Missão: A «aventura» do acolhimento aos refugiados nas paróquias de Nova Oeiras e São Julião da Barra

Rita Sacramento Monteiro conta a história da família Aloush

Lisboa, 21 out 2016 (Ecclesia) – As comunidades paroquiais de Nova Oeiras e de São Julião da Barra, no Patriarcado de Lisboa, aderiram recentemente ao programa da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), acolhendo uma família da Síria.

Em entrevista à nova edição do Semanário ECCLESIA, publicada hoje, Rita Sacramento Monteiro, que tem estado envolvida na coordenação deste projeto, destaca uma “aventura” que começou a ser preparada há cerca de um ano.

“O momento em que fomos buscá-los ao aeroporto foi muito emocionante. Eu senti que ia buscar a minha família e que esperava por estas pessoas há muito tempo, que estavam muito longe e agora íamo-nos finalmente encontrar”, recorda a jovem.

Para a União Pastoral de Nova Oeiras e São Julião da Barra veio a família Aloush, uma mãe de 46 anos e um rapaz e uma rapariga de 15 e 20 anos, respetivamente.

Na Síria ficou ainda o pai, em Alepo, e existem ainda mais dois irmãos, mais velhos, um está também na Síria e outro na Turquia.

“O pai ainda trabalha em Alepo e continua lá, o que é uma situação difícil”, destaca Rita Sacramento Monteiro, salientando que a ideia é pedir “reunificação familiar” para que o patriarca da família possa vir para Portugal, processo que vai ainda levar algum tempo.

“A distância causa ansiedade, depois causa também muita ansiedade o facto deste pai e desta família terem ainda familiares e amigos a viverem num país que continua a ser fustigado por bombardeamentos”, lamenta a voluntária portuguesa.

Rita Sacramento Monteiro frisa a importância de “cuidar” destas pessoas, que vêm de contextos limite, de guerra e perseguição étnica e religiosa, que não tiveram outra escolha e que apenas buscam em Portugal “uma nova vida”.

“Ainda há muita gente que precisa de entender a necessidade de acolhimento, que está contra ou que não entende este acolhimento. E portanto cabe a cada um de nós, que vimos esta realidade, sensibilizar, desmistificar e informar as pessoas”, sustenta.

A voluntária da PAR já teve oportunidade de contactar com a realidade dos refugiados em campos de acolhimento na Sicília (Itália) e Lesbos (Grécia).

“Quando comecei a ver as notícias sobre esta crise humanitária, imagens de famílias, de pessoas a entrarem em barcos, a tentarem chegar a uma margem que é a Europa e a morrerem pelo caminho, senti que tinha que fazer mais”, explica a jovem.

Sobre a realidade que encontrou, Rita Sacramento Monteiro aponta sobretudo uma situação que deveria “ser temporária, mas não é”.

“Estas pessoas estão ali há meses, já passaram o Verão e vão passar o Inverno num acampamento à espera de uma resposta, à espera que a Europa se decida a acolher para poderem construir um novo futuro”, lamenta.

Daí que, na sua opinião, além da vontade da sociedade civil em acolher, que já existe, seja necessário também um forte compromisso político, que permita agilizar os processos de recolocação destes refugiados.

“O programa europeu previa recolocar 160 mil pessoas e há data de hoje recolocou entre 4 a 6 mil, está muito longe da meta que traçou”, alerta Rita Sacramento Monteiro.

Quanto à família Aloush e outras que ainda vão chegar a Portugal, a voluntária considera essencial que mais paróquias, instituições, comunidades se cheguem à frente para acolher refugiados, e que as pessoas estejam abertas a ajudar naquilo que podem.

“Posso ajudar dando aulas de português, dando roupa, dando um donativo porque o dinheiro efetivamente é importante para financiar estes projetos. Há muito a fazer e muitas pessoas com capacidade, com muitos talentos para colocarem a render, e eu deixo este apelo de vamos acolher, porque acolher vale de facto a pena”, conclui.

JCP

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