Missionários na mobilidade

Eugénia Quaresma da OCPM: «a catolicidade é a grande exigência que somos chamados a enfrentar e testemunhar em cada lugar que acolhe comunidades católicas» Ao pensar nas questões e nos desafios que a mobilidade humana colocam, e apoiando-me no testemunho recente dos nossos Coordenadores das Missões Católicas na Europa para os Migrantes de Língua Portuguesa, onde apresentaram a realidade que vivem e as suas necessidades, os desafios que enfrentam bem como propostas para o futuro. E porque o futuro já começou e hoje colhemos o que semeamos ontem, um pouco ainda na onda daquilo que foi a celebração do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, gostaria de fazer eco de uma Palavra que, para mim faz muito sentido e que, com a graça de Deus vai evoluindo. Disse Jesus: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.” (Mt 28, 19-20) Este mandato de Jesus: “fazei discípulos de todos os povos”, conduziu-me ao pensamento de que já existem discípulos de diversos povos. Agora são necessários que todos estes discípulos convivam como um só povo, nas paróquias, comunidades, Dioceses onde residem. Desta verdade estão cientes os nossos missionários e situando-me na Europa, e no testemunho que os mesmos fizeram chegar à OCPM e à CEMH, afirmo que a catolicidade é a grande exigência que somos chamados a enfrentar e testemunhar com naturalidade em cada lugar que acolhe comunidades católicas de origem estrangeira. Diversas nações, num determinado território, uma só família humana, capaz de relacionar-se e comunicar-se com outros são um propósito pastoral, que vai de encontro às orientações da Instrução Caridade de Cristo para os Migrantes. Algumas Missões falam de uma emigração lusófona, pois a nacionalidade portuguesa hoje é constituída por pessoas de diferentes origens por naturalidade ou casamento, o que nos faz repensar o conceito de identidade portuguesa. A identidade é algo que se constrói e evolui porque alimenta-se do diálogo inter e intrapessoal, intercultural. Se por um lado a constatação da diversidade da identidade sócio-cultural e religiosa de cada um dos países lusófonos é uma riqueza, por outro é vivida por alguns como fonte de conflitos, a língua que talvez tenha sido factor de aproximação num dado lugar, contudo não é suficiente para um entendimento e convivência fraterna. Logo a superação dos conflitos tem que assentar num referencial forte e universal, transcendente à natureza humana; O anúncio do Reino protagonizado por Jesus, em todo o Evangelho encerra um código de conduta que supera qualquer barreira linguística. O mandamento do amor é universal, expressa-se nos gestos quotidianos e concretos, difundidos também por S. Paulo na sua carta aos Coríntios, Gálatas… Testemunhando esta verdade surge como preocupação primeira na pastoral a transmissão da fé e o testemunho da fé. A catequese, as crianças, os jovens, os pais, não basta só pensar num repensar um catecismo específico, mas aproximar ir ao Encontro daqueles que se vão afastando de Deus, mas não dos sacramentos… Revitalizar a pastoral juvenil, e de casais. A importância de valorizar e potenciar a capacidade missionária de que cada baptizado é portador independentemente do seu país de origem. Apostando na sua formação é uma resposta que se apresenta face à falta de agentes pastorais. Não ficar apenas pelo Encontro e convívio com aqueles que falam a mesma língua mas sair desse conforto protector e nutritivo, para aprender a cooperar, dialogar e conviver com as pessoas do país de acolhimento. Ousar participar da vida Igreja local. São descobertas que umas missões já fizeram como essenciais para uma participação de pleno direito na sociedade de acolhimento e outras ainda estão a dar os primeiros passos. Continuar sempre a defender as vítimas das diversas formas de exploração laboral… As migrações, com todos os desafios que coloca, em diálogo com o Evangelho são caminho de salvação e realização da ambição divina. Fazer discípulos em todos os povos, e destes discípulos de diversas origens uma só família. Uma só família humana que, por ter este mandato de catolicidade, tem que obrigatoriamente aprender as vias do diálogo intercultural, inter-religioso e ecuménico. Eugénia Costa Quaresma, Adjunta do Director da OCPM

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