Missa Crismal

Homilia do Bispo de Lamego O presbitério de Lamego vive, na manhã desta quinta-feira santa, uma das manifestações mais expressiva da sua comunhão. Reunida à volta do bispo, no dia da instituição da Eucaristia e do sacerdócio, esta Assembleia quer ser, neste pontifical da bênção dos óleos, a voz consciente do hino de louvor proclamado por S. Paulo e que ouvimos na segunda leitura – tão bem sublinhado no cântico de entrada, o testemunho da união profunda com o Senhor, de quem permanentemente recebemos o dom do sacerdócio, e a prova da fraterna e solidária ligação à Igreja que servimos. Queremos sentir o Senhor muito próximo de cada um, e deixar-nos envolver pelo clima do Cenáculo, onde nasceu o nosso sacerdócio. A nossa participação nesta Eucaristia deveria dar-nos a consciência do dom absolutamente gratuito, incomensuravelmente superior à nossa frágil condição humana, que é o nosso sacerdócio ministerial. Para esta realidade é que Sua santidade Bento XVI, na recente Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, chama a nossa atenção, quando nos adverte: “É necessário que os sacerdotes tenham consciência de que, em todo o seu ministério, nunca devem colocar em primeiro lugar as suas pessoas, nem as suas opiniões, mas Jesus Cristo. Contradiz a identidade sacerdotal toda a tentativa de se colocarem a si mesmos como protagonistas da acção litúrgica. Aqui, mais do que nunca, o sacerdote é servo e deve empenhar-se por ser sinal que, como dócil instrumento nas mãos de Cristo, aponta para Ele.” Em relação aos fiéis e em ordem a uma celebração intimamente participada recomenda vivamente Sua Santidade as chamadas catequeses mistagógicas que hão-de “preocupar-se por introduzir no sentido dos sinais; esta tarefa – sublinha o Santo Padre – é particularmente urgente numa época acentuadamente tecnológica como a actual que corre o risco de perder a capacidade de perceber os sinais e os símbolos. Mais do que informar, a catequese mistagógica deve despertar e educar a sensibilidade dos fiéis para a linguagem dos sinais e dos gestos que unidos à palavra constituem o rito”. Mas “o primeiro modo de favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor condição para a participação activa” – lembraram os padres sinodais, como recorda a Exortação pos-sinodal. A seriedade desta atitude só é possível com a consciência bem formada do nosso ministério, como traduz o conselho que Sua Santidade nos dá: “Recomendo ao clero que não cesse de aprofundar a consciência do seu ministério eucarístico como um serviço humilde a Cristo e à Sua Igreja. O Sacerdócio, como dizia S. Agostinho, é um serviço de amor, é o serviço do Bom Pastor que oferece a vida pelas ovelhas”. O meio eficiente para conseguir este aprofundamento é, queridos padres, a devoção da Adoração Eucarística, tão insistentemente recomendada por Bento XVI: “Recomendo vivamente aos pastores da Igreja e ao povo de Deus a prática da adoração eucarística tanto pessoal como comunitária”. “O acto de adoração fora da Santa Missa prolonga e intensifica o que se fez na celebração litúrgica.Com efeito «somente» na adoração pode amadurecer um acolhimento profundo e verdadeiro.” “O sacerdócio ministerial requer, através da ordenação, a plena configuração a Cristo”. Bento XVI destaca, logo no início da Exortação Apostólica o gesto tão impressionante do lava-pedes que esta tarde vai recordar-se expressivamente também nesta Catedral, no Pontifical da Ceia. Prestemos atenção à reflexão do Santo Padre: “Jesus «amou-os até ao fim». Com estas palavras, o evangelista introduz o gesto de infinita humildade que Ele realizou: na vigília da sua morte, por nós na cruz, pôs uma toalha à cintura e lavou os pés aos seus discípulos.” Este comportamento é a melhor lição e o melhor enquadramento para a resposta de Jesus a uma discussão que havia de levantar-se entre os apóstolos naquela Ceia, sobre qual deles seria o maior, como proclamamos no Evangelho da Paixão, e certamente meditamos, no Domingo passado: Os reis das nações exercem domínio sobre elas, e os que têm sobre elas autoridade são chamados benfeitores. Vós não deveis proceder desse modo. O maior entre vós seja como o menor, e aquele que manda como quem serve.[…] Eu estou no meio de vós como quem, serve. É este o programa para a nossa vida pessoal e para toda a actividade pastoral que a Eucaristia celebrada e adorada permanentemente reclama e aviva, e que o testemunho da nossa vida há-de proclamar com transparência. O propósito é claro e corresponde a um pedido que nos faz Sua Santidade, tornando-se ressonância da vontade manifesta dos Padres Sinodais: “Recomendo aos sacerdotes «a celebração diária da Santa Missa, mesmo quando não houver a participação de fiéis». Tal recomendação é ditada, antes de mais, pelo valor objectivamente infinito de cada celebração eucarística; e é motivada ainda, pela singular eficácia espiritual, porque, se vivida com atenção e fé, a S anta Missa é formadora no sentido mais profundo do termo, enquanto promove a configuração a Cristo e reforça o sacerdote na sua vocação.” O Espírito Santo de que Isaías se sentia possuído no texto que Jesus na Sinagoga de Nazaré aplicou a si próprio, nos dê a graça de nos sentirmos comprometidos na missão, com a fidelidade, por parte de cada um de nós, àquele hoje de serviço e plena disponibilidade, que o Senhor proclamou: Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir. “É em virtude do Espírito que o próprio Cristo continua presente e activo na Sua Igreja, através do centro vital que é a Eucaristia”, di-no-lo também Bento XVI. O ano passado anunciava nesta altura a convocação do Conselho de Presbíteros. Anuncio-o também para o próximo dia 1 de Junho. Convido-vos também a todos para a Assembleia do Clero que terá lugar na proximidade do Dia da Igreja Diocesana. E, se Deus quiser, com a colaboração do nosso Instituto de Teologia, o tema da próxima formação permanente do Clero, em 12 e 13 de Setembro, será a Exortação Sacramentum Caritatis que inspirou esta homilia. Como sempre, neste ambiente de Cenáculo, agradecemos ao Senhor a graça que foi e é para a Diocese a ordenação sacerdotal dos Padres Hermínio Bernardo dos Santos, Jorge Manuel dos Santos Dias e Luciano Augusto dos Santos Moreira. Igualmente comungamos o júbilo e a gratidão pela fidelidade dos 50 anos da vida sacerdotal dos Padres: Acácio Nunes, António de Sousa Pinto, António da Silva Mendes e José Filipe Ribeiro; e dos 25 anos da vida sacerdotal dos Padres: Manuel Freire Ramos, José Francisco de Carvalho Silva, Vítor de Carvalho Ferreira e Manuel de Jesus Cardoso de Moura. Agradecidos pelo testemunho que nos deixaram e nos estimula, sufragamos as almas dos Senhor D. Américo Henriques, Mons. Manuel Vieira Pinto, P. António Alves Gomes, P. Luís António Faustino, Mons. António Bento da Guia e Mons. Abel Ferreira Alves; e também os pais do P. Carlos Carvalho e do P. Vítor Taveira, e as mães do P. Abel Costa, do P. Adriano Cardoso, do P. Diamantino, e do P. Freire Ramos. A nossa comunhão exprime-se ainda de modo significativo, através da oração pelos nossos irmãos sacerdotes que vivem o ministério na fragilidade da doença ou da convalescença: Mons. Veríssimo, Mons. Simão, P. Joaquim Sobral, P. Antonino, P.Anselmo, P. Manuel Pinto Afonso, P. Álvaro, P. Monteiro, Mons. Amante, P. Alberto Fereira que hoje celebra o seu aniversário, P. João Ferreira, P. Manuel Pinto de Almeida, P. Acácio Nunes, C. António de Sousa Pinto e Mons. Vigário Geral, e as mães do Senhor D. António Francisco dos Santos, Mons. Pinto Guedes e do P. João Ferreira. Rezemos com o Santo Padre: Que a Mãe do Céu nos ensine a “tornarmo-nos pessoas eucarísticas e eclesiais, para podermos também nós apresentar-nos, segundo a palavra de S. Paulo «imaculados» perante o Senhor, tal como Ele nos quis desde o princípio”. Que a Mãe do Céu nos dê a graça da fidelidade às promessas que já a seguir vamos renovar. Ámen.

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