Migrações: África deve pedir ajuda na «reestruturação da sociedade» – D. Arlindo Furtado

Primeiro cardeal cabo-verdiano considera necessário apoio dos países ocidentais

Foto: Santuário de Fátima; Cardeal D. Arlindo Furtado

Fátima, 12 ago 2018 (Ecclesia) – O cardeal cabo-verdiano D. Arlindo Furtado afirmou hoje que se deve olhar para quem “governa países que produzem migrantes forçados” e que problemas globais devem ser resolvidos “de forma global”, na apresentação da peregrinação do migrante e do refugiado.

“Os africanos devem ser adultos, seres pensantes, responsáveis para dizer precisamos da vossa ajuda, não para mandar comida, dinheiro mas ajudar a desenvolver setores profissionais, técnicos, académicos, políticos”, disse esta tarde, no Santuário de Fátima.

Para D. Arlindo Furtado, África deve pedir ajuda na “reestruturação da sociedade” aos países ocidentais, e à Europa em concreto, numa colaboração que teria “benefícios para todos”.

O prelado observou que a colonização destabilizou o “processo natural do dinamismo social, integração social” de África, que “não teve oportunidade de lutas internas” como na Europa e fazer um percurso de integração global para “ter consciência de comunidade africana”.

O cardeal da Diocese cabo-verdiana de Santiago realçou que durante muito tempo, os países ocidentais “tentaram explorar com compra a bom preço de matérias-primas, de venda de armas, intrigas políticas e militares com colocação de governantes, favorecimento de grupos coniventes com certas políticas”.

“África teve muito tempo dirigentes políticos que são uma espécie de mandatários dos grandes patrões e políticos europeus, a nível politico e económico”, comentou D. Arlindo Furtado que preside pela segunda vez à Peregrinação Aniversária de 12 e 13 de agosto, depois de 2011.

‘Cada forasteiro é ocasião de encontro – Migrantes e refugiados no caminho para Cristo’ é o tema da 46.ª Semana Nacional das Migrações, que começa hoje no santuário, promovida pela Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM), da Conferência Episcopal Portuguesa, até dia 19 de agosto.

Foto: Santuário de Fátima

A diretora da OCPM explicou que o tema foi inspirado na mensagem do Papa Francisco e “forasteiro é todo aquele vem de fora e pode não fazer parte do grupo de amigos”.

“Pode ser cada um de nós em qualquer altura da história e da vida, e quando chega é oportunidade de encontro. Cada forasteiro é oportunidade de reencontrar com humanidade; de colocar em prática o que se ousou pôr por escrito na Doutrina Social da Igreja”, acrescentou Eugénia Quaresma.

Para a responsável, a Semana Nacional das Migrações recorda que “há muito por fazer” e é necessário “reforçar e atuar o trabalho em rede, atuar na origem, nos países de transito e no destino”.

“Navegar em territórios perigosos, ousar políticas arrojadas, erradicar a guerra, pobreza, combater corrupção e ganância, promover paz e justiça para que todos os povos tenham oportunidade de desenvolvimento. Recentrar a economia na dignidade humana, promover verdadeiramente o direito a emigrar e não emigrar”; desenvolveu.

Segundo Eugénia Quaresma, “a humanidade não pode ser feliz se não aceitar que fenómeno migratório é intrínseco”.

Para D. António Marto, esta peregrinação dedicada aos migrantes e refugiados convida a “voltar a atenção para o drama humanitário” que todos assistem e é “um êxodo epocal, a uma transmigração de povos”.

“É um exército de pobres que aqui chega, após dois anos de viagem pelo norte de África. Não está em causa números, mas pessoas concretas com a sua história, a sua cultura, família, os seus sentimentos, dramas e aspirações”, realçou o cardeal de Leiria-Fátima.

O prelado criticou a colonização, a exploração de África pelas multinacionais do Ocidente, as potencias que mantém África e o Médio Oriente em “guerra permanente” e o apoio de “regimes fantoches” sem “condições de defender os direitos” das pessoas obrigadas “a partir para não morrerem fome, miséria ou vítimas da guerra”.

A peregrinação de 12 e 13 de agosto recorda a quarta Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, a 19 de Agosto de 1917, nos Valinhos, perto de Aljustrel.

O santuário informa que nas celebrações deste domingo estão inscritos 21 grupos de 12 países – Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Guiné Conacri, Iraque, Itália, Irlanda, Polónia, Portugal e do Reino Unido – para além do grupo que integra a peregrinação do migrante e refugiado.

CB

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Agência ECCLESIA

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