Mensagem de Quaresma do bispo do Algarve

MENSAGEM QUARESMAL

“Que a vossa caridade seja sincera,
detestando o mal e aderindo ao bem”
(Rm 12,9)

 

Meus caros diocesanos!

A Quaresma, tempo litúrgico único no seu apelo a uma conversão sincera à verdade do amor, proporciona-me a oportunidade de vos dirigir esta mensagem, com o convite a que aproveitemos este tempo favorável, para detestar o mal e praticar o bem. A crise que presentemente vivemos, impõe-nos o cultivo e a maturação duma consciência solidária, que nos desperte para responder ou procurar respostas para as consequências que se fazem sentir tão drasticamente entre nós, pelo facto de sermos o distrito com a mais elevada taxa de desemprego.

 

1. O apelo a uma mudança pessoal de atitudes e comportamentos, a contribuir para que o mundo, ao perto e ao longe, seja mais humano, mais justo e mais fraterno, a enveredar e a progredir no caminho do “bem, da verdade, do belo”…, surge sempre com maior ou menor intensidade e frequência no arco da vida.

O ser humano descobre, no fundo da própria consciência, uma lei que não se impôs a si mesmo, escrita por Deus, cuja voz soa na intimidade do próprio coração e o convida a fazer o bem e a evitar o mal. A consciência é o núcleo mais secreto do ser humano e o santuário onde se encontra a sós com Deus, cuja voz ressoa no seu íntimo, e lhe dá a conhecer essa lei que se realiza no amor de Deus e do próximo. Pela fidelidade a esta voz, os cristãos unem-se aos outros homens, na procura da verdade e na resposta aos problemas morais que surgem na vida individual e na comunidade social (cf GS 16).

Assim, “cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projecto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projecto que encontra a verdade sobre si mesmo e se torna livre, aderindo a ela (cf. Jo 8, 22). (…) Todos sentem o impulso interior para amar de maneira autêntica: amor e verdade nunca desaparecem de todo, porque são a vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada homem” (CV 1).

 

2. O caminho de conversão quaresmal constitui o tempo, por excelência, para medir a verdade da nossa condição de discípulos de Cristo, pela renovação das promessas baptismais, e a autenticidade das nossas opções, atitudes e comportamentos inspirados em critérios evangélicos. “Jesus Cristo purifica e liberta das nossas carências humanas a busca do amor e da verdade e desvenda-nos, em plenitude, a iniciativa de amor e o projecto de vida verdadeira que Deus preparou para nós. Em Cristo, a caridade na verdade torna-se o Rosto da sua Pessoa, uma vocação a nós dirigida para amarmos os nossos irmãos na verdade do seu projecto. De facto, Ele mesmo é a Verdade” (CV 1).

A partilha de bens, o jejum e a oração, como caminho e meios de conversão recomendados neste tempo quaresmal, revelar-se-ão tanto mais eficazes quanto mais nos conduzirem a um encontro pessoal com Cristo Ressuscitado, de modo a darmos maior verdade ao nosso testemunho cristão e mais dinamismo ao nosso empenho em transformar o mundo. “Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum que dê resposta também às suas necessidades reais. Todo o cristão é chamado a esta caridade, conforme a sua vocação e segundo as possibilidades que tem de incidência na polis” (CV 7).

A partilha dos bens e recursos contribui para o autêntico desenvolvimento, não tanto pelo progresso técnico e por relações de conveniência, mas sobretudo pela força do amor que vence o mal com o bem (CV 9). É da força deste amor que nasce a motivação para o verdadeiro jejum e o seu objectivo fundamental: quebrar cadeias injustas, desatar laços opressores, libertar cativos, destruir jugos, repartir o pão, abrigar os pobres, vestir os nus… (cf Is 58, 6).

Este amor, verdadeiro, não o produzimos nós, mas é no-lo oferecido. A oração é a sua fonte, na medida em que nos abre ao amor de Deus e nos mobiliza para os outros e para uma vida assumida e vivida como tarefa solidária e alegre. A promoção do bem comum e do desenvolvimento precisa de “cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, (…) implica atenção à vida espiritual, uma séria consideração das experiências de confiança em Deus, de fraternidade espiritual em Cristo, de entrega à providência e à misericórdia divina, de amor e de perdão, de renúncia a si mesmos, de acolhimento do próximo, de justiça e de paz. Tudo isto é indispensável para transformar os ‘corações de pedra’ em ‘corações de carne’ (Ez 36, 26), para tornar ‘divina’ e consequentemente mais digna do homem a vida sobre a terra” (CV 79).

 

3. O nosso contributo penitencial de 2010, no valor de € 33.678,39, já deduzidos 5% para o Fundo de Solidariedade da CEP, destinou-se a apoiar a reconstrução de igrejas destruídas pelo terramoto no Haiti. Este ano, como já foi divulgado, este contributo reverterá para o Fundo Diocesano Social: um Fundo de carácter emergente, criado com o objectivo de responder a situações de necessidade, causadas pela crise, e dando prioridade às situações de carência mais graves entre os desempregados. Os nossos padres, por indicação do Conselho Presbiteral, estão já a contribuir com um ordenado mensal para este Fundo, o que tem permitido à comissão nomeada, atender aos pedidos que nos têm chegado de toda a Diocese.

Todos, particulares e instituições, podem contribuir para este Fundo, através das Paróquias ou de depósito bancário (NIB 001800000617213600178). Apelo à vossa generosidade. Dirijo-me sobretudo aos Párocos para continuarem a sensibilizar e a envolver as comunidades paroquiais na resposta de “proximidade” às situações locais, como caminho de conversão quaresmal e de redescoberta do verdadeiro e concreto sentido da caridade cristã. A celebração do Ano Europeu do Voluntariado constitui, igualmente, uma ocasião propícia para combater o comodismo e criar laços com os mais necessitados, através de gestos fraternos e atitudes de serviço gratuito.

Por fim, gostaria de vos recomendar a leitura e meditação da Mensagem quaresmal do Papa Bento XVI, para este ano. Oferece-nos um oportuno e rico itinerário, percorrendo as etapas da iniciação cristã, a partir dos textos evangélicos dominicais, com o objectivo de nos proporcionar um encontro pessoal com o Ressuscitado, “em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele”.

 

+ Manuel Quintas, Bispo do Algarve

Quarta-feira de Cinzas, 09.03.2011

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