Mensagem de João Paulo II para o Dia Mundial das Missões

Caríssimos Irmãos e Irmãs! 1. O compromisso missionário da Igreja constitui, também neste início do terceiro milénio, uma urgência que já em outras ocasiões quis recordar. A missão, como fiz observar na Encíclica Redemptoris missio, ainda está muito longe da sua realização e, por isso mesmo, devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço (cf. n. 1). Todo o povo de Deus, em cada momento da sua peregrinação na história, é chamado a partilhar a “sede” do Redentor (cf. Jo 19,28). Esta sede de almas a salvar sempre os Santos a sentiram fortemente; basta pensar, por exemplo, em Santa Teresa de Lisieux, padroeira das missões, e em D. Daniel Comboni, grande apóstolo da África, que tive a alegria de recentemente elevar à glória dos altares. Os desafios sociais e religiosos que a humanidade enfrenta nos nossos tempos estimulam os fiéis a renovarem-se no fervor missionário. Sim! É necessário relançar com coragem a missão “ad gentes” , partindo do anúncio de Cristo, Redentor de toda criatura humana. O Congresso Eucarístico Internacional, que irá celebrar-se em Guadalajara, no México, no próximo mês de Outubro, mês missionário, será uma ocasião extraordinária para esta tomada conjunta de consciência missionária à volta da Mesa do Corpo e do Sangue de Cristo. Reunida em redor do altar, a Igreja compreende melhor a sua origem e o seu mandado missionário. “Eucaristia e Missão”, como bem realça o tema da Jornada Missionária Mundial deste ano, formam um binómio inseparável. À reflexão sobre a ligação existente entre o mistério eucarístico e mistério da Igreja, une-se este ano uma eloquente referência à Virgem Santa, graças à celebração do 150°. aniversário da definição da Imaculada Conceição (1854-2004). Contemplamos a Eucaristia com os olhos de Maria. Contando com a intercessão da Virgem, a Igreja oferece Cristo, pão da salvação, a todos os povos, para que O reconheçam e O aceitem como único Salvador. 2. Voltando idealmente ao Cenáculo, no ano passado, exactamente na Quinta-Feira Santa, assinei a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, da qual gostaria de retomar agora algumas passagens que possam ajudar-nos, caríssimos Irmãos e Irmãs, a viver com espírito eucarístico a próxima Jornada Missionária Mundial. “A Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia” (n. 26): assim escrevo, observando como a missão da Igreja se coloca em continuidade com a de Cristo (cf. Jo 20,21), e da comunhão com o seu Corpo e com o seu Sangue extrai vigor espiritual. A finalidade da Eucaristia é exactamente “a comunhão dos homens com Cristo e Nele com o Pai e com o Espírito Santo” (Ecclesia de Eucharistia, 22). Quando se participa do Sacrifício eucarístico, percebe-se com mais profundidade a universalidade da Redenção e, consequentemente, a urgência da missão da Igreja, cujo programa “se centraliza, em última análise, no próprio Cristo, que deve ser conhecido, amado, imitado, para se viver Nele a vida trinitária, e transformar com Ele a história até à sua realização na Jerusalém celeste” (ibid., 60). Ao redor de Cristo eucarístico, a Igreja cresce como povo, templo e família de Deus: una, santa, católica e apostólica. Ao mesmo tempo, compreende melhor o seu carácter de sacramento universal de salvação e de realidade visível hierarquicamente estruturada. Certamente “não se edifica nenhuma comunidade cristã, se ela não tiver por raiz e centro a celebração da Santíssima Eucaristia” (Ibid., 33; cf. Presbyterorum Ordinis, 6). No fim de cada santa Missa, quando o celebrante despede a assembleia com as palavras “Ite, Missa est”, todos devem sentir-se enviados como “missionários da Eucaristia” para difundir em qualquer ambiente o grande dom recebido. Quem, de facto, encontra Cristo na Eucaristia, não pode deixar de proclamar com a vida o amor misericordioso do Redentor. 3. Para viver da Eucaristia é preciso, além disso, consumir tempo em adoração diante do Santíssimo Sacramento, experiência que eu mesmo faço todos os dias tirando daí força, consolação e sustento (cf. Ecclesia de Eucharistia, 25). A Eucaristia, afirma o Concílio Vaticano II, “é fonte e ápice de toda a vida cristã” (Lumen Gentium, 11), “fonte e ápice de toda a evangelização” (Presbyterirum Ordinis, 5). O pão e o vinho, fruto do trabalho do homem, transformados pela força do Espírito Santo no corpo e no sangue de Cristo, tornam-se o penhor de “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1), que a Igreja anuncia na sua missão quotidiana. No Cristo, que adoramos presente no mistério eucarístico, o Pai disse a palavra definitiva sobre o homem e sobre a sua história. Poderia a Igreja realizar a própria vocação sem cultivar uma constante relação com a Eucaristia, sem se nutrir deste alimento que santifica, sem se fundamentar sobre este alicerce indispensável à sua acção missionária? Para evangelizar o mundo, necessita-se de apóstolos “peritos” na celebração, adoração e contemplação da Eucaristia. 4. Na Eucaristia, revivemos o mistério da Redenção que culmina no sacrifício do Senhor, como é salientado pelas palavras da consagração: “o meu corpo que será entregue por vós… [o] meu sangue que será derramado por vós” (Lc 22,19-20). Cristo morreu por todos; é para todos o dom da salvação, que a Eucaristia torna presente sacramentalmente no curso da história: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Este mandato é confiado aos ministros ordenados mediante o sacramento da Ordem. Para este banquete e sacrifício são convidados todos os homens, para poder assim participar da mesma vida de Cristo: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que me comer viverá por mim” (Jo 6,56-57). Alimentados por Ele, os fiéis compreendem que o compromisso missionário consiste no ser uma “oblação agradável, santificada pelo Espírito Santo” (Rm 15,16), para formarem sempre mais “um só coração e uma só alma” (At 4,32) e se tornarem testemunhas do seu amor até aos confins da terra. A Igreja, Povo de Deus peregrino ao longo dos séculos, renovando cada dia o Sacrifício do altar, espera a vinda gloriosa de Cristo. É o que proclama, após a consagração, a assembleia eucarística reunida à volta do altar. Com fé sempre renovada, ela reafirma o desejo do encontro final com Aquele que virá para realizar o seu plano de salvação universal. O Espírito Santo, com a sua acção invisível mas eficaz, guia o povo cristão neste seu itinerário espiritual quotidiano que conhece inevitáveis momentos de dificuldade e experimenta o mistério da Cruz. A Eucaristia é o conforto e o penhor da vitória definitiva para quem luta contra o mal e o pecado; é o “pão da vida” que sustenta todos aqueles que, por sua vez, se fazem “pão partido” para os irmãos, pagando por vezes até mesmo com o martírio a sua fidelidade ao Evangelho. 5. Este ano, como lembrei, ocorre o 150°. aniversário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Maria foi “redimida de um modo mais sublime em vista dos méritos de seu Filho” (Lumen Gentium, 53). Fazia notar na Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia: “Contemplando-a, conhecemos a força transformadora que a Eucaristia possui. Nela vemos o mundo renovado no amor” (n. 62). Maria, “o primeiro sacrário da história” (ibid., n. 55), indica-nos e oferece-nos Cristo, nosso Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6). Se “Igreja e Eucaristia são um binómio inseparável, o mesmo se diga do binómio Maria e Eucaristia” (Ecclesia de Eucharistia, 57). Faço votos para que a feliz coincidência do Congresso Eucarístico Internacional, com o 150°. aniversário da definição da Imaculada Conceição, ofereça aos fiéis, às paróquias e aos Institutos missionários a oportunidade de fortalecerem o seu ardor missionário, para que se mantenha viva em cada comunidade “uma verdadeira fome da Eucaristia” (ibid., n. 33). A ocasião é também propícia para recordar o contributo que as beneméritas Obras Missionárias Pontifícias oferecem à acção apostólica da Igreja. Tenho-as em grande estima e agradeço-lhes, em nome de todos, o precioso serviço que prestam à nova evangelização e à evangelização ad gentes. Convido a que as apoiem espiritual e materialmente, para que também graças à sua contribuição o anúncio do Evangelho possa chegar a todos os povos da terra. Com tais sentimentos, invocando a maternal intercessão de Maria, “Mulher eucarística”, de coração vos abençoo a todos. Cidade do Vaticano, 19 de Abril de 2004. João Paulo II

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