Assessor do setor da Mobilidade dos Bispos do Brasil aponta o dedo aos países que recusam a entrada dos migrantes que “gritam nas fronteiras” pelo direito de viver e trabalhar
Lisboa, 28 set 2019 (Ecclesia) – O padre Alfredo Gonçalves, assessor do setor da Mobilidade da Comissão Nacional dos Bispos do Brasil, disse em declarações à Agência ECCLESIA, que o “migrante é o profeta e protagonista do futuro”.
“A migração é um sinal dos tempos e o migrante é profeta e protagonista do futuro: profeta porque o simples facto de migrar denuncia os países de origem que não conseguem dar uma cidadania digna e nos países de destino o migrante interpela para novas relações internacionais”, disse em declarações à Agência ECCLESIA.
O Padre Alfredo Gonçalves, sacerdote scalabriniano há 35 anos, adiantou ainda que o migrante é considerado também protagonista porque “move a História”.
“Ele move a História, quem se move, move a História, a Igreja e os Governos, somos interpelados por eles, a Humanidade está a ser interpelada pelos migrantes que nas fronteiras gritam, são vozes que querem apenas o direito de viver e trabalhar”, defende.
Também o padre Alfredo Gonçalves aos 15 anos saiu da Ilha da Madeira, com os seus pais e nove irmãos, para emigrarem para o Brasil, facto que muito o “ajudou e aproximou da realidade dos migrantes”.
Quando atualmente olha o fenómeno das migrações o sacerdote considera que houve “uma mudança de configuração e de contexto, hoje as migrações têm outro caráter”.
“As migrações de hoje têm outro caráter, nas chamadas históricas as migrações tinham um ponto de saída e de chegada, os migrantes replantavam-se noutro sítio, saíam com essa segurança, hoje não é assim, há milhares de migrantes que saem sem saber onde vão chegar, o destino é indeterminado”, aponta.
Com esta realidade o padre Alfredo diz que a “a dificuldade da migração legal aumentou a ilegalidade” e consequentemente a maior visibilidade do fenómeno migratório.
“Enquanto o capital, as mercadorias e a tecnologia têm fronteiras abertas, os migrantes que são trabalhadores têm fronteiras fechadas”, critica.
Para este dia mundial do Migrante e Refugiado, que o Papa assinala este domingo, 29 de setembro, escreveu a mensagem intitulada “Não se trata apenas de migrantes”.
Acerca desta mensagem do Papa o sacerdote acrescenta que aquele “apenas tem grande força” e trata-se dos “nossos medos e ameaças”.
“Trata-se da nossa identidade de cristãos e cidadãos, quando recusamos abrir a porta ao outro a nossa identidade empobrece é o outro que enriquece a nossa identidade, o migrante tem muito mais a dizer sobre nós do que sobre ele, é um espelho para nós”, conclui.
A entrevista completa pode ser acompanhada no programa Ecclesia, na Antena 1 da rádio pública, este domingo, dia 29 de setembro, pelas 06h00, ficando disponível depois em agencia.ecclesia.pt/radio.
SN