Mar: Mestre do «Virgem do Sameiro» diz que naufrágio mudou a sua vida

José Manuel Coentrão sublinhou importância da fé durante as 60 horas em que tripulação esperou para ser salva

Fátima, Santarém, 13 fev 2012 (Ecclesia) – O mestre do pesqueiro ‘Virgem do Sameiro’, que durante três dias foi dado como desaparecido após naufrágio, diz que a sua maneira de ser e pensar mudou “totalmente” após o incidente ocorrido em novembro.

“Há coisas que valorizava muito e que hoje talvez não lhes dê tanto valor, como ter um carro ou uma casa. Há coisas muito melhores na vida”, afirmou José Manuel Coentrão à ECCLESIA, à margem de um encontro espiritual realizado entre sexta-feira e domingo em Fátima.

O pescador que participou pela primeira vez no retiro anual promovido pelo movimento católico Apostolado do Mar contou que antes do sinistro “andava um bocado perdido” e que após o incidente passou a ter “mais convivência com a família” e “maior aproximação” ao seu filho.

Ao recordar as horas passadas no mar com a tripulação na balsa de salvamento, de 29 de novembro a 2 de dezembro, a cerca de duas dezenas de quilómetros a noroeste do cabo Mondego, José Manuel Coentrão referiu que “a fé esteve sempre presente”, tendo sido ela que, na sua opinião, “salvou” os pescadores.

O chefe do barco, da paróquia de Vila do Conde, recordou que rezava o terço nos “longos períodos de silêncio”, tendo várias vezes apelado aos pescadores “para não desanimarem”: “Dei-lhes muita coragem”.

“Começava a rezar em voz muito alta, o que fazia com que também rezassem. Era uma maneira não só de ocupar o tempo mas também de lhes dar força interior, para não se irem abaixo”, recordou José Coentrão, acrescentando que os seus companheiros “são pessoas de fé”, mas como são “tímidos” não o manifestam.

O título do retiro realizado no Santuário de Fátima, “Salvos na Esperança”, constituiu um “tema que tem muito a ver com a situação social em Portugal e na área da atividade das pescas”, explicou o padre Sílvio Couto, diretor nacional do Apostolado do Mar.

Referindo-se à espiritualidade dos pescadores o sacerdote sublinhou que “às vezes o mar também é abismo, e andar sobre o abismo pode trazer a condição da fé, e concretamente a condição de crença, que muitos têm de uma forma mais clara ou mais tácita”.

O relatório final sobre o afundamento do pesqueiro “Virgem do Sameiro”, cujas conclusões surgiram esta sexta-feira na comunicação social, não determinou o motivo da inundação que causou o naufrágio.

O documento a que a Lusa teve acesso refere que José Manuel Coentrão, “por ficar aflito, não emitiu qualquer comunicação de socorro, urgência ou segurança via rádio VHF ou outra via”, o que dificultou a localização do naufrágio e o salvamento.

Segundo o relatório, a “prioridade” do mestre “foi a salvaguarda da vida humana” e “manter a ordem entre os tripulantes”, tendo organizado “o embarque em segurança na jangada pneumática”, onde os seis pescadores viriam a ser encontrados, à deriva, a cerca de 17 quilómetros do naufrágio.

PTE/RJM

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Agência ECCLESIA

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