Responsável da Diocese Viana do Castelo aborda desafios do Papa para o 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais
Porto, 12 mai 2024 (Ecclesia) – O responsável pelo Secretariado da Comunicação Social na Diocese de Viana do Castelo afirmou que existe uma “certa neurose”, na informação, que “alimenta os populismos” e gera confusão no público.
“Quando existe a possibilidade de um cessar-fogo numa guerra com uma escala global, mas aquilo que abre dois telejornais é a prisão de um socialite, parece-me claro o ponto em que estamos”, refere o Padre João Basto, também diretor do jornal ‘Notícias de Viana’, em entrevista conjunta à Agência ECCLESIA e Renascença.
O responsável entende que há quem confunda jornalismo com “uma espécie de tendência permanente para o lifestyle”.
“Corremos o risco de cair num mundo em que veiculamos informação que nunca é confirmada”, acrescenta, sublinha que a falta de qualidade no jornalismo “também cria desinteresse nas pessoas”.
A entrevista é publicada e emitida no 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, este ano dedicado ao tema ‘Inteligência artificial e sabedoria do coração, para uma comunicação plenamente humana’, por decisão do Papa Francisco.
“O desafio do Papa com esta mensagem é tentar alertar para que a comunicação, nos seus amplos meios, não se torne, por influência da inteligência artificial, algo ou autorreferencial ou pseudoanónimo”, observa o padre João Basto.
Para o diretor do Secretariado Diocesano da Comunicação Social de Viana do Castelo é necessária uma “regulação” dos algoritmos.
“Devemos saber que há algoritmos que têm a chancela de grupos de comunicação, que são protegidos por esse grupo de comunicação”, assinala.
O sacerdote entende que, além dos problemas levantados, também é preciso “limpar o terreno de análise de certas leituras, muitas vezes catastrofistas, e de alguns efeitos paralisadores no uso das tecnologias”.
A entrevista aborda o momento do jornalismo em Portugal, desde os problemas ligados ao “modelo de negócio”, com dificuldades de financiamento, ao que o entrevistado denomina como “chacina” nas redações.
“Falta rua. Muitas vezes falta rua. E nota-se isso também na forma como se fala dos temas”, indica.
O responsável aborda os desafios da imprensa regional, considerando que “o financiamento público pode redundar numa espécie de viciação do trabalho jornalístico”.
“Tornar a imprensa regional dependente do financiamento público, nomeadamente do financiamento direto de instituições camarárias, direto de algumas empresas que são muitas vezes monopólios nas próprias regiões, cria dependência”, sustenta.
O padre João Basto fala ainda da relação da Igreja Católica com a Comunicação Social, referindo que “a Igreja comunica nos media, não sabe é comunicar com os media”.
“Não sabemos fazer um trabalho que não é de comunicação externa, mas é de comunicação institucional. Acho que esse trabalho nos falta”, precisa.
O responsável acrescenta que os gabinetes de comunicação devem “dar mais” aos bispos, com os recursos que têm ao seu dispor.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)