Messines e S. Marcos precisam de apoio laical

As duas paróquias agora visitadas pelo Bispo do Algarve, São Bartolomeu de Messines e São Marcos da Serra, estão entregues há 13 anos aos cuidados do padre Augusto de Brito. O sacerdote, analisando a realidade actual das duas comunidades, está consciente que ambas se encontram numa fase menos positiva do ciclo da sua vida. “Até ao ano jubilar tivemos um crescimento bastante acentuado ao nível da dimensão sócio-caritativa e também ao nível profético formaram-se vários grupos com animadores. A partir do ano 2000, sobretudo em 2001 e 2002, houve uma quebra muito grande na paróquia, da qual ainda estou a sofrer as consequências”, elucidou, explicando que “alguns jovens saíram e deixaram atrás de si uma divisão dentro da paróquia” que também foi notada na diminuição da participação nas Eucaristias dominicais. No entanto, “a inversão dessa tendência começou a notar-se no início deste ano pastoral”, considera o padre Augusto de Brito, reforçando que a Semana Missionária “veio dar um novo alento” e mostrando-se convencido de que “a paróquia vai ter pés para recomeçar”. Considerando que o maior entrave ao crescimento paroquial é a sua saúde debilitada, o sacerdote lamenta não ter maior capacidade para poder dinamizar as duas comunidades. Messines é a paróquia com maior área da diocese algarvia, com cerca de 250 quilómetros quadrados. A somar aos 150 quilómetros quadrados de São Marcos, o padre Augusto de Brito tem à sua responsabilidade pastoral 400 quilómetros quadrados do Algarve. “É uma diocese!”, refere com graça. De facto, a Diabetes de que sofre tem imposto um ritmo diferente ao trabalho pastoral, daquele que gostaria. A doença tem-lhe “atacado os pés, rins, fígado e olhos” , explica. No entanto, para além deste problema, o prior alerta sobretudo para a “falta de apoio de leigos que assumam fazer um trabalho de Igreja”. “Temos a Igreja com um número razoável de praticantes só que são pessoas que na maioria esmagadora não se querem comprometer. Vivem um cristianismo que se resume à prática dominical. A freguesia ainda tem muita gente que se se quisesse comprometer poderia dinamizar muita coisa”, complementa o pároco, reconhecendo que “as pessoas não têm hábito de sair à noite e durante o dia estão a trabalhar”. Este Cristianismo, que classifica de “pouco aberto”, tem sido na sua opinião “um grande entrave ao trabalho pastoral”. “As pessoas estão de tal maneira instaladas que têm dificuldade em aceitar que outras façam o mesmo que elas. E quando alguém novo aparece querem colocá-lo debaixo das suas ordens porque elas é que sabem. Há aqui algumas pessoas que querem sempre ocupar e fazer as mesmas coisas e não deixam que pessoas novas o façam”, constata, apontando a solução. “Eu neste momento ou tenho de me impor e zangar-me a sério ou então não deixarão que surja gente nova”, refere. Essa mesma mentalidade fechada é também fácil de identificar, segundo o pároco, nos diversos movi-mentos das paróquias. “Os movimentos são vários, mas não tem havido da sua parte qualquer tipo de esforço para a renovação da paróquia. Penso que isso se deve à avançada idade das pessoas e à forma como ainda vêm a Igreja”, adverte o padre Augusto de Brito, acrescentando que os movimentos “não atraem a juventude”, pois são “grupos fechados à entrada de novos elementos”. Os jovens na paróquia de Messines são um grupo com cerca de 32 elementos, 10 já crismados e 23 em preparação para receber a Confirmação. Em São Marcos a realidade é menos animadora, pois apesar de também existirem muitos jovens na localidade, aqueles que frequentam a Igreja são apenas 2 ou 3. “A paróquia tem agora duas jovens que vão receber o Crisma e que me começaram a ajudar na catequese, pois até aqui tenho estado sózinho”, afirma o prior, explicando que naquela comunidade a catequese não segue a organização habitual. “Faço a catequese por épocas intensivas e nos restantes períodos é acompanhada pela família”, concretiza. Em Messines, a situação com a