Memórias do antigo arcebispo de Nova Iorque

Lisboa, 08 set 2011 (Ecclesia) – O 11 de setembro “foi uma tragédia terrível, um crime, mas também uma magnífica manifestação de coragem e vontade de autossacrifício”, considera o arcebispo de Nova Iorque ao tempo do atentado aos arranha-céus do World Trade Center.

Naquela manhã de 2001 o cardeal Edward Egan tinha acabado de tomar o pequeno-almoço quando o presidente da câmara, Rudy Giuliani, lhe enviou um carro da polícia para o conduzir a um dos hospitais da cidade, recorda o prelado em entrevistas publicadas nos sites da Conferência Episcopal dos EUA e do National Catholic Register.

“Vimos a primeira torre desabar. Cerca de meia hora depois foi a segunda”, refere o agora arcebispo emérito da “Grande Maçã”, acrescentando que “é impossível descrever o horror do que aconteceu”: “De repente parecia que tudo explodia à nossa volta”, e com o pó “voavam pequeníssimos pedaços de vidro e metal”.

O prelado, agora com 79 anos, esperou pelos feridos e mortos dentro do hospital administrado por religiosas pertencentes à congregação das Irmãs de Caridade, tendo junto dele um médico que, em lágrimas, lhe disse que o pai trabalhava numa das torres.

O arcebispo convidou-o a fazer uma pausa, proposta prontamente recusada: “‘Cardeal, sou médico; os feridos estão a chegar e o meu lugar é aqui’. Ficar junto a ele durante já não sei quantos dias foi como ficar junto ao melhor da nobreza de Nova Iorque”, assinala D. Edward Egan.

Meses depois, ao descrever a João Paulo II o que testemunhou do atentado que terá causado cerca de 2800 mortos, o arcebispo contou-lhe o episódio com o médico, que ainda precisava de investir muito dinheiro para completar os estudos.

“Descubra quanto lhe vai custar, que eu farei uma oferta”, disse o Papa polaco, e cerca de um mês depois um enviado de João Paulo II chegou a Nova Iorque para entregar o cheque ao médico.

Nos primeiros dias a seguir à queda das torres, o arcebispo, com cruz peitoral e máscara de gás, deslocou-se diversas vezes ao local dos atentados, acompanhado pelo seu secretário.

“Nenhum de nós falou disso a ninguém durante talvez seis anos. Foi um grande choque”, sublinha o cardeal, que de cada vez que voltava ao “ground zero”, o piso térreo das torres, enchia os bolsos de terços.

“Tentámos estar presentes, tentámos ser prestáveis. Dizia muitas vezes a mim próprio: ‘Não sou bombeiro, não sou polícia, não faço parte do pessoal de emergência. Sou um padre. E vou fazer tudo o que um padre pode fazer nestas circunstâncias’”.

Cinco dias após o ataque as atenções voltaram-se para os funerais, e o cardeal Edward Egan lembra a viúva de um dos mortos: “Estava grávida e tinha um bebé nos braços. Os seus filhos estavam a servir ao altar. Teria de ser de pedra para não ficar comovido”.

As autoridades de Nova Iorque pediram à Igreja Católica para dar apoio às famílias das vítimas mortais, bem como a outras pessoas afetadas pelos atentados, pelo que a diocese nova-iorquina convocou psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais.

“Todos oferecerem gratuitamente os seus serviços. Foi Nova Iorque no seu melhor. Foram precisos e estavam lá”, salienta o prelado, que também recorda a visita de Bento XVI à cidade em 2008, por ocasião do seu segundo centenário.

O Papa insistiu em rezar no ‘ground zero’ e após a oração o cardeal Edward Egan disse a Bento XVI que o seu gesto tinha sido a “melhor conclusão da tragédia” ocorrida sete anos antes.

RM

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