Manuela Silva: o visível sente-se quando nos transforma

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Quando estamos bem, há muitas coisas que são invisíveis para nós e passam-nos despercebidas. Por exemplo, o estômago é invisível para nós até sentirmos alguma dor. A dor é apenas um sintoma de que algo não está bem e precisa de mudar. Manuela Silva era uma mulher com uma grande sensibilidade às dores e nunca se retraiu de nos alertar para os sintomas, ajudando-nos através dos seus escritos a sentir e ver os dramas da humanidade.

No final do ano passado tive oportunidade de trabalhar com com a Professora Manuela Silva na edição do seu último livro;, ainda invisível para muitos, intitulado ”Resiliência, Criatividade, Beleza” e editado pela Cidade Nova, associada ao Movimento dos Focolares, por quem demonstrou sempre um grande afecto.

Não é por acaso que acrescentei “Professora” antes do seu nome. Quando uma pessoa leva uma vida a ensinar-nos com o seu testemunho e pensamento, tornando a nossa aprendizagem a sua missão, “Professora” é o nome que revela a sua vocação, ao modo do Antigo Testamento.

Os pensamentos que recolhe neste último livro estão organizados em quatro partes. Na primeira parte, Manuela Silva convida-nos a “Escutar o Presente”. Escutar. Presente. Duas palavras fundamentais, hoje, cuja distracção com o banal ensurdece e afasta-nos do presente. Daí que Manuela questione

”Reconhecendo que estamos a entrar numa nova era, a era digital, saberemos, pela palavra e pelo nosso agir, ser mensageiro de esperança?”

Creio que esta primeira parte ajuda-nos a descobrir a resposta.

Na segunda parte, Manuela Silva leva-nos ”Ao Encontro das Fontes”, de modo a encontrarmos as nossas raízes e entender que o presente assenta no contínuo do passado antes de nos projectar em direcção ao futuro. É aqui que introduz a necessidade de reflectir mais sobre ”resiliência e criatividade em nome da beleza e da felicidade.”

Na terceira parte, entramos na questão mais actual e premente que a humanidade enfrenta – o ”Cuidar da Casa Comum”, – ensinando-nos a procurar usar a escuta do presente e o resultado do encontro com as fontes para transformar o nosso estilo de vida num que torne o nosso futuro e o do planeta mais sustentável. Pois,

”Precisamos de nos mudar a nós mesmos: aprender a deixar o nosso ego individualista e presa de prazeres superficiais; alargar a nossa condição relacional, de modo a dar espaço ao outro e a respeitar a diferença;”

Por fim, convida-nos a um ”Agir Aberto e Construtivo” porque o futuro é sempre melhor do que qualquer passado se deixar que o caminho resiliente, abra a mente criativa à beleza proveniente dos gestos pequenos e concretos que tornam, todos os dias, o mundo melhor do que estava. É esse o seu convite,

”a acolher o desafio de que cada dia traz consido a ocasião de viver para sempre e para tal aceitarmos percorrer o caminho do amor que é o seu fundamento.”

Um livro é um modo de alguém permanecer connosco para sempre. Neste seu último livro, Manuela Silva fez-se dom-de-si para continuar a transformar as nossas vidas e ajudar-nos a reencontrar o sentido e significado de viver.

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Agência ECCLESIA

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