Migrações: «Somos felizes aqui» – Ismael e Salim, dois refugiados do Sudão em Portugal (c/ áudio)

A comunidade dos Missionários da Consolata, no Cacém, abriu as portas “à oportunidade” de acolher os jovens de 19 anos

Salim e Ismael – Foto: Agência Ecclesia/SN

Lisboa, 28 set 2019 (Ecclesia) – A comunidade dos Missionários da Consolata, no Cacém, patriarcado de Lisboa, acolheu há três meses Ismael e Salim, dois jovens refugiados do Sudão, que se sentem “muito felizes” e integrados.

“Estamos há três meses em Lisboa, o grupo é muito simpático aqui na casa, todos ajudam; estou muito feliz aqui, todos meus amigos, com a ajuda do padre Ermanno e do padre Bérnard”, disseram Ismael e Salim em declarações à Agência ECCLESIA que visitou a comunidade. 

A aprender a língua portuguesa os dois jovens mostraram-se felizes por estar em Portugal, terem sido acolhidos na comunidade, estão integrados e até já têm clube de futebol preferido.

Os dois jovens só falavam árabe e havia dificuldade em se comunicarem, o futebol ajudou na integração e relacionamento com os outros jovens.

“É importante perceber o mundo do outro e o futebol foi uma boa maneira de tirar as fronteiras, foi um quebra gelo para partilhar com eles”, explica o seminarista Carlos.

A comunidade, composta por dois sacerdotes, padre Ermanno e padre Bénard, o irmão Gerardo e quatro seminaristas, acolheu bem a proposta de abrir as portas ao acolhimento.

“Era o momento de acolher estes jovens com o espírito do amor, sentirem que é uma comunidade que acolhe e dá tudo para que eles estejam felizes… é difícil a aprendizagem da língua portuguesa, eu também tive de aprender, mas eles estão decididos e o esforço que eles colocam daqui a pouco falarão bem”, conta o seminarista Delfinus, natural da Tanzânia. 

Já o irmão Gerardo, responsável pelo laboratório onde faz alguns doces e digestivos, tem a ajuda destes dois jovens.

“São duas pessoas simples e carinhosas, muito disponíveis e têm-me ajudado muito nos meus trabalhos, com boa vontade sem ser preciso pedir…”, refere.

O padre Ermanno Savarino é o responsável desta comunidade dos Missionários da Consolata que decidiu mostrar disponibilidade para acolher refugiados, entrou em contacto com o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) e assim se tornou possível a chegada de Ismael e Salim no passado mês de junho.

“É uma oportunidade que vem da atualidade, na nossa comunidade foi o desenvolvimento de uma ideia e projeto de acolhimento temporário, porque nos fazia sentido criar abertura aos refugiados, temos um protocolo de colaboração para acolher na medida do possível, dada as condições da casa”, refere.

O missionário acrescenta ainda que o que mais o marcou nestes meses, nesta aventura da “cultura do encontro que permite reconhecer que as pessoas são pessoas”, foi a “riqueza de valores e grande humanidade” dos dois jovens. 

“Aqui são dois irmãos que passam por necessidade mas que podem ser acolhidos e têm alguma coisa para dar… é marcante a grande riqueza de valores e a humanidade; a gratidão e a capacidade de se integrar sendo parte ativa da comunidade, houve logo uma grande disponibilidade, eles perceberam como a comunidade funcionava e foi natural inserirem-se nas tarefas da casa, desde lavar a louça  ou pôr a mesa”, conta o padre Ermanno. 

Dado Ismael e Salim serem dois jovens crentes e praticantes muçulmanos, “que têm ritmos próprios de oração” este tempo tem sido marcado por grande “respeito recíproco” mas também descoberta nesta experiência inter-religiosa. 

São 18 meses o tempo estimado em que os dois jovens irão permanecer na comunidade do Cacém e os desejos são de autonomia, Ismael quer estudar informática e Salim prefere um curso profissional. 

Numa experiência de acolhimento a comunidade religiosa “empurra” estes dois jovens para um futuro melhor, como deseja o irmão Gerardo.

“Eu sonho para eles que aprendam bem o português, já estão encaminhados, e que amanhã possam desenvolver uma atividade para o futuro deles e, quem sabe, o futuro das suas famílias”.

A reportagem na comunidade dos missionários da Consolata, no Cacém, vai poder ser ouvida no programa de rádio Ecclesia, na Antena 1, da rádio pública, este domingo, dia Mundial do Migrante e Refugiado, pelas 06h00, depois disponivel em agencia.ecclesia.pt

SN

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