Mas que nível meu Deus!

Portugal subiu, segundo relatório de Julho de 2003 (com dados referentes a 2001), de 28º para 23º lugar no ranking do desenvolvimento. Os portugueses têm no entanto muito a melhorar em termos de literacia pois metade das pessoas entre os 15 e os 65 anos de idade são “funcionalmente analfabetas”. A nível de emprego, o país estava bem colocado. A propagação acelerada da sida é um dos problemas graves do país, em que a taxa era a mais elevada da União Europeia, assim como a da tuberculose. A nível de telemóveis registamos uma das taxas mais elevadas de assinantes, o que não sei se nos dignifica ou se exprime a nossa mania de sermos modernos e continuarmos a ser incorrigíveis gastadores, mesmo sem nível de vida capaz para grandes acrobacias económicas. Todos sabemos que nos últimos dois anos a economia mundial entrou em recessão. Também o nosso país sofreu e vem sofrendo com a crise externa e interna provocada pela má governação anterior, em que perdulariamente parecia haver dinheiro para tudo e para todos. Esbanjou-se. Recebiam os que precisavam e os que não precisavam. Melhor, não recebiam os pobres que precisavam, que a pobreza envergonhada ainda existe em muitas terras do interior deste país, praticamente desconhecido lá fora. Em países da própria União Europeia, quase desconhecem Portugal, e até sai a pergunta malévola ou ingénua “onde fica isso?”, “será na Espanha?”. Neste momento sinto a necessiadde de chamar a atenção para o relatório supracitado quando diz “os portugueses têm muito a melhorar em termos de literacia”. Creio que é mesmo verdade. Em dois dedos de conversa, lendo as páginas dos jornais, vendo programas de Televisão, ouvindo discursos dos mais variados jaezes, ficamos mesmo com a sensação de que o nosso nível é baixo em literacia: analfabetismo literário e a nível profissional e funcional. Até em discursos políticos de mobilização partidária, passam alguns dos nossos políticos a dizerem sistematicamente mal uns dos outros, sobretudo do governo, chamando-lhe nomes “feios” como “hipócritas, reaccionários, mentirosos, atrasados nos campos da saúde, da educação, da assistência”. Até as calamidades naturais como os incêndios, muitos de origem criminosa, servem para dizer que o governo será obrigado a ter um dispositivo capaz de suster dilúvios e poder mandar soberana e eficazmente apagar os incêndios que mãos inimigas ateiam a seu bel prazer! Mas na própria Assembleia da República temos assistido a autênticas guerras sujas de palavras, de insultos, de “palavrões” que nada dignificam o areópago e muito menos quem as profere com raiva e sanha. Bem se diz que não é quem fala alto – e por falar alto – que tem razão! Muitas vezes até a perde! Quem tem razão fala com serenidade, dialoga e está presente na discussão dos problemas para nela participar. Os deputados são escolhidos pelo povo para estar presentes e não para faltarem justificando a ausência com idas ao futebol ou a outros lados. Seriedade. Multas por faltas deviam ser desnecessárias, pois a pessoa responsável se falta é porque tem motivo justificável, que nem sequer devia precisar de apresentar! Assim é noutros países. Mas será isto possível em Portugal? Reservo-me o direito da dúvida. Armando Soares C. Bonjardim, 08.09.03

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