Missa Crismal em Bragança-Miranda – Servidores da alegria no mistério da água e no perfume do azeite

1. Compreender melhor o Evangelho

Hoje, na celebração solene desta Missa crismal, quando benzermos o azeite destinado aos catecúmenos, crianças ou adultos, rezaremos ao Senhor nosso Deus: «concedei a fortaleza aos catecúmenos que serão com ele ungidos, a fim de que, recebendo a sabedoria e a força do alto, compreendam melhor o Evangelho de vosso Filho, defrontem com grandeza de ânimo os trabalhos da vida cristã, e, tornados dignos da adopção de filhos, se alegrem com a graça de renascer e viver na vossa Igreja Santa».

Nesta Fonte de Liturgia, além do azeite para os catecúmenos, benzeremos o azeite para os doentes e consagraremos o azeite perfumado do Crisma para o Batismo, para a Confirmação, para a Ordenação dos Presbíteros e dos Bispos e para a Dedicação da Igreja e do Altar.

Alguns nossos coetâneos perguntam: O Baptismo é mesmo necessário para seguir Jesus e melhor compreender o Evangelho? Não é um simples rito ou cerimónia? Outros ainda, questionam: uma pessoa pode baptizar-se a si mesma? Ninguém. É um dom da Graça, ou melhor, é, como afirma o Papa Francisco «uma corrente de graça».

2. Fazei discípulos e baptizai-os no mistério da água

Jesus, ao despedir-se dos seus discípulos disse-lhes: «ide, fazei discípulos de todos os povos e baptizai-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (cf. Mt 28,19).

O rito do Baptismo dos Adultos e das crianças é constituído por dois elementos essenciais: a matéria (água) e a palavra. A água do Baptismo, observa Santo Agostinho, «toca o corpo e purifica o coração». A celebração do Baptismo não é apenas uma cerimónia, uma festa de família, um acto social. É muito mais que isso, é morte e é vida – é Páscoa. Os símbolos do Baptismo estão ligados à criação, ao dilúvio, ao mar vermelho, à morte, à cruz e também à fonte que jorra para a vida eterna.

Logo no início da Bíblia, o livro do Génesis confere ao Baptismo uma dimensão cósmica, ou seja, o sacramento da regeneração completa e aperfeiçoa o que a primeira criação começou. Santo Ambrósio observa. «Toma em consideração quão antigo é este mistério, e como foi prefigurado desde a origem do mundo. No início mesmo, quando Deus fez o céu e a terra, o Espírito, assim se lê, pairava sobre as águas. Aquele que pairava sobre as águas por acaso não agia sobre as águas?…».

Hoje, somos confrontados novamente com questões antigas e sempre actuais, acerca do Baptismo das Crianças: «é justo impor a uma criança uma religião, concretamente baptizar uma criança na Igreja católica?; não devemos deixar a criança escolher?»

Isto demonstra que já não vemos na fé cristã, a vida nova, a verdadeira e autêntica vida, mas é uma escolha entre outras. A vida é dom. A fé é dom maior. Alguém nos perguntou: «queres nascer ou não?» Como procedemos em relação à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, às artes…. Onde está o nosso sentido de pertença a Cristo e à Igreja?

Bento XVI, sublinhou-o, ao afirmar: «tornar-se cristão, num certo sentido, é passivo: eu não me faço cristão, mas é Deus quem me faz um homem seu, é Deus quem me toma pela mão e realiza a minha vida numa nova dimensão. Do mesmo modo como não sou eu que me faço viver a mim mesmo, mas é a vida que me é dada; nasci não porque me fiz homem, mas nasci porque o ser homem me foi doado. Assim também o ser cristão me é doado, é um passivo para mim, que se torna um activo na nossa, na minha vida. E este facto do passivo, de não nos fazermos cristãos sozinhos, mas de termos sido feitos por Deus, já inclui um pouco o mistério da Cruz: só morrendo para o meu egoísmo, saindo de mim mesmo, posso ser cristão»

3. Um reino de Sacerdotes para Deus

Na Constituição Lumen Gentium (LG), o Concílio, ao distinguir o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial, afirma: «o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo» (LG 10). Na mesma Constituição sobre a Igreja volta-se à fórmula: «mas é no culto ou celebração eucarística que [os sacerdotes] exercem principalmente o seu múnus sagrado; actuando nela em nome de Cristo e proclamando o seu mistério, unem as preces dos fiéis ao sacrifício do Novo Testamento, ou seja, Cristo oferecendo-se, uma vez por todas, ao Pai, como hóstia imaculada (cf. Hb 9,11-28)» (LG 28). O presbítero é sacramento da presença de Cristo na comunidade eclesial.

