Imigrante nasceu em Angola, há 45 anos, em pleno conflito armado, e recorda as dificuldades que sentiu em Portugal
Lisboa, 14 ago 2020 (Ecclesia) – Sara Lopes, de 45 anos, é filha de imigrantes, foi “alvo de racismo” e contou o seu testemunho de integração na sociedade portuguesa nesta Semana Nacional de Migrações.
“Recordo-me perfeitamente de ouvir a minha professora dizer a outra: – a preta é inteligente. Na altura não tive a noção do alcance do comentário. Depois começaram os insultos dos colegas, que gozavam com o meu cabelo, a minha cor e me mandavam para a minha terra”, conta no texto divulgado pela Obra Católica Portuguesa de Migrações.
Sara Lopes não se lembra da chegada a Portugal, sabe apenas que “escaparam à morte por sorte”, saiu de Angola com os pais por causa da guerra, mas ao longo do seu crescimento muitos episódios ficaram marcados, afinal frequentava o colégio onde ela e o irmão eram “as únicas crianças negras”.
“Comecei a assimilar que me viam como uma pessoa diferente apenas pelo meu tom de pele. Foram muitas as vezes que fui alvo de racismo e do que hoje chamam buliyng”, refere.
No seu testemunho Sara Lopes reforça que o racismo ainda existe em Portugal.
“Se me perguntarem se em Portugal há racismo, direi infelizmente que sim. Ainda somos olhados de lado, preteridos no que refere ao emprego e algumas vezes insultados. Existe racismo, ainda que encapuzado, pois existe a vergonha de o admitir.
Nasceu em junho de 1975, em pleno conflito armado e descendente de portugueses, “do lado paterno e materno”, Sara Lopes sempre viveu “no meio de duas culturas”.
“E isto é algo difícil de explicar. Abraço a cultura do país em que nasci, porque assim me foi incutido e estou perfeitamente integrada neste país que me acolheu. Dirão que sou “sem terra”, eu direi que tenho o melhor dos dois mundos, sem sentir a necessidade de escolher”, assinala.
A Igreja Católica em Portugal promove até 16 de agosto a Semana Nacional de Migrações, inspirada pela mensagem do Papa Francisco, ‘Forçados, como Jesus Cristo a Fugir’, procurando apresentar “testemunhos de vida” sobre a realidade das deslocações forçadas, por causa da pobreza ou da guerra.
SN