Malta: Papa alerta para religiosidade de aparências e pede acolhimento aos mais pobres

Francisco visita santuário mariano na ilha de Gozo, um dos principais locais de culto do país

Ta’ Pinu, Malta, 02 abr 2022 (Ecclesia) – O Papa visitou hoje o santuário maltês de Ta’ Pinu, na ilha de Gozo, onde alertou para uma religiosidade de aparências, pedindo acolhimento para os mais pobres e quem atravessa o Mediterrâneo.

“O culto a Deus passa pela proximidade ao irmão”, destacou Francisco, perante milhares de pessoas, num dos países com maior percentagem de católicos, na Europa.

A intervenção apelou a uma Igreja aberta, atenta aos “muitos irmãos e irmãs que sofrem e são crucificados pelo sofrimento, a miséria, a pobreza e a violência”, e capaz de “desenvolver a arte do acolhimento”.

“Encontrais-vos numa posição geográfica crucial, que abre para o Mediterrâneo como polo de atração e cais de salvação para muitas pessoas em balia das tempestades da vida, que, por diferentes motivos, chegam às vossas costas. No rosto destes pobres, é o próprio Cristo que se apresenta a vós”, destacou.

No primeiro dos dois dias de viagem a Malta, Francisco sustentou que os católicos devem “acolher, ser peritos em humanidade, acender fogueiras de ternura quando o frio da vida paira sobre aqueles que sofrem”.

O Papa, que tem vários colaboradores malteses, elogiou uma “ilha pequena mas de coração grande”, que considerou “um tesouro na Igreja e para a Igreja”.

“Quero dizer-vos um obrigado especial: aos numerosos missionários malteses que espalham a alegria do Evangelho por todo o mundo, aos inúmeros sacerdotes, às religiosas e aos religiosos e a todos vós”, acrescentou.

Falando à multidão que o recebeu na praça do santuário, num clima de festa, Francisco convidou todos a “voltar à essência do Cristianismo”.

“Ao amor de Deus, motor da nossa alegria, que nos faz sair e percorrer as estradas do mundo; e ao acolhimento do próximo, que é o nosso mais simples e belo testemunho no mundo”, precisou.

Francisco, que se desloca com visíveis dificuldades, foi acompanhado pelo cardeal maltês D. Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, o arcebispo de Malta, D. Charles Jude Scicluna, e o bispo de Gozo, D. Anthony Teuma.

O Papa evocou a passagem por esta antiga capela, que se tornou santuário nacional, de São João Paulo II, cujo aniversário de morte se assinala hoje.

O discurso identificou sinais de “crise da fé”, de “apatia da prática religiosa”, sobretudo no pós-pandemia, e de indiferença de muitos jovens.

“Não nos pode bastar uma fé feita de usos e costumes recebidos por tradição, de celebrações solenes, belas iniciativas populares, momentos fortes e emocionantes; precisamos duma fé fundada e renovada no encontro pessoal com Cristo, na escuta diária da sua Palavra, na ativa colaboração na vida da Igreja, na alma da piedade popular”, sublinhou.

Nem sempre a elegante amostra de vestes religiosas corresponde a uma fé viva animada pelo dinamismo da evangelização. É preciso vigiar para que as práticas religiosas não se reduzam à repetição dum repertório do passado, mas expressem uma fé viva, aberta, que difunda a alegria do Evangelho”.

Francisco cumpriu a tradição de recitar três Ave-Maria, neste santuário, como fazem os peregrinos locais, rezando para que a Virgem “reacenda nos seus filhos o fogo da missão e o desejo de cuidar uns dos outros”.

No interior do templo, onde cumprimentou um grupo de pessoas doentes, o Papa ofereceu uma Rosa de Ouro, que colocou junto da imagem de Nossa Senhora – esta é uma oferta exclusiva dos pontífices, com o qual mostram a sua devoção a Maria -, rezando depois em silêncio.

Foto: Vatican Media

Durante o encontro, Francisco ouviu testemunhos de quatro católicos malteses, entre eles o casal Sandi e Domenico Apap, que abordaram a experiência de viver com esclerose múltipla, diagnosticada à mulher, em cadeira de rodas; os dois estão casados há 29 anos.

As viagens entre as ilhas de Malta e Gozo foram feitas pelo Papa num catamarã, demorando cerca de uma hora.

O programa da viagem continua este domingo, com uma vista à gruta de São Paulo, uma Missa ao ar livre e um encontro final, num centro para migrantes.

OC

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Agência ECCLESIA

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