O exercício do ministério exige uma configuração espiritual com o mistério que se celebra. A graça do Espírito Santo comunicada pela imposição das mãos é o chamamento a esta «repraesentatio», que é identificativa do presbítero. De facto, «Todos os presbíteros, quer diocesanos quer religiosos, participam e exercem com o Bispo o sacerdócio único de Cristo; estão, pois, constituídos cooperadores providentes da ordem episcopal» (Christus Dominus 28).

A fórmula teológica e litúrgica «in persona Christi» significa que os Bispos, sucessores dos Apóstolos, e os Presbíteros seus cooperadores, são embaixadores de Cristo e falam em seu nome.

O ministério presbiteral «garante que, nos sacramentos, é de certeza Cristo que age pelo Espírito Santo em favor da Igreja (…), é o laço sacramental que liga a acção litúrgica àquilo que disseram e fizeram os Apóstolos e, por eles, ao que disse e fez o próprio Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos» (Catecismo da Igreja Católica 1120).

O presbítero «representa» a Cristo, não em função dos seus méritos pessoais, mas em virtude do ministério recebido mediante a celebração da ordenação. A representação aplica-se também à Igreja, pelo que «enquanto representa Cristo Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja, o sacerdote coloca-se, não apenas na Igreja, mas também perante a Igreja» (Pastores Dabo Vobis 16). O presbítero representa e é servidor na Alegria do Evangelho da Esperança na «Igreja mistério, comunhão e missão» (PDV 16).

Hoje, os Presbíteros renovam também esta promessa: «Quereis permanecer fiéis dispensadores dos mistérios de Deus na celebração eucarística e nas outras acções litúrgicas e desempenhar fielmente o ministério da pregação, como seguidores de Cristo, Cabeça e Pastor, sem ambicionar bens temporais, mas movidos unicamente pelo zelo das almas?»

Toca-se deste modo o mistério de Cristo e da Igreja como núcleos fundantes do mistério-ministério presbiteral. Por isso, todo o Presbítero é chamado a exercer a sua paternidade espiritual com um coração aberto e alargado, a rezar mais, a testemunhar autenticamente, a trabalhar melhor e a fazê-lo unido aos outros Presbíteros no nosso presbitério, para bem servir e amar o Povo Santo de Deus. O mistério do Presbitério não é um somatório de Presbíteros, tal como o corpo não é um somatório de membros, mas os membros só estão vivos se permanecerem unidos ao corpo.

As ocasiões de graça e de encontro são muitas: esta própria celebração, a Liturgia,  a catequese, a fraternidade sacramental, a amizade sacerdotal, a Unidade Pastoral, o Arciprestado, o Instituto Diocesano do Clero, o Seminário, casa pastoral aberta a todos, o Simpósio do Clero em Fátima, o retiro anual, a oração pessoal e comunitária, a caridade pastoral – e ajudam a fazer de nós pastores de união e de paz, inteiramente entregues ao Evangelho e ao Evangelho todo, como nos testemunha o Papa Francisco e que Deus nos livre da tentação do “mundanismo espiritual”.

«Se conhecesses o dom de Deus» (Jo 4, 5-42). Se nós conhecêssemos a alegria da gratuidade do nosso ministério que jorra da fonte do Mistério!

A todo o Presbitério oferecemos o livro-diário da inesquecível experiência eclesial sob o título: Peregrina na Diocese de Bragança-Miranda, Memórias da visita da Imagem Peregrina de Nossa senhora de Fátima – 12 a 26 de Julho de 2015 e 1 a 17 de Junho de 1949.

Como a Virgem Santa Maria Mãe da Igreja e assim renovados pelo Baptismo e ungidos pelo perfume do Espírito, compreendemos melhor o Evangelho, isto é, viveremos por Cristo, com Cristo e em Cristo.

+ José Manuel Cordeiro

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