Mensagem de Natal da LOC/MTC

“Que formosos são os pés do mensageiro que apregoa a boa-nova” Is 52,7

A simplicidade e o despojamento do nascimento de Jesus revela o conhecimento de Deus acerca da humanidade. Um Deus que se esvazia do seu poder para cativar os nossos corações. Enche-se de humanidade para experimentar a nossa fragilidade. Participa das nossas indigências, acolhendo sem reservas os que têm “fome de pão, de justiça e de Deus”.

Deus sai novamente ao nosso encontro na debilidade do Menino Jesus, a partir do presépio, para, em primeiro lugar, nos escutar e ouvir os nossos clamores, participando desde o seu nascimento nas lágrimas de tantos rostos sofridos e de vidas crucificadas.

O que dizemos, de nós próprios e do mundo que habitamos, a este Menino que, sem darmos conta da sua “insondável riqueza”, temos dificuldade em deixarmo-nos surpreender pela sua mensagem suportada por uma aparente fragilidade?

Começamos por afirmar que as nossas vidas têm sido fustigadas por austeridades tempestivas, que deixam um rasto de destruição e abalam as fundações da nossa civilização.

Parece que tudo se tornou relativo, inclusive a própria pessoa humana, expressão máxima do amor de Deus.

Estamos numa noite que teima permanecer por muito mais tempo, sem ir ao encontro da madrugada e da luz do dia.

Nem sabemos se queremos passar para a outra margem, onde o desconhecido, a aventura e a imprevisibilidade são possibilidades muito fortes, mesmo reconhecendo que nesta margem onde nos encontramos há uma muralha que nos impede de olhar o futuro, de fortalecer o sentido da fraternidade.

Acontece que a dignidade humana e a justiça social encontram-se exiladas e a sua ausência tem levado multidões a procurar o êxodo, mesmo sem terem a certeza do tempo que levarão a consegui-lo.

E quem é essa multidão que foi esvaziada dos meios que possibilitam alimentar a sua boca e a sua humanidade?

São os trabalhadores, com empregos precários, mal pagos, que sofrem diariamente cortes nos direitos laborais, nos salários, nas férias e nos dias de descanso; são os desempregados de hoje e de longa duração; são os (e)imigrantes, as crianças, os jovens, as mulheres; são os idosos e pensionistas, as famílias e principalmente os casais novos que experimentam em suas vidas o empobrecimento, a instabilidade e a insegurança destes tempos, escurecidos pelo poder económico, que renega instantemente a primazia e a dignidade da pessoa humana. 

Estes clamores traduzem sofrimento mas também procuram acordar quem dorme embalado pelo destino da incapacidade.

São, igualmente, vozes de anúncio, suportadas por corações buscadores da emergente novidade trazida pelo mensageiro da boa nova. Em Jesus, Deus vem para curar as nossas feridas, reavivar a nossa esperança e lançar-nos na construção da fraternidade universal.

O natal de Jesus é, por isso, alegre notícia que vem congregar vontades, universalizar culturas, humanizar o ser humano, dar a conhecer o Deus desconhecido. Um Deus que se meteu completamente dentro da aventura humana, através da encarnação de Jesus, e que interpela todos os crentes a envolverem-se na história e a indignarem-se contra toda a forma de injustiça.

Como dizia Paulo VI, a Igreja “tem uma autêntica dimensão secular, inerente à sua íntima natureza e missão, cuja raiz mergulha no mistério do Verbo encarnado”.

Deixemos que o natal de Jesus sustente a nossa humanidade e comunique-nos um fôlego de vida, porque a sua vinda desperta o futuro e faz correr nas veias a esperança.

Dezembro de 2012

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