Menos famílias cristãs geram menos vocações

IV Fórum Nacional das Vocações centrou-se na relação entre o ambiente familiar e as opções de vida dos cristãos dos nossos dias A tão propalada “crise de vocações” na Igreja Católica não pode ser dissociada da vivência da fé nas famílias cristãs. Esta é uma das ideias marcantes do IV Fórum Nacional das Vocações, promovido pela Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios (CEVM), que decorreu no passado fim-de-semana, em Fátima. Para o secretário da CEVM, Pe. Jorge Madureira, o progressivo decréscimo das vocações no Ocidente liga-se “à diminuição do número de famílias que vivem com uma referência explícita à fé”. Falta a “compreensão da identidade vocacional enquanto família e referência ao Evangelho, mas também enquanto vivência dessa identidade que se traduz numa missão concreta na Igreja”, refere à Agência ECCLESIA. De 2000 a Dezembro de 2005, o número de sacerdotes diocesanos baixou de 3159 para 2934 (menos 225), enquanto que o clero religioso manteve praticamente o mesmo número. Os seminaristas de filosofia e teologia também são menos, segundo os últimos dados disponíveis: de 547 no ano 2000, entre diocesanos e religiosos, passou-se para 475 no ano 2005. Os participantes neste Fórum Nacional das Vocações sublinharam a necessidade de uma articulação entre a pastoral familiar e vocacional. Em alguns locais “a pastoral familiar entende que a sua principal missão é fazer despertar para o valor da família enquanto vocação e enquanto geradora de vocações”, aponta o Pe. Jorge Madureira, também director do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações do Porto, que acrescenta ser este um processo lento, que exige uma tomada de consciência que se vai fazendo, “e que vai caminhando em boa direcção”. O conferencista convidado para este encontro, Pe. Jacques Anelli – antigo responsável pelo Serviço Nacional de Vocações na França -, explica à reportagem do Programa ECCLESIA que os jovens perderam “as referências” num mundo cada vez mais secularizado e individualista. O caminho da Igreja passa, então, por propostas que “ultrapassem o imediato” e devolvam às pessoas “o objectivo do outro”. Em relação ao tema do Fórum, este especialista frisa que “a família, a Igreja doméstica, é o lugar que recapitula aquilo que é a vida cristã, ou seja, o enraizar-se numa forma de receber os outros”. “Quando se baptiza uma criança, diz-se que ela se torna filha de Deus e que, tornando-se filha de Deus, aprende a receber o dom de Deus”, acrescenta. A experiência que os mais pequenos fazem junto dos pais, “na maneira que eles têm de viver o amor pelos outros, pelas crianças, há algo da Igreja-Comunhão”. Presentes para dar o seu testemunho estiveram, do Secretariado das Vocações da Diocese do Porto, o casal Ângelo e Maria Artur, que partilharam a forma como encaram a sua missão enquanto família. “A leitura que fazem é de recebem os dons dos seus filhos e depois de um trabalho de enriquecimento humano, espiritual e de fé, entregar esses dons a Deus”. O Pe. Jorge Madureira acrescenta que muitas vocações que dão corpo à Igreja são fruto de famílias que “mesmo sem uma explícita enunciação, manifestam uma vivência de Igreja doméstica que está na base de resposta de entrega à Igreja”. A presença de Secretariados Diocesanos da Pastoral das Vocações, organismos diocesanos e nacionais da Família, da Educação Cristã, da Juventude, da Pastoral Universitária, da CIRP (religiosos) e da FNIS (institutos seculares) antevê o “reconhecimento da necessidade de uma convergência e articulação” entre os organismos eclesiais responsáveis para também “uma abertura a esta dimensão, até agora pouco desenvolvida, mas que começa a ter espaço para ser reforçada e desenvolvida”, conclui o secretário da CEVM.

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