Migrações: «Morte de uma criança simboliza a falência do mundo» – André Costa Jorge

Diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal lamenta que debate se limite a números, em vez de olhar para as pessoas

Lisboa, 13 nov 2020 (Ecclesia) – O diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS)-Portugal lamentou “as mortes e sobretudo de um bebé” num naufrágio no Mediterrâneo, esta quarta-feira, falando num “sinal trágico”.

“Em primeiro lugar lamentar as mortes e sobretudo a morte de um bebé que é para todos os efeitos um sinal trágico de uma vida que se perde de forma tão triste e sobretudo a minha solidariedade dirige-se para os pais desta criança”, disse André Costa Jorge à Agência ECCLESIA.

O diretor do JRS Portugal, organização responsável pela coordenação-geral da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), afirmou que “a morte de uma criança, como em 2015 a morte do pequeno Aylan Kurdi, simboliza a falência de um mundo” que, como disse o Papa Francisco, “é indiferente ao sofrimento”.

A Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas alertou que duas embarcações naufragaram esta quarta-feira: numa delas estavam 120 pessoas, incluindo Josef, um bebé de seis meses que acabou por falecer, juntamente com outras 73 vítimas.

No mesmo dia, mais 20 migrantes morreram num outro barco, segundo os ‘Médicos Sem Fronteiras’.

Para o diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal, a Europa “não pode deixar que isto continue a acontecer”, e o novo pacto migratório “é decisivo para garantir que todas as pessoas são salvas e com a devida dignidade”, e não apenas para impedir que as pessoas cheguem ou para fazer triagem da mobilidade humana.

Neste contexto, exemplifica que é necessário “repensar os acordos com países como a Líbia”, de onde partiram estas pessoas, para “garantir uma abordagem humanitária” e devem ser criadas “vias legais e seguras para aceder à Europa para que as pessoas não tenham de arriscar a sua vida desta forma”.

“O meu receio é que, como também disse o Papa Francisco, quando frequentemente falamos de migrantes e deslocados muitas vezes limitamo-nos à questão do seu número: foram seis mortes, 200 pessoas resgatadas, amanhã serão outras tantas, e vamos repetindo números e não se trata de números, trata-se de pessoas”, desenvolve.

André Costa Jorge refere que esta situação está a acontecer hoje “com a população que procura proteção, que procura dignidade”, e procura também “melhorar as suas vidas” e a Europa tem “muito a ganhar com o acolhimento migratório”.

“Em Portugal, os migrantes tiveram um impacto positivo: por exemplo no ano de 2019, de 750 milhões de saldo líquido para a Segurança Social. Não é apenas aqui uma questão humanitária; trata-se de valorizar aqueles que no futuro próximo irão ser tão importantes para a Europa, observa, alertando que o continente está “a envelhecer, a esvaziar e a empobrecer”.

Foto: Lusa/EPA

“Há um grande potencial humano no acolhimento de migrantes sobretudo na Europa: têm contribuído significativamente para as economias, há falta de mão-de-obra, contribuem para a sustentabilidade dos sistemas de reformas e pensões, e temos que olhar para estas pessoas nessa perspetiva também”; sublinha.

O diretor do JRS-Portugal salienta que têm vindo a propor que “haja em primeiro lugar um olhar novo sobre as migrações” e a Europa tem que ter “a coragem e a liderança política de mobilizar os países seus vizinhos, países terceiros que fazem fronteira com a Europa, para uma nova forma de tratar os migrantes” e “transformar as migrações irregulares em migrações regulares”.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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