O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, considera que as dioceses “terão de investir muito mais” na sua acção junto do mundo cultural.
“Hoje a cultura domina a maneira de nos integrarmos e vivermos em sociedade e também na Igreja”, assinala.
Para D. Jorge Ortiga, a Igreja tem “necessariamente” de estar presente nesse mundo, fazendo a proposta de “uma visão evangélica”.
Os Bispos portugueses reuniram-se esta semana, em Fátima, para as Jornadas Pastorais do Episcopado, dedicadas ao tema “Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal – Interpelações socioculturais”.
Em declarações ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), o Arcebispo de Braga pronunciou-se sobre o “papel primordial” deste trabalho específico na renovação das estruturas eclesiais, tendo considerado que naquele sector.
Este responsável salientou igualmente o contributo específico que o catolicismo pode dar ao debate sobre a “Igualdade”, tema da próxima Jornada da Pastoral da Cultura, agendada para 25 de Junho, em Fátima.
Já o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo, diz que o “discurso de respeito com a cultura” que é proferido por responsáveis de algumas dioceses “é totalmente aniquilado” pelo fraco investimento nessa dimensão.
Em entrevista ao SNPC, o vogal da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais sublinha que as raízes culturais são a base da liturgia e da acção social, que sem aqueles fundamentos podem ficar reduzidas “a folclore ou a uma filantropia”.
Também o Bispo Auxiliar de Braga, D. Manuel Linda, considera que “as dioceses não acompanham o dinamismo do Secretariado Nacional”.
“Na orgânica das dioceses, na sua programação e no âmbito específico da cultura não lhe damos o relevo que ela merece”, refere o prelado, que aponta o dedo ao predomínio dos sacerdotes na vida eclesial.
“Infelizmente ainda estamos numa Igreja demasiado clericalizada. Confia-se a Pastoral da Cultura a sacerdotes que não têm mãos a medir. Eu próprio, na minha diocese de origem (Vila Real, ndr), como padre, era também responsável por esse sector”, afirma o Bispo Auxiliar de Braga, que antes da ordenação episcopal foi um dos primeiros referentes do sector.
Em declarações ao SNPC, D. Manuel Linda considerou ainda que há falta de sintonia na Igreja no que se refere à Pastoral da Cultura: “Parece que as dioceses, de forma geral, estão muito desfasadas do dinamismo e do âmbito que se conseguiu imprimir ao Secretariado Nacional”.
O bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, considera que a Pastoral da Cultura está a crescer na Igreja portuguesa, “mas não em todas as dioceses”.
O vogal da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais saúda o facto de “pouco a pouco”, se estar a formar a consciência de que há uma acção pastoral a desenvolver neste âmbito.
Depois do “chamado o divórcio entre fé e cultura”, que chegou ao século XX, a Igreja procura agora operar “a reconciliação através de um diálogo aberto”.
“Não só fazemos pontes, como há cristãos em cada vez maior número – comunicadores, artistas, músicos, cantores – que além de ponte, são uma presença. É preciso apoiá-los, reuni-los, sugerir-lhes gestos. É isto a Pastoral da Cultura”, sublinha D. Albino Cleto.