Media: Jornalismo sem análise criou espaço para os recursos da inteligência artificial

Jornalistas debateram mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em Viana do Castelo

Viana do Castelo, 24 jan 2024 (Ecclesia) – O diretor do Semanário Alto Minho disse na sessão de apresentação da Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais que a inteligência artificial está a ocupar o espaço das notícias “sem emoção” e sem “adjetivos”.

Fernando Pereira disse que os tempos em que a rádio dava as notícias e o jornal explicava já não existe e “é cada vez mais difícil fazer jornalismo assim”.

“Os jornais deixaram de analisar, de explicar, de justificar os acontecimentos. Limitaram-se a antecipar a chegada da inteligência artificial”, afirmou o diretor do Semanário Alto Minho.

Para Fernando Pereira, é necessário fazer jornalismo com interpretação, com emoção e com adjetivos, o que não significa “ser tendencioso”.

“Usar um adjetivo não é deixar de ser isento”, afirmou.

A sessão de apresentação da mensagem do Papa par ao Dia Mundial das Comunicações Sociais, que tem por tema “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”, que decorreu no Seminário de Viana do Castelo, contou com um momento de debate entre jornalistas sobre os desafios que a inteligência artificial coloca à profissão.

O debate foi introduzido por uma comunicação vídeo de Daniel Catalão, jornalista da RTP, e por uma comunicação de Octávio Carmo, chefe de redação da Agência ECCLESIA.

“O que o jornalismo humano tem de diferente da inteligência artificial é a capacidade de colher o intangível”, afirmou o vaticanista da Agência ECCLESIA.

Octávio Carmo referiu que “a inteligência artificial responde ao que é confortável para maioria das pessoas, para a bolha a quem ela se destina”, sublinhando que o que distingue o humano “passa pelo que não se vê e o que não se mede”.

“O amor, o coração, o que nos faz iguais nas dores de cada dia é um desafio que não pode ser artificializado e convoca o jornalismo humano”, afirmou.

“A questão da comunicação nunca será eminentemente uma questão tecnológica, é uma questão humana”.

Octávio Carmo disse que “a perda do sentido de comunidade, alimentada pela inteligência artificial, é efetivamente um dos maiores perigos que é possível identificar”, referindo as potencialidades da imprensa regional nesta área.

“À capacidade de criar comunidade – que a inteligência artificial não pode assegurar -, a imprensa regional soma outra possibilidade de ser que a hipervelocidade mediática é incapaz de assegurar: a memória”, afirmou.

O jornalista da Agência ECCLESIA referiu-se à insubstituível “mediação jornalística” e alertou para os perigos do “consumo imediato e fugaz” da comunicação.

“Com ou sem tecnologias ‘revolucionárias’ de inteligência artificial, a questão de fundo é sempre antropológica e não técnica. A comunicação é humana, acima de tudo. É fundamental que o jornalismo recupere o seu papel de mediação em nome do restabelecimento da memória e de um maior conhecimento, numa relação de confiança com os seus leitores”, sublinhou.

D. João Lavrador, bispo de Viana do Castelo, na abertura da sessão, afirmou que a comunicação é “uma causa comum” e a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz propõe uma reflexão sobre o que pode se rum “meio ótimo” para comunicar, alertando para os “perigos” que pode trazer, sublinhando a necessidade de “crescer em humanidade”.

A sessão de apresentação da Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é promovida no dia 24 de janeiro de cada ano, quando é divulgada pela Santa Sé, numa diocese diferente do país pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais; em 2025, será assinalado em Roma, na celebração do Jubileu dos Jornalistas.

PR

Comunicações Sociais: «Inteligência Artificial vai ser um grande avanço, mas não podemos perder a humanização» – Daniel Catalão (c/vídeo)

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