Investigador apresentou relatório «Casa Comum – Migrações e Desenvolvimento em Portugal»
Lisboa, 16 mai 2019 (Ecclesia) – O professor Pedro Góis, responsável pelo Estudo ‘Casa Comum – Migrações e Desenvolvimento em Portugal’, destacou o contributo dos migrantes para a sociedade e afirmou que é preciso “estar atentos e detetar casos” de quem pareça não estar “incluído socialmente”.
“A grande mudança que este estudo e esta intervenção com a Cáritas vai permitir é mudar o enfoque das políticas para as práticas e focarmos no individuo: Percebermos que temos leis geralmente bastantes progressistas, mas necessitamos ter práticas adequadas”, afirmou o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra à Agência ECCLESIA.
O documento assinala que “em Portugal, os migrantes têm claramente uma contribuição positiva para a economia”, e destaca que o aumento recente na imigração preencheu “uma falha no mercado de trabalho”, “compensou a diminuição da disponibilidade da mão-de-obra nacional”.
“Percebemos que sem essas pessoas que havia várias tarefas que não seriam preenchidas. Percebemos ainda mais fortemente a importância das migrações quando olhamos para nós próprios e quase todos temos familiares portugueses que migraram nalgum momento”, realçou, no Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa.
Pedro Gois salientou que em Portugal existem “migrações há centenas de anos” e percebe-se “a importância de cada um” quando “o médico não é português, a pessoa que varre ou a frutaria” e para além do setor económico e financeiro existe o contributo cultural, o gastronómico.
Cada um de nós pode fazer a sua parte, que é ser inclusivo à sua maneira; ajudá-los é o caminho para a sua inclusão, significa que enquanto senhorios devemos conceder-lhes habitação, enquanto empregadores contribuir para que tenham emprego, enquanto cidadãos devemos ajudá-los ser cidadãos como nós, partilhando as suas práticas e incluindo-os nas nossas vidas se isso for preciso”.
Segundo o estudo, os estrangeiros a residir em Portugal estão “em maior risco de pobreza do que os residentes portugueses”, mas, de acordo com dados oficiais, “contribuem mais para a segurança social do que recebem em benefícios sociais contradizendo assim o estereótipo de serem considerados como uma população dependente da segurança social”.
“São normalmente uma população jovem e em idade ativa, vêm para Portugal para trabalhar, não vêm para aqui para ficarem desempregados ou para viverem na pobreza, embora aconteça a alguns deles essas situações. O que fazem é encontrar um trabalho, os seus descontos, pagar os seus impostos”, esclareceu.
Sobre o acolhimento de refugiados, o docente e investigador destacou que Portugal “tem um fantástico historial de receção” e “uma boa história que demonstra que não ficam muito tempo”, porque “a maior parte regressam ou procuram outros países, mais centrais, com uma economia mais forte para se estabelecerem”.
Já o presidente da Cáritas Portuguesa destacou que há necessidade de encontro que “tem de se tornar cultura”, sendo preciso “deixar de haver medo” e existir mais informação.
“Este estudo traz isso clarissimamente: O problema que temos em Portugal relativamente às migrações é o desconhecido e uma certa estratégia que designamos de populista ou nacionalista para levar as pessoas a tomarem determinadas opções agarram aspetos que é o receio do desconhecido, estamos condenados ao encontro, a viver em conjunto e temos de trabalhar para isso”, desenvolveu Eugénio Fonseca, em declarações à Agência ECCLESIA, explicando que a “cultura faz-se criando oportunidades”.
Da Cáritas Diocesana de Beja chegou o exemplo de integração no terreno, por exemplo, através do seu Centro de Apoio à Integração de Emigrantes – CLAIM que “tentar perceber condições migrantes vivem e necessidades sentem” e está presente em Beja, Vidigueira, Cuba, Alvito, Ferreira do Alentejo e Aljustrel.
Ana Soeiro destacou também que são parceiros de um projeto do Município de Beja a “nível da mediação intercultural na área da emigração” com “procura ativa de trabalho com entidades agrícolas” e alfabetização, “que é grande constrangimento de integração na sociedade” e estão a tentar um protocolo com “alguma propriedades agrícolas” da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo “no apoio à contratação e integração”.
A Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) contribuiu para o estudo e para a exposição itinerante ‘Migrações e Desenvolvimento’ e a sua diretora destaca que neste setor “as parcerias sempre foram muito importantes”.
“A única forma de lidar com as migrações é de forma integrada e em rede. Faz todo o sentido estas parcerias dentro da Igreja e fora”, referiu Eugénia Quaresma.
A responsável considera que o relatório dá uma visão “muito completa, mais atualizada” das migrações nos últimos 10 anos e ajuda a “reconhecer a importância das soluções integradas” e que todos são necessários para “olhar para as migrações de um ponto de vista mais humanista”.
O Estudo ‘Casa Comum – Migrações e Desenvolvimento em Portugal’ foi realizado no âmbito do projeto Europeu ‘MIND – Migrações, Integrações e Desenvolvimento’.
CB/OC
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