Lisboa, 22 out 2014 (Ecclesia) – O padre Adelino Ascenso, novo superior geral dos Missionários da Boa Nova, era missionário no Japão desde 1998, mais concretamente em Osaka, e conta a sua experiência numa cultura “onde os valores são constantemente postos à prova”.

“Terá de propor-se [o Evangelho] principalmente pelo exemplo do dia-a-dia. Depois através do silêncio, que é fundamental, temos de caminhar com o japonês fazendo silêncio”, começa por explicar o sacerdote em entrevista à Agência ECCLESIA.

O padre Adelino Ascenso conta que numa paróquia estava preocupado com as suas homilias por causa do domínio da língua e um fiel disse-lhe: “Não te preocupes com o que dizes mas com a forma com dizes”.

“Creio que é através da nossa forma de estar que podemos transmitir essa mensagem ao povo japonês”, frisa o religioso dos Missionários da Boa Nova.

Neste país da Ásia, os cristãos são uma percentagem de 1%, os católicos japoneses cerca de 450 mil e os católicos estrangeiros cerca de 400 mil numa Igreja “bem organizada” e “bastante ativa” com “muitas instituições de caridade, jardins-infantis, escolas e universidades” em 16 dioceses, os bispos são japoneses e têm entre 800 a 900 padres.

O padre Adelino Ascenso destaca que o desafio para os missionários, mais do que trabalhar com a população idosa, é fazer com que a mensagem “toque o coração dos jovens”, “um desafio permanente” que experimenta nas paróquias e quando deu aulas, durante três anos, na Universidade Católica de Osaka.

“Creio que pode-se tocar o coração dos jovens através de atividades não muito ortodoxas como convida-los para pintarem uma tela (cinco ou seis metros). Fizemos duas vezes e foi sucesso, aderem com muito gosto”, explica sobre a sua paróquia onde a percentagens de jovens é grande mas a de “idosos é muito maior”.

Sobre o mês de outubro, por excelência missionário o entrevistado destacou a “importante e bela” mensagem do Papa Francisco, para o Dia Mundial das Missões, que “define a Igreja como aquela que nasceu em saída”.

“Se não sairmos do nosso egoísmo, do nosso mundo pequenino que construímos não estamos aptos ao verdadeiro encontro que nos alimenta”, comenta o padre Adelino Ascenso que assinala a tentação de cada um, de cada cristão, de cada missionário “de montar a sua tenda no lugar onde se sente bem”.

O missionário revela que “não é segredo” que o seu lugar é no japão mas alerta que quando existe “acomodação” é preciso “dar o salto, encontrar novas maravilhas”.

O padre Adelino Ascenso recorda que depois da ordenação foi convidado a dedicar-se ao desafio missionário de anunciar o Evangelho no Japão, para onde emigrou em 1998.

Depois, passados seis anos, em 2004, foi estudar para Roma e regressou ao Japão, em fevereiro de 2009, para “fundamentalmente” caminhar com as pessoas.

“Poderá dizer-se que isso é ser missionário em qualquer parte do mundo”, comenta o entrevistado que acrescenta que no Japão, no meio de uma cultura “completamente diferente os valores são constantemente posto à prova”.

Um missionário no Japão, segundo a experiência do padre português, começa por aprender frequentar a escola em japonês, “no mínimo são dois anos”, de segunda a sexta-feira, com uma carga horária até cinco horas.

“Passados dois anos, fala algum japonês de forma muito rudimentar e entende também de forma muito rudimentar. Depois começa a trabalhar oficialmente nalguma paróquia e então comunicando com as pessoas vai-se apercebendo que aquilo que pensou que sabia está errado”, desenvolve.

HM/CB

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