Migrações: Papa contra criação de «guetos» para migrantes e refugiados

Francisco apela a coexistência entre cristãos e muçulmanos, criticando laicidade que desvalorize religiões

Paris, 17 mai 2016 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse em entrevista ao jornal católico francês ‘La Croix’, publicada hoje, que a “pior forma” de receber migrantes e refugiados na Europa. é coloca-los num “gueto”.

“A pior forma de acolhimento é ‘guetizar’ estas pessoas. Pelo contrário, é necessário integrá-las”, afirmou.

Francisco recordou, a este respeito, que os autores dos atentados em Bruxelas eram belgas, filhos de imigrantes, que cresceramA« “num gueto”.

A entrevista aos jornalistas Guillaume Goubert e Sébastien Maillard decorreu na Casa Santa Marta, a 9 de maio.

O Papa foi questionado sobre a capacidade da Europa em acolher tantos imigrantes e respondeu que as portas “não podem ser abertas de formas irracional”, mas indicou que é necessário interrogar-se sobre questões fundamentais, como a origem da fuga de milhões de pessoas.

“Os problemas iniciais são as guerras no Médio Oriente e África e o subdesenvolvimento do continente africano, que provoca a fome”, referiu.

Francisco voltou a apontar o dedo a um sistema económico que caiu na “idolatria do dinheiro” e sustentou que “um mercado completamente livre não funciona”.

A entrevista aborda depois o tema da coexistência entre cristãos e muçulmanos, com o Papa a rejeitar o “medo do Islão”, enquanto tal, considerando que os receios se devem à ação do autoproclamado Estado Islâmico e à sua “guerra de conquista”.

Papa questiona a forma como “um modelo muito ocidental de democracia” foi exportado para países como o Iraque ou a Líbia.

“Não podemos avançar sem levar em consideração estas culturas”, observou.

Francisco pede ainda que a laicidade seja respeitadora da liberdade religiosa, incluindo a liberdade de “exteriorizar a própria fé”.

“Se uma mulher muçulmana quer usar o véu, deve poder fazê-lo, assim como um católico que queira usar um crucifixo. As pessoas devem ser livres para professar a sua fé no coração da própria cultura e não à margem dela", explicou.

O Papa lamentou, por isso, que em França haja quem, em nome da laicidade, considere as religiões como “subculturas, em vez de culturas propriamente ditas, com os seus direitos”.

OC

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top