catequese é um pouco melhor, embora as 8 catequistas sejam igualmente insuficientes para as mais de 100 crianças, adolescentes e jovens. Os mais novos, pré-adolescentes e adolescentes (cerca de 12), estão ainda inseridos como acólitos. Ao nível das famílias, o pároco garante que “existem muitos casais, mas a prestar um serviço à paróquia são muito poucos”. Os movimentos, equipas ou grupos de inserção das famílias também não existem. Apenas os adultos estão inseridos num grupo de catequese de adultos orientado pelo próprio pároco. Em São Marcos, os adultos são muito poucos. Assegura o prior que “a comunidade paroquial, em média, deve ter umas 30 pessoas”. “Neste momento, o trabalho pastoral resume-se praticamente à celebração dominical semanal”, elucida o pároco. 400 kms2 de comunidades dispersas entre o barrocal e a serra Uma das características destas duas paróquias é que ambas contêm várias comunidades dispersas, mas que estão organizadas de forma a reunirem-se periodicamente para aprofundar a Palavra. Conseguir garantir a assistência a todas elas é tarefa complicada para o pároco. Em plena serra algarvia, confrontando com o Alentejo, São Marcos contempla os lugares de Monte das Pitas, Sapeira, Benafátima, Boião e Azilheira. Com uma população mais envelhecida comparativamente aos da freguesia de Messines, os habitantes da serra já não têm capacidade para se deslocar sózinhos e já não vêm à sede da paróquia. Também em Messines, em pleno barrocal, existem os lugares de Cumeada, Benaciate, Calvos, Poço do Gueino, Messines de Baixo e Ribeira do Arade e neste momento, garante o pároco, “graças à Semana Missionária estão ainda a renascer mais dois que são Perna Seca e Foz do Ribeiro”. “Há épocas em que faço um esforço por ir a todos os lugares e há outras épocas em que tenho de desistir de alguns sítios para voltar mais tarde”, refere o pároco, acrescentando que “estes lugares já tiveram Eucaristia uma vez por mês e animadores que celebravam a Palavra nos restantes domingos. Neste momento têm a Celebração Eucarística presidida por mim e poucas vezes as celebrações da palavra porque faltam animadores e formação”, justifica. A assistência aos mais pobres Ao nível do sector sócio-caritativo, a paróquia de Messines faz algum trabalho sistemático de acompanhamento da comunidade cigana e de alguns outros casos. “Vamos de vez em quando medir a tensão e deixar aos mais necessitados alguma mercearia proveniente de contributos que a comunidade vai juntando ao longo do ano”, esclarece o padre Augusto de Brito, explicando que o grupo existe, mas não está organizado. No Natal este serviço é alagardo a mais casos. “Temos feito em colaboração com a Junta de Freguesia e contamos também com uma ajuda muito boa da parte da Associação de Estudantes do Instituto Jean Pia-get de Silves que nos dão um grande apoio com uma grande quantidade de géneros que eles recolhem”, refere o sacerdote, acrescentando que “também em São Marcos há um rapaz ligado à igreja que tem um grande cuidado com esse aspecto” e que o ajuda a identificar as pessoas que têm dificuldades. Pe. Augusto de Brito, uma vocação tardia, mas plenamente assumida Natural de Barão de São Miguel (concelho de Vila do Bispo), onde nasceu há quase 65 anos, o padre Augusto de Brito sempre morou em Estoi. Tendo ido para o Porto cumprir serviço militar, por lá participou num dos encontros do que viriam a ser mais tarde os Convívios Fraternos. Essa experiência acabou por fazê-lo reencontrar o caminho da fé. Acabando por ficar no Porto a trabalhar na antiga TLP (actual PT), lembra que esteve “quase casado” por duas vezes, mas a vocação sacerdotal acabou por falar mais alto e decidiu apresentar-se, já em 1985, ao então Bispo do Algarve, D. Ernesto Costa, para iniciar a formação de seminarista na cidade invicta. D. Júlio Tavares Rebimbas, na altura Bispo do Porto, deixou-o continuar a trabalhar, indo apenas aos fins-de-semana ao Seminário participar nos estudos. Paralelamente iniciou o estudo na Universidade Católica do Porto. Coincidindo com a vida de D. Manuel Madureira Dias para o Algarve, sentiu dificuldade em conciliar o trabalho com a Universidade e o serviço pastoral numa paróquia do Porto. Nessa altura, manifestou vontade em passar a seminarista interno, decisão que coincidiu com a vontade do Prelado. Ficou ano e meio no Seminário Maior do Porto como interno mas continuou a trabalhar nas férias e só se desvinculou da empresa quando foi ordenado diácono. A 8 de Dezembro de 1991 foi ordenado presbítero por D. Manuel Madureira Dias na Sé de Faro. Depois de ordenado, com a saída do padre Luís Gonzaga, ficou com as paróquias de Martinlongo, Vaqueiros e Cachopo, a que no ano seguinte se juntou o Ameixial. Ali esteve 2 anos e depois veio para Messines, acumulando somente com o Ameixial, que deixou passados alguns meses por substituir com São Marcos da Serra. De dirigente da CGTP a sacerdote Recordando o seu percurso vocacional, o padre Augusto de Brito sublinha que quando “consciência do que é ser cristão”, também se deixou sensibilizar muito pelas questões de justiça social. “Na minha empresa havia muitos casos de injustiça”, lembra. Foi então que se tornou dirigente sindical, mas garante que começou a intervir “unicamente levado pelo Evangelho” e não foi militante de qualquer partido. “Toda a minha caminhada dentro da Igreja levou-me a perder o medo de expor o que pensava. Acabei por me tornar dirigente sindical dentro da empresa (Sindicato dos Telefonistas do Norte ligado pela Federação ao Sindicato das Telecomunicações) e mais tarde convidaram-me para uma lista da Federação das Telecomunicações e depois para o Conselho Nacional da CGTP – Intersindical, fazendo parte dos chamados ‘não alinhados’ que não estavam conotados com qualquer partido”, explica. Divergências numa campanha eleitoral acabaram por ditar o seu afastamento da estrutura sindical, no entanto assegura que a sua passagem pelo mundo do trabalho é que o fez despertar para a vocação de padre. “Comecei a sentir que a Igreja não entendia o mundo do trabalho”, justifica. Confessando que se identificou com a ideologia comunista mais revolucionária, unicamente no que se refere aos direitos dos trabalhadores e no direito ao trabalho, adverte que esteve sempre ligado à Igreja. “Dentro da CGTP havia muita gente da LOC e da JOC que nunca deixaram a Igreja, mas que tinham uma postura muito diferente de posturas de outros sindicalistas”, explica, acrescentando que quando deixou o sindicalismo sentiu um “grande vazio”. “Acabava o meu horário e ficava sem nada para fazer e decidi voltar a trabalhar na paróquia a que pertencia e voltar a estudar”, complementa. Pároco recuperou património e criou condições Um dos aspectos que certamente um dia marcará a passagem do padre Augusto de Brito pelas paróquias de São Bartolomeu de Messines e São Marcos da Serra é a obra feita no que à recuperação do património se refere. Com efeito, resta-lhe apenas a recuperação da igreja de São Pedro. O Centro e Casa Paroquial de Messines, uma das mais importantes obras que empreendeu começou com um convite do Bispo diocesano de então, D. Manuel Madureira Dias. Actualmente a paróquia conta com algumas salas para catequese e reuniões. Com a obra a decorrer abateram dois telhados dos anexos da igreja. “Vimo-nos obrigados apresentar uma candidatura à CCDR para conseguir uma ajuda. Esse projecto atrasou muito e teve de ser reformulado porque entretanto mudaram governos e legislação. Só agora quando estávamos com a casa pronta, mas com uma dívida grande em cima, é que veio a aprovação dessa candidatura”, explica o pároco. Assim, está a ser restaurada mais uma sala para reuniões e catequese e os trabalhos contemplam igualmente a susbtituição das portas da igreja (arrombadas já algumas vezes) e a pintura exterior do edifício. O padre Augusto de Brito reconhece que “em termos de estruturas para o trabalho pastoral a paróquia está bem servida”. Trabalho conduzido por Samuel Mendonça

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