Madre Teresa: um símbolo do Pontificado de João Paulo II

Foi tradutor e viajou com Madre Teresa de Calcutá até ao Santuário de Fátima. Referimo-nos ao Pe. Peter Stilwell, director da Faculdade de Teologia da UCP, que considera a próxima beata da Igreja um símbolo do Pontificado de João Paulo II Agência ECCLESIA – No início da década de oitenta teve o privilégio de contactar directamente com Madre Teresa de Calcutá. Pode recordar-nos alguns momentos mais marcantes desse contacto, especialmente a viagem Lisboa – santuário de Fátima? Peter Stilwell – Lembro-me de Madre Teresa de Calcutá referir que como tinha pouco tempo normalmente não frequentava santuários. Mas como o Santo Padre lhe tinha recomendado que ela fosse aquele santuário, ela, por obediência, foi a Fátima. Lembro-me também de ter gostado imenso daquele santuário, rezou na capelinha e foi acolhida pelo Bispo de Leiria-Fátima. AE – Ela sublinhou o porquê de não ir, com frequência, a santuários? PS – Por causa da urgência do trabalho que tinha e do pouco tempo disponível. Como o seu trabalho era com os mais pobres dos pobres, aqueles que estavam a morrer de fome, o tempo não chegava. O lugar primário da sua actuação eram os pobres. AE – Esteve com ela em Setúbal e fez esta célebre viagem. Qual o momento mais marcante? PS – Acima de tudo, o convívio com ela. A simplicidade da sua pessoa, que não tinha nenhum artifício, marcou-me também. No trato com as suas irmãs não tinha nada de Madre Superiora. Era uma mãe ou avó para as suas irmãs. AE – Concerteza fez-lhe algumas perguntas? PS – Como eu era um jovem padre e estava a fazer de tradutor, perguntou-me sobre a vida da Igreja e da vida dos padres. AE – Dos padres portugueses ou sentido genérico? PS – Dos padres em Portugal e de alguns padres que ela conhecia e das dificuldades que atravessavam. AE – Tinha referências da Igreja Portuguesa? PS – Sim. Ela veio a convite da Igreja Portuguesa. Nessa altura já havia, em Portugal, irmãs a estabelecer uma comunidade. AE – Fez perguntas em relação à sociedade portuguesa? PS – Quis saber o que se passava ao nível da situação sócio-politica. E mostrou curiosidade em saber a situação dos pobres porque, convém recordar, não estávamos muito longe do 25 de Abril. Nessa altura ainda não recebíamos dinheiros da Europa para o desenvolvimento. Havia manchas de pobreza; ainda hoje existem, mas naquele tempo eram mais gritantes. AE – Consigo foi o primeiro contacto? PS – Não. Ela a mim não me conhecia mas eu conhecia-a dos meus tempos de Roma. Lá, colaborava com a comunidade de Madre Teresa de Calcutá. AE – O que a tornava diferente? PS – Era o ser igual… AE – Mas nem todos conseguem ter íman para atrair tanta gente? PS – Era uma pessoa pequena mas cheia de energia, muita frontalidade e uma grande convicção. Sentia-se que a sua convicção nascia da sua fé. A sua vida era centrada não numa opção ideológica, que na altura era frequente, mas nos pobres. Para além desta preocupação, no centro da vida das irmãs está a adoração do Santíssimo. AE – O mundo contemporâneo sente falta destes símbolos? PS – Há no mundo muitas pessoas como a Madre Teresa de Calcutá. Muitos que dedicam a sua vida aos mais pobres AE – Mas não têm o carisma dela? PS – Foi o lugar que o Senhor lhe deu. Mas há muitos que trabalham de forma apagada fazendo aquilo que Madre Teresa dizia. AE – Um trabalho em prol dos mais desfavorecidos que a leva rapidamente ao altares? PS – João Paulo II conhecia-a pessoalmente. Ela, para ele, simbolizava um elemento importante do seu pontificado nesta atenção para com os pobres e na preocupação social. Muitas vezes, fala-se de João Paulo II em termos das questões doutrinais e morais mas esquece-se que, em termos das suas encíclicas sociais e termos dos apelos que ele dirigiu, foi muito claro e muito interpelante para indivíduos, governos e nações. Não é por acaso que o Papa chamou as irmãs que, no tempo de Paulo VI, trabalhavam numa casa ligada à Santa Sé, no centro de Roma, para trabalharem dentro do Vaticano. Era o sinal, no Vaticano, dessa atenção da Igreja aos mais pobres. AE – Sente-se um privilegiado em ter contactado directamente com a próxima beata da Igreja? PS – É curioso ter na minha memória um contacto interpessoal com alguém que é beatificado.